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Então, num relance, D. Leonor compreendeu a verdade, a vergonhosa verdade, que lhe arrancou um grito ansiado e mal sufocado. Era uma cilada! O senhor de Lara atraía a Cabril êsse D. Rui com uma promessa magnífica, para dêle se apoderar, e de-certo o matar, indefeso e solitário! E ela, o seu amor, o seu corpo, eram as promessas que se faziam rebrilhar ante os olhos seduzidos do môço desventuroso.

¿Como, se não havia em Cabril serviçal ou aia de quem se fiasse? Mas deixar que uma bruta espada varasse traiçoeiramente aquele coração, que vinha cheio dela, palpitando por ela, todo na esperança dela!...

O enforcado, com os longos dedos descarnados, alargou o da corda que ainda lhe laçava o pescoço e declarou muito serena e firmemente: Senhor, eu tenho de ir convosco a Cabril, onde vós ides. O cavaleiro estremeceu num tam forte assombro, repuxando as rédeas, que o seu bom cavalo se empinou como assombrado tambêm. Comigo a Cabril?!...

Que importava! Viessem depois dores e zelos! Aquela noite era esplêndidamente sua, o mundo todo uma aparência e a única realidade êsse quarto de Cabril, mal alumiado, onde ela o esperaria, com os cabelos soltos! Foi com sofreguidão que desceu a escada, se arremessou sôbre o seu cavalo. Depois, por prudência, atravessou o adro muito lentamente, com o sombreiro bem levantado da face, como num passeio natural, a procurar fóra dos muros a frescura da noite. Nenhum encontro o inquietou até

D. Rui entrava, pela hora da calma, no fresco pátio da sua casa, quando de um banco de pedra, na sombra, se ergueu um môço do campo, que tirou de dentro do surrão uma carta, lha entregou, murmurando: Senhor, dai-vos pressa em ler, que tenho de voltar a Cabril, a quem me mandou...

E todo o interêsse da sua vida se concentrara num serviçal, que constantemente galopava entre Segóvia e Cabril, e que êle por vezes esperava no comêço da aldeia, junto ao Cruzeiro, ficando a escutar o homem que desmontava, ofegante, e logo lhe dava novas apressadas.

por êle alcançamos remissão, e eu dêle espero misericórdia. Então D. Rui pensou que, se êsse homem não era mandado pelo Demónio, bem podia ser mandado por Deus! E logo devotamente, com um gesto submisso em que tudo entregava ao céu, consentiu, aceitou o pavoroso companheiro: Vem comigo, pois, a Cabril, se Deus te manda! Mas eu nada te pergunto e tu nada me perguntes.

Mas não! o desventurado correria a Cabril e para morrer, miserávelmente morrer no negro silêncio da noite, sem padre, nem sacramentos, com a alma encharcada em pecado de amor! Para morrer, de-certo porque nunca o senhor de Lara permitiria que vivesse o homem que recebera tal carta. Assim, aquele môço morria por amor dela, e por um amor que, sem lhe valer nunca um gôsto, lhe valia logo a morte!

Dum alto da estrada, de repente avistaram Cabril, as torres do convento franciscano alvejando ao luar, os casais adormecidos entre as hortas. Muito silenciosamente, sem que um cão ladrasse detrás das cancelas ou de cima dos muros, desceram a vélha ponte romana.

E abalava na ponta das alpercatas leves, quando, com um acêno, D. Rui ainda o deteve: Escuta. ¿Que caminho tomas tu para Cabril? O mais certo e sòzinho para gente afoita, que é pelo Cêrro dos Enforcados. Bem.