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Atualizado: 27 de junho de 2025
Adiantou-se devagar, sob o silencio triste dos altos contrafortes, espreitou á vidraça da cozinha do tio Esguelhas: elle lá estava, sentado á chaminé, com o cachimbo na bôca, cuspilhando tristemente para as cinzas.
E quando Amaro tomára conta da parochia, o côxo valera-se da influencia da S. Joanneira e d'Amelia para conservar, como elle dizia, a corda do sino. O tio Esguelhas, viuvo, tinha uma filha de quinze annos paralytica, desde pequena, das pernas. «O diabo embirrou com as pernas da familia», costumava dizer o tio Esguelhas. Era decerto esta desgraça que lhe dava uma tristeza taciturna.
Citava a glosa com respeito, já revestido d'amicto e alva, no meio da sacristia; e o tio Esguelhas impertigava-se sobre a sua muleta áquellas palavras que lhe davam uma auctoridade e uma importancia imprevista. O sacristão tinha-se aproximado com a casula rôxa. O santo concilio de Milão recommenda que se toquem os sinos sempre que haja tormenta...
Mas onde? exclamou, abrindo os braços como na desolação d'um santo dever contrariado. Onde? Em casa da mãi não póde ser, já andam desconfiados. Na igreja impossivel, era o mesmo que na rua. Em minha casa, já vê, menina nova... Está claro. De modo que, tio Esguelhas... E estou certo que vossê m'o ha de agradecer... pensei na sua casa...
Entre, tio Esguelhas, entre. O sineiro cerrou a porta, e depois de hesitar um momento: Vossa senhoria ha de desculpar, mas... Tinha-me esquecido de todo, com os desgostos que tenho passado. Já ha tempo que achei no quarto isto, e pensei que... E metteu na mão de Amaro um brinco d'ouro. Elle reconheceu-o logo: era d'Amelia.
Amaro desceu; e para alliviar o bom Silverio d'aquelle serviço excepcional, tomou o seu logar ao pé da vela, com o Breviario na mão. Alli ficou até tarde. A visinha ao sahir veio dizer-lhe que o tio Esguelhas tinha pegado a dormir; e ella promettia voltar com a amortalhadeira, mal rompesse a manhã.
E Amaro, n'essa manhã, ao revestir-se, sentindo-lhe nas lageas do pateo a muleta, ia já ruminando a sua historia porque não podia pedir ao tio Esguelhas o uso do seu casebre sem explicar, d'algum modo, que o desejava para um serviço religioso... E que serviço, a não ser preparar, em segredo e longe das opposições mundanas, alguma alma terna para o convento e para a santidade?
Na cozinha não poderiam accommodar-se, porque o quartito da pobre Tótó era ao pé... Mas tinham o quarto d'elle, em cima. O padre Amaro bateu com a mão na testa. Não se lembrára da paralytica! Isso estraga-nos o arranjinho, tio Esguelhas! exclamou. Mas o sineiro tranquillisou-o, vivamente.
Um dos quartos ao pé da sacristia, como elle sabia, dava para um pateo onde se tinha feito um barracão no tempo das obras. Pois bem, justamente do outro lado eram as trazeiras da casa do sineiro... A porta da cozinha do tio Esguelhas abria para o pateo: era sahir da sacristia, atravessal-o, e o senhor parocho estava no ninho! E ella?
Contou-lhe então uma historia diffusa que ia forjando laboriosamente, segundo as sensações que imaginava vêr na face pasmada do sineiro. A rapariga desgostára-se da vida, com as desavenças que tivera com o noivo. Que queria o tio Esguelhas?... Impiedade, alheismo do tempo!
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