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Lyrios, que abrindo o seio ao osculo amoroso Da luz que envia o sol da abbobada azulada, Mandaes-lhe o vosso olor no ether luminoso, Como o habito subtil d'uma alma enamorada: A musica e o perfume Que desprendeis, votae A quem em si resume O mundo inteiro e é Pae!
Asa longinqua a sacudir loucura, Nuvem precoce de subtil vapor, Ansia revolta de misterio e olor, Sombra, vertigem, ascensão Altura! E eu dou-me todo neste fim de tarde Á espira aerea que me eleva aos cumes. Doido de esfinges o horizonte arde, Mas fico ileso entre clarões e gumes!... Miragem rôxa de nimbado encanto Sinto os meus olhos a volver-se em espaço!
Alli, á meia luz que dava através da porta envidraçada o candieiro de petroline da sala, os cortinados de cambraia e as saias dependuradas tomavam brancuras celestes de nuvem; o cheiro dos pós d'arroz excedia em doçura o olor dos junquilhos mysticos; eu estava no céo, eu era S. Theodorico; e sobre os hombros nús da minha amada desenrolavam-se as madeixas do seu cabello negro, forte e duro como a cauda d'um corcel de guerra.
Os convivas eram Nuno, Apollo, Venus, adolescentes morenos de culpa, que fui resgatar ao inferno catholico; Sebastião, o ephebo-martyr; Edgar muito discreto e lindo no seu nu côr de tocha; Ruy, abraçado a Nuno, a afogá-lo no mar de luz do seu olhar velludento, verde de vicio; Helen, feita sereia vegetal, erguendo a cabeça airosa e loira dentre petalas de açucena; finalmente a Hermaphrodita, a Penedia enorme, que vi espreguiçar-se, mover o peito, as coxas de gran, e levantar-se, suprema, para vir tambem tomar parte na refeição, penetrar-se da essencia, do olor das rosas.
Oh canto pela noite, em prantos marulhado, Memoria em cujo olor ha mortas primaveras, Pelos astros, o Espaço cadenciado, Ungido pela benção das Esferas, Falas da minha raça, dos profetas Invectivando o Mar, De moiros pela areia, cujas setas Eram menos mortiferas que o olhar! Oh rithmo das oitavas Nas veias do meu sangue a tumultuar! Oh lyra de Camões, accordes de ondas bravas!
Serenadas debaixo das janellas, E escondida no pó da sepultura Terás medo dos olhos das estrellas! Hontem, rojando estofos ruidosos, Inclinada e indolente sobre o braço, Comtemplavas com olhos cubiçosos, As contorsões e saltos d'um palhaço. E eu suffocando dentro os meus anhelos, Soluçava d'amor, ó crua filha, E exaltava-me o olor dos teus cabellos, Onde escorrem perfumes de Manilha.
Nós que, longe da terra, ao vulgo extranhos, vivemos facil vida anachoreta por solidões de imaginario mundo; que os loiros para nós por nós plantados ouvimos sussurrar por sobre o colmo da ermidinha onde as musas nos visitam; nós, nós, a quem deu alma a Natureza, não terrea, não mortal, não simples alma, de instinctos animaes fugaz composto, mas generosa, esplendida, sublime, mixto da etherea luz, do olor das rosas, do gorgeio do cysne, e do profundo bramir do Oceano, e do beijar das rolas, e do albor melancolico da lua, e da calma do estio, e das sonoras bafagens tuas, Héspero, e do lume trémulo e scismador dos longes astros, não pomos preço vil ao que é sem preço.
Gela meu ser ao sorriso terrest'e das virgens, que reflecte a tarde a rescender do olor de Pan! ... E o olhar dóe por no o esconder do ceo; pois para toda a alma dormir, do bello, o serafico azul é como um pezadêlo!
Vamos primeiro ao mercado? Vamos lá, minha cecem. Tu que levas no cestinho? Levas ovos ao vintem? Ou então são alguns patos. Que vaes ver se quer alguem? Não senhor; é outra cousa, Muito melhor, muito além. Diz-me cá: então são uvas, Ou de Baccho o seu primor? Eu não divulgo o segredo Em paga de tanto amor. Diz-me então se são gallinhas, Se são rosas sem olor?
De repente, ao tomar a terceira peonia de nectar, senti-me entontecida, deliciosa e horrivelmente nauseada! Era o olor das rosas, a essencia do nectar, dos fructos, daquella Carne tocada do genio dos divinos oleiros, o perfume das taças, tudo a perturbar-me! Evoquei os Deuses e acordei ao grito da sua voz, que era a voz da minha queixa!
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