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Vamos primeiro á historia do ultimo senhor da honra do Real de Oleiros respondeu o abbade, e continuou: Não sei onde nem quando morreu Sebastião Pacheco de Andrade, o filho segundo do capitão-mór. Ouvi, porém, dizer que morrêra novo, pobre e deshonrado.

Esculpiu-a um desconhecido artista: mas não são totalmente desconhecidos tambem para nós, os pobres oleiros que amassaram e modelaram as lindas estatuas encontradas nos tumulos de Tanagra e não são tambem ellas a poesia, o encanto, o velado mysterio, a ineffavel graça?

Para alêm da porta de S. Mauros, depois de alguns casebres de oleiros, o caminho seguia, esguio e negro, entre altas piteiras. Por trás das colinas, ao fundo da planície escura, subia o primeiro clarão, amarelo e lânguido, da lua cheia, ainda escondida. E D. Rui marchava a passo, receando chegar a Cabril muito cedo, antes que as aias e os moços findassem o serão e o rosário. ¿Porque não lhe marcara D. Leonor a hora, naquela carta tam clara e tam pensada? Então a sua imaginação corria adiante, rompia pelo jardim de Cabril, galgava aladamente a escada prometida e êle largava tambêm atrás, numa carreira sôfrega, que arrancava as pedras do caminho mal junto. Depois sofreava o cavalo ofegante. Era cedo, era cedo! E retomava o passo penoso, sentindo o coração contra o peito, como ave presa que bate

«Obriga-me a escrever a v. exc d'est'outro mundo de verdades e desenganos, sobre este negocio de tanta monta, e materia tão importante á honra, vida e estado vosso, e de todos estes reinos de Portugal, a memoria de um avô que tivestes muito conhecido no mundo , a quem em tempo tão necessitado de homens, qual elle foi na vida, por nossos e vossos peccados, succedestes no casco da illustrissima casa, sómente, que não na lealdade portugueza, no coração real, no zelo da conservação do reino que houvereis de herdar afamado no mundo todo. Os oleiros, sapateiros, alfaiates, e os mesteres do paço vos furtaram a benção, e o lugar, mostrando-se tão inteiros, generosos e leaes n'este derradeiro termo, que Portugal fez, e com que acabou por alguns annos, como se os privilegios honrosos, ou os titulos illustres, e os morgados e reguengos foram seus d'elles, e não vossos. E como se de rei natural (que podiam ter e dar-vos) não fôra sempre o melhor quinhão o vosso, e dos mais senhores fidalgos a quem favorecia, conversava, e sabia o nome, e com quem distribuia a maior parte dos bens da sua corôa, ficando elle sómente com o estado, e titulo real, com as obrigações, e trabalhos de nos defender a todos, e governar. Porque quem vir com curiosidade as rendas da corôa, e bens patrimoniaes dos reis nas alfandegas, nos contos, e nas sizas da cidade de Lisboa, do Porto, e das mais, achará esta verdade clara, a saber: que todo o bom, e grosso estava repartido, e derramado em juros, tenças, morgados, reguengos, jurisdicções de vassallas, e vassallos, tudo desmembrado da corôa real nos senhores, e fidalgos do reino, de maneira que mais parecia o rei seu pai, ou almoxarife d'elles, que rei, nem senhor. Oh! mal afortunados tempos! Hora infeliz, e desaventurada, e lastima para sentir! Quem de todo não perdeu o juizo com as razões castelhanas de portuguezes elches!

O filho do desgraçado, que tinha então onze annos e estava com sua mãi, póde dizer-se que ficou litteralmente pobre. Os credores e a fazenda nacional disputaram-se a posse do espolio. O rapaz, quando chegou á idade de tomar conta da honra de Real de Oleiros, convenceu-se que lhe era mister trabalhar para não morrer de fome. Os parentes de sua mãi, posto que abastados, não o protegeram, e tornaram-lhe pesada a esmola do pão e da cama. Um dia, o brioso moço sahiu com sua mãi da casa que lhe amargurava o bocado, e foi habitar um casebre nas visinhanças do escrivão, que o fizera seu amanuense, e lhe dava doze vintens por dia. V. s.^a conhece-o.

Quanto ao morgado, sei que elle casou com a menos digna das suas concubinas, quando não toparia menina honesta que aceitasse o fidalgo de Real de Oleiros. Christovão Pacheco, apesar da libertinagem e desperdicio, ainda gozava o que se chama decente mediania, quando sahiu d'este mundo, antes dos cincoenta annos. Teve um filho ante-nupcial da criada com quem casou.

Valha-me Deus!... o que apparecer em terra de v. s.^a seu é. E esta terra é minha? Pois não sabe que este chão é d'este pobre que se chama Alvaro? Ó snr. Guimarães!...-exclamou o filho do ultimo senhor da honra de Real de Oleiros, e não pôde articular outra expressão. Vamos! acudiu o brazileiro para onde é que vai o thesouro de seu avô, snr.

Acho que os donos d'estes pardieiros eram fidalgos, porque tem armas reaes á porta volveu o brazileiro pouco versado em heraldica. Estas armas não são as reaes explicou o padre é o brazão de Pachecos e Andrades, muito illustres senhores d'este paço, que, em bons tempos, se chamou a honra de Real de Oleiros. Cahiram em pobreza? Sim, senhor; mas pobreza que tem uma historia interessante.

De repente, ao tomar a terceira peonia de nectar, senti-me entontecida, deliciosa e horrivelmente nauseada! Era o olor das rosas, a essencia do nectar, dos fructos, daquella Carne tocada do genio dos divinos oleiros, o perfume das taças, tudo a perturbar-me! Evoquei os Deuses e acordei ao grito da sua voz, que era a voz da minha queixa!

Nós, os chamados brazileiros, sabemos todos os processos de dar esmolas aos nossos patricios de modo que elles se dispensem de nos agradecer, e até lhe deixamos o direito salvo de nos ridiculisar. A justiça inspirára este homem, que nunca fôra tão eloquente. Pouco tempo depois, annunciou-se a venda da quinta de Real de Oleiros e suas pertenças, a requerimento dos credores.

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