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Atualizado: 6 de julho de 2025


Aquelle miseravel escrevente podia casar e possuir a rapariga mas que era elle em comparação d'um parocho a quem Deus conferira o poder supremo de distribuir o céo e o inferno?... E repastava-se d'este sentimento, enchendo o espirito d'orgulhos sacerdotaes.

Todo o pretendido escriptor que não tem dentro um sabio, um philosopho ou um artista, não é bem um escriptor, é um escrevente, e isto ainda na hypothese de que tenha orthographia e boa lettra. Faltando-lhe esses dois predicados nem escrevente é, é um esvasiador de tinteiros em prelos e de prelos em papel de impressão, o que verdadeiramente se deve chamar um troca-tintas, apenas.

E quando vem essa boda? exclamou elle, estacando subitamente diante d'Amelia e do escrevente; que tomavam o chá sobre o piano. Um dia cedo, respondeu ella sorrindo. Amaro então ergueu-se devagar, e tirando o seu cebolão: São horas de me ir chegando á rua das Sousas, minhas senhoras, disse com uma voz desalentada. Mas a S. Joanneira não consentiu.

E continuou pachorrentamente o officio que compunha, remettendo para Alcobaça um preso que ao fundo da saleta, entre dois soldados, esperava sobre um banco, prostrado e embrutecido, com uma face de fome e as mãos em ferros. Que temos? O padre Natario fechou a porta, e atirando os braços para o ar: Grande novidade, é o escrevente! Que escrevente?

Amaro sentou-se um pouco embaraçado; a presença do escrevente dera-lhe de repente, sem saber porque, o duro choque d'uma realidade antipathica: e todas as esperanças, que lhe tinham vindo a dansar uma sarabanda na imaginação, encolhiam-se uma a uma, murchavam vendo alli Amelia ao do noivo, curvada sobre uma costura honesta, com o seu escuro vestido afogado, junto do candieiro de familia!

Amelia permanecia calada, cosendo á pressa; erguia ás vezes rapidamente para Amaro um olhar desassocegado; pensava em João Eduardo, nas ameaças de Natario; e imaginava o escrevente com as faces encovadas de fome, foragido, dormindo pelas portas dos casaes... E emquanto as senhoras se accommodavam, palrando, á mesa do chá, ella pôde dizer baixo a Amaro: Não posso socegar com a idéa que o rapaz soffra necessidades... Eu bem sei que é um malvado, mas...

E immediatamente contou a historia da sua chaga: fôra uma trave que lhe cahira em cima; não fizera caso; depois a ferida assanhára-se; e agora alli estava, manco e cortidinho de dôres. E vossa senhoria, é coisa de cuidado? perguntou elle. Eu não estou doente, disse o escrevente. São negocios com o senhor doutor. Os dois homens olharam-n'o com inveja.

Oh, Ameliasinha! oh, filha! não te trocava por uma rainha! Ella desceu. O parocho, dando uma arranjadella ao leito, ouvia-a em baixo fallar tranquillamente com o tio Esguelhas; e dizia comsigo que era uma grande rapariga, capaz d'enganar o diabo, e que havia de fazer andar n'uma roda viva o pateta do escrevente.

Eu, disse o conego, os collegas sabem, tenho que comer e beber, não me importa... Mas é necessario manter a honra da classe! E não carece duvida, acrescentou Natario, que se ha outro artigo e mais fallatorios, estala com certeza o raio... Olha o pobre Brito, murmurou Amaro, esfogueteado para a serra!... Em cima decerto houve alguma graça, porque sentiram as risadas do escrevente.

A intimidade do escrevente na casa parecia-lhe escandalosa: decidia mesmo fallar á S. Joanneira, dizer-lhe «que aquelle namoro de portas a dentro não podia ser agradavel a Deus». Depois, mais razoavel, resolvia esquecel-a, pensava em sahir da casa, da parochia.

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