United States or Laos ? Vote for the TOP Country of the Week !


N'isto chegava, com um certo ar dominador, o tenente Silverio. O taverneiro commentava: na Murgeira não é o senhor capaz de tirar da cabeça a ninguem que foi a alma do Ratinho que na propria noite em que elle morreu, por volta das duas horas, esteve tocando guitarra. Venha d'ahi, dizia-me o tenente, vamos almoçar. Subimos para a charrette.

Nas terras pequenas sabe-se tudo: o tenente Silverio andava apaixonado pela Libania, da Murgeira, uma saloia muito animal, de seios turgidos, que pareciam despenhar-se no tanque, quando ella se curvava para lavar. Era elle, o tenente. Fez parar a charrette debaixo da minha janella. Olá! gritou. Está, na fórma do costume, comendo as suas uvas.

Visto que saboreou o seu primeiro almoço, venha d'ahi dar um passeio. Aonde? Ora essa! Á Murgeira, como sempre, não é verdade? Como sempre... é um modo de dizer. não vou ha tres dias. Que ausencia! Pois irei. Deixe-me procurar o chapeu. Tres minutos depois a charrette do tenente Silverio rodava para a Murgeira pela estrada aberta entre pinheiraes.

Os saloios da Murgeira, seus patricios, consideravam-n'o um Orpheu, um Amphion da guitarra. D'aqui o sentimento geral pela morte d'esse excellente rapaz, que deixava a perder de vista os harmonios da saloiada patusca. Todos, rapazes e raparigas, queriam velar o seu cadaver. Tinha funeraes de principe, o Ratinho.

Acabou-se a guitarra na Murgeira! exclamou um saloio, que acabava de beber dois decilitros saudosamente. Vão os senhores ver, que elle está catita! exclamou o taverneiro. Fomos. Casa terrea, pequena, escura: cheia de gente. Quando entrámos, a chorata dos circumstantes augmentou. Depois foi-se smorzando lentamente: queriam ouvir o que diriamos. Ratinho estava deitado no caixão.

Falava-se muito, e não se chorava menos. Soubemos então o que se tinha passado; morrera o Ratinho. Quem era? perguntei. Deram-nos informações. Ratinho era um rapaz da Murgeira, que se fizera cocheiro dos Gatos. Andára doze annos em Lisboa, batendo, e aprendêra a tocar guitarra. Por esta prenda foi que elle se tornou celebre desde Lisboa até Mafra, desde Mafra até á Murgeira.

A egua, no seu trote largo, quebrava o silencio da manhã, guizalhando festivamente. Iamos bem dispostos, dilatando os pulmões no ar fresco dos pinheiraes, em que se sentia um gumesinho de brisa do mar, que soprava da Ericeira. Muito agradavel a manhã. Isto é bom e faz bem, dizia-me o tenente. São as minhas uvas. Perdão, as suas uvas, meu caro tenente, são outras. Vae colhel-as á Murgeira.

As creancitas choravam como se tivesse acontecido uma desgraça. Havia algum caso na Murgeira. Ora esta! exclamava o tenente.

Muito brancas não são; mas talvez sejam doces... O tenente riu-se. Tinhamos saído da estrada de Mafra, e iamos subindo, a passo, para a Murgeira. Avistava-se o mar, de um azul lacteo, esbranquiçado e sereno. Fomos subindo: a egua, de cabeça baixa, mettia o largo peito á estrada, puxando a charrette. conhecia o caminho, e acho que até conhecia a Libania. Chegámos.

Ouvi-lhe ainda muitas historias do Ratinho. Uma d'ellas, principalmente, tinha o seu quê de phantastica. Durante a noite haviam ficado a velar o cadaver os rapazes mais afoitos da Murgeira. Ás duas horas da noite, coube a vez ao Joaquim Prado, um latagão forte como um Castello.

Palavra Do Dia

líbia

Outros Procurando