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Estando em terra, chego ao ceo voando; N'hum'hora acho mil annos, e he de geito Que em mil annos não posso achar hum'hora. Se me pergunta alguem, porque assi ando, Respondo, que não sei: porém suspeito Que porque vos vi, minha Senhora. Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar: Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada.

Descubriste-te agora; e foi por via Que teu descobrimento e meu defeito, Hum me envergonha e outro me injuria. Nem tamsomente o Amor me não mostrou Hum'hora em que vivesse alegremente, De quantas nesta vida me negou; Mas inda tanta pena me consente, Que co'o contentamento me tirou O gôsto de algum'hora ser contente.

Oh grande e summo bem da natureza! Estranha subtileza de pintora, Que matiza em hum'hora de mil côres O ceo, a terra, as flores, monte e prado! Oh tempo ja passado! quão presente Te vejo abertamente na vontade! Quão grande saudade tenho agora Do tempo que a pastora minha amava, E de quanto prezava a minha dor!

Doces lembranças da passada gloria, Que me tirou fortuna roubadora, Deixai-me descansar em paz hum'hora, Que comigo ganhais pouca victoria. Impressa tenho na alma larga historia Deste passado bem, que nunca fôra; Ou fôra, e não passára: mas ja agora Em mi não póde haver mais que a memoria.

Bem me podes negar toda esperança, Mas eu não desistir deste comêço; Porque tempo e Fortuna não são parte Para deixar hum'hora de amar-te. Ja que ver-te os meus olhos alcançárão, Descansem neste bem com alegria, Pois ja com ver os teus tanto ganhárão, Quanto, estando sem vê-los, se perdia. Que glória querem mais, se a ver chegárão Aquella pura luz que vence ao dia?

Fizestes-me provar gostos passados, E vossa condição nelles provastes: Singelos em hum'hora mos levastes, Deixando em seu lugar males dobrados. Quanto melhor me fôra que não vira Os doces bens de Amor? Ah bens suaves! Quem me deixa sem vós, porque me deixa? De queixar-te, alma minha, te retira: Alma, de alto cahida em penas graves, Pois tanto amaste em vão, em vão te queixa.

Senhora, a culpa he vossa, Que para me matar Bastára hum'hora de vos não ver. Puzestes-me em poder De falsas esperanças: E do que mais m'espanto, Que nunca vali tanto, Que visse tanto bem, como esquivanças. Valia tão pequena Não póde merecer tão doce pena. Houve-se Amor comigo Tão brando, ou pouco irado, Quanto agora em meus males se conhece.

Mais qu'isto faz quem quer bem. I-vos asinha, que vem O Principe a se deitar. Nunca huma pessoa tem Hum'hora para fallar! Seja a morte apercebida, Porque ja o Amor ordena A dar a meu mal sahida; Porque o fim da minha vida O seja da minha pena. Não tarde, para tomar Vingança de meu querer, Pois não se póde dizer Que não tẽe ja que esperar, Nem com que satisfazer?

Que ja diante os olhos me descrevem, Quando as bocas da Fama voadora Ao patrio e claro Tejo as novas levem, A profunda tristeza; qu'em hum'hora Tal posse tomará dos altos peitos, Que delles o discurso lance fóra. Alli de dor os corações sujeitos Hão de lançar de si toda a memoria D'exemplos claros, solidos respeitos.

Pois os bens para ti todos nascêrão, Nascêrão para mi todos os danos, Logra tu tua gloria, eu meu tormento. Nenhum apartamento, Belisa, me fara deixar d'amar-te; Porqu'em nenhuma parte Poderás nunca estar sem mi hum'hora. Consente pois agora, Qu'em pago desta tão conhecida, Perca, quem te perdeo, tambem a vida.

Palavra Do Dia

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