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Mas deixarão os rios de correr, Primeiro que deixe eu de te querer. GALASIO. Estas serras, Marfida, por certeza De minha firme fé só quero dar-te: Quando com espantosa ligeireza Daqui correr as vires a outra parte, Então cuida que falta em mi firmeza, Qu'então deixarei eu, meu bem, de amar-te. Mas mudar-se daqui bem podem ellas, E eu não mudar de mi graças tão bellas.
Da palma s'escreve e canta Ser tão dura e tão forçosa, Que pêzo não a quebranta, Mas antes, de presunçosa, Com elle mais se levanta. Co'o pêzo do mal que dais, A constancia qu'em mi vejo, Não somente ma dobrais, Mas dobra-se meu desejo, Com qu'então vos quero mais. Se alguem os olhos quizer Ás andorinhas quebrar, Logo a mãe, sem se deter, Huma herva lhe vai buscar Que lhes faz outros nascer.
Ja por fugir do sol o fogo ardente, As sombras os rebanhos vão buscando; Os tenros cabritinhos juntamente Apos as mansas mães hião saltando; Tangendo as suas frautas docemente Os pastores, estavão enganando A grã chamma solar qu'então ardia; Só Liso o ardor della não sentia.
E vós, douradas flores, por ventura Se Ignez quizer fazer de meus amores Exp'riencias na folha derradeira, Mostrai-lhe, para ver minha fé pura, O bem que sempre quiz, formosas flores; Qu'então não sentirei que mal me queira. Ondados fios de ouro, onde enlaçado.
Frolalta, como ficava Antiôcho em te tu vindo? Ficava-se despedindo Da vida qu'então levava, E assi seus dias cumprindo. Oh grave caso d'amor! Desesperada affeição! Oh amor sem redempção, Que alli te fazes maior Onde tens menos razão! No mais alto e fundo pégo Alli tens maior porfia: Razão de ti não se fia. Quem a ti te chamou cego, Mui bem soube o que dizia. Por ventura hia chorando?
Em vós escrita vi Vossa grande dureza, E n'alma escrita está, que de vós vive: Não que acabasse alli Sua grande firmeza O triste desengano qu'então tive; Porque antes que me prive A dor de meus sentidos, Ao penoso tormento Acode o entendimento Com dous fortes soldados guarnecidos De rica pedraria, Que ficão sendo minha luz e guia.
Eu, qu'em ausencia vos vejo, Tenho piedade e pejo De me ver tão pobre estar, Qu'então não tenho que dar, Quando me pede o desejo. Como áquelle que cegou, He cousa vista e notoria, Que a natureza ordenou Que se lhe dobre em memoria O qu'em vista lhe faltou: Assi a mi, que não vejo Co'os olhos o que desejo, Na memoria e na firmeza Me concede a natureza O natural que não vejo.
Se attentar, Nenhum bem posso esperar: E oxalá Que vos alembrasse ja, Sequer para me matar. Mas nem com isto creais Que façais Meus serviços mais pequenos; Porqu'eu, quando espero menos, Sabei qu'então quero mais. Nada espero; Mas de mi crede este fero, Qu'em ser vosso, Vos quero tudo o que posso, E não posso quanto quero.
Oh bem-aventurado seja o dia Em que tomei tão doce pensamento, Que de todos os outros me desvia! E bem-aventurado o soffrimento Que soube ser capaz de tanta pena, Vendo que o foi da causa o entendimento! Faça-me quem me mata, o mal que ordena, Trate-me com enganos, desamores; Qu'então me salva, quando me condena.
Por ti o puro sol me descontenta; Com seu canto m'offende a Philomella: Mas, porque nelle chora, me contenta. Por ti, Natercia pura, Nympha bella, Na verdura suave deste prado Os males multiplico só com vella. Por ti não curo ja do manso gado: Com o mesmo qu'então meu bem crescia, Agora vai crescendo o meu cuidado.
Palavra Do Dia
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