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Vi com dor e tristeza definhados e moribundos os restos das instituições municipaes que o absolutismo nos deixara: vi com indignação essas solemnes mentiras a que impiamente chamâmos a agricultura, a verdadeira industria de Portugal, lidando inutilmente por desenvolver-se no meio da insufficiencia dos seus recursos; vi, em resultado dos erros economicos que pullulam na nossa legislação, a organisação da propriedade territorial e a desigualdade espantosa na distribuição das populações ruraes, procedida da mesma origem, e dando-nos ao sul do reino uma imagem das solidões sertanejas das America, e ao norte uma Irlanda em perspectiva: vi a injusta repartição e a peior applicação dos tributos e encargos: vi a falta de segurança pessoa e real, especialmente nos campos, onde o homem é obrigado a confiar em si e em Deus para a obter: vi um systema administrativo máu por si e pessimo em relação a Portugal, com uma jerarchia de funccionarios e uma distribuição de funcções que tornam remotas, complicadas, gravosas, e até impossiveis, a administração e a justiça para as classes populares, e incommodas e espoliadoras para as altas classes: vi, sobretudo, a falta da vida pública, a concentração do homem na vida individual e de familia, que é ao mesmo tempo causa e effeito da decadencia dos povos que se dizem livres: vi todos esperarem e temerem tudo do governo central; confiarem nelle, como se fosse a Providencia; maldizerem-no, como se fosse o principio máu: idéas completamente falsas, postoque bem desculpaveis num paiz de centralisação; idéas que significam uma abdicação tremenda da consciencia de cidadão, e da actividade humana, e que são o symptoma infallivel de que os males públicos procedem, não da vontade deste ou daquelle individuo, da indole particular desta ou daquella instituição, mas sim do estado moral da sociedade e da indole em geral da sua organisação.

Quando na China, pela era do imperador Tai-Sun, as terras andavam divididas pelas mãos de muitos monarchas irrequietos, envolvidos em continuas batalhas e baralhas, deu-se um caso no ceu, digno de particular ensinamento. Acontecia que uma certa deusa do Olympo Lei-San era o seu nome nunca ia dar o seu (passeio pelas nuvens, imagino) sem se esmerar em demorados arrebiques, em meticulosas pinturas de cutis, das sobrancelhas e dos labios. Pieguices do sexo, desculpaveis, e até de certo modo meritorias; mas o caso motivou, certo dia, um risinho malicioso da sua serva mais querida, e ainda por cima este commento pouco respeitoso: «A deusa tem pelos modos algum defeito no seu rosto, e cuida de escondel-o á força de cosmeticos...» Vão chasquear impunemente dos encantos d'uma dama! e quando ella fôr divina...

Rompendo de novo o silencio, o conselheiro proseguiu: Mas falava ahi de principios, que se defendem com desassombro e através de tudo. Não sei se quiz ser lisonjeiro e disse o que não sentia, ou mais do que o que sentia. Em todo o caso, eu, aqui no Mosteiro, acho-me muito ás ordens da minha consciencia, a qual não me deixa calar hypocritamente. Estou muito longe de ser esse ideal do homem politico, a que alludiu. Humildemente o confesso; até porque, se quizesse sel-o, arriscar-me-hia a achar-me , não teria partido. Porque, qual é o que nas condições de constancia de opiniões que disse? Tenho crenças politicas, é verdade; espóso no coração certos principios que quizera vêr realisados, mas não combato por elles a todo o transe, nem por elles affrontaria o supplicio; antes, por vezes, entro em transacções, que são a completa negação da divisa da minha bandeira. E este peccado não sou eu que o commetto; é um peccado venial da nossa época. As grandes ideias, que definem e estremam os campos na politica, havemol-as eu e os mais calcado muitas vezes aos pés, para sustentar umas insignificantes fórmulas, um interesse mesquinho, um capricho pessoal. A politica desce muitas vezes a isto. E ninguem é isento de culpa n'este mal. Para elle concorrem os mesmos que de fóra nos julgam severamente. Ha muitos d'estes peccados na minha carreira publica. E, quer que lhe diga, sabe quando vejo claro n'elles? quando me persuado de que não são de todo desculpaveis? quando... porque o não direi? quando sinto remorsos de os ter commettido?

E, portanto, nenhuma religiosa, em annos desculpaveis, se pejava de tratar questões de amor, quando ia para o côro, ou voltava do côro, mixturando os psalmos de penitencia com os alambicados conceitos em que, por via de regra, começavam e findavam aquelles amores. E como ninguem se escandalisava de tal, quer-me parecer que o peccado seria insignificante.

O nosso paiz tem ultimamente passado por uma d'estas phases da politica especulativa, em que a cegueira da opinião explorada pelos intuitos dos que com esta especulam, o tem conduzido a um estado social em que se manifesta a presença dos perigos apontados, desde que a obcecação apaixonada das massas, as hesitações menos desculpaveis dos poderes publicos, e as manifestações as mais contradictorias nos procedimentos dos partidos, têem sido de natureza a comprometter aquelle bom conceito de que uma nação carece, e que é uma condição indispensavel para que ella seja digna do convivio das outras nações civilisadas.

Se ao menos tivesse tido compaixão de mim, se se tivesse dignado escrever-me uma carta, dizendo-me: «Ernesto, esqueça tudo quanto se passou entre nós; vou casar-me com o conde de Loreto, meu pae exige-o, é um compromisso que não posso evitar...» uma desculpa qualquer, uma mentira ao menos, porque ha mentiras desculpaveis porque nos fazem bem... Mas não; a senhora, pelo contrario, guardou silencio, e eu continuava alimentando as minhas illusões.

Acaso as suas representações, as suas queixas, as suas supplicas foram ouvidas e satisfeitas? Acaso se lhes arrancou o jugo de ferro? Não certamente. Luiz do Rego ainda existe. A liberdade comprimida reage com todos os sentidos e estoura, e todos os caminhos que trilha para se restituir ao seu devido estado, são justos e quando menos desculpaveis.

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