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A ultima pagina continha o seguinte: «Ainda estamos do Porto; mas brevemente vamos para Lisboa. O primo Fernando quer que te esperemos , onde se hão de realisar os nossos sonhos, mais cedo do que eu e tu suppúnhamos, ó meu querido Antonio! Vem, vem no primeiro navio que sahir Ás vezes receio morrer antes da tua chegada. Temo que me acordem d'este sonho. As pessoas infelizes não podem familiarisar-se com a ideia de o não serem! Imaginas tu que terrores me atormentam, agora, que tão ditosa me sinto, e tão grata levanto as mãos ao Senhor! Lembra-me que podes amar-me com menos ardor; lembra-me que estás embevecido na ambição das riquezas... Ó meu amigo, até me lembra se terás morrido! tu se ha mais cruel imaginação! Nem agora me deixa o mau destino! Parece que se está assim vingando por não poder aniquilar-me! Acode aos meus receios, vem sem demora, sim? Fernando é um anjo de bondade; sobra-lhe riqueza para dar abundancia e alegria a muita gente. Não será vergonha recebermos tudo de sua mão. Que lhe diria o visconde a teu respeito, que elle ficou pensativo?! Perguntei-lhe o que tinha, e respondeu-me que o teu caracter, por demasia de austeridade, talvez se não dobrasse á vontade d'elle. Comprehendo estas palavras: suspeitam que tu recusarás favores de posição, devida a influencia estranha.

Eu, homem sem familia, sem mão amiga n'este mundo, ha trinta annos sósinho, sem reminiscencias de caricias maternaes, bem-quisto apenas d'uns cães, que pareciam amar-me com a clausula de eu os sustentar e agasalhar; eu, que, n'aquelle tão festivo dia da nossa terra, não tinha colmado onde me esperasse um amigo pobre para me dar entre os seus um lugar no escabello, nem parente abastado, que de mim se alembrasse á hora dos brindes com generosos vinhos em lucidos crystaes, eu, vendo-me com lagrimas em minha sombra, assim me fôra a contemplar a felicidade alheia pelas chans e outeiros do devoto Minho.

Mas, embora o senhor tivesse carradas de razão, era tarde para desdizer-se. Se este consorcio lhe desagradava, para que veio, quatro meses, procurar-me ao fundo deste cacifo, como acaba de chamar-lhe?... Porque incitou um amor, que, entregue a si mesmo, talvez houvesse sido sufocado? Rosa assim o exigia... Rosa amava-o... E pensa que deixará de amar-me por lho ordenar?

«Isto será amar-me demasiadamente a mim; e não é menos amar a mulher que está identificada em minha vida e honra. «Adeus, Corinna. A tua alma ha de conservar-se immaculada ahi em Lisboa, como na solidão das nossas terras. Se o mundo te não respeitar, tu saberás respeitar-te a ti mesma.

Cuidei que o mesmo me aconteceria com tua filha Paulina: aqui é que o meu orgulho pagou amargamente as suas passadas sobrancerias. Verdadeira e insanavel paixão me inspirou Paulina; e, para cumulo de desgraça e vingança d'outras, tua filha, bem longe de amar-me, convencido me deixou de me aborrecer.

Não houve coração algum que m'as recebesse... E soluçava convulsivamente nos braços do velho, que o apertava ao peito com tremuras de compaixão e amor. Diz-me tu, filho... tornou com muita brandura Francisco Lourenço essa senhora despreza-te? Oh! não!... O desprezo seria a minha salvação respondeu Fernando com vehemencia. A desgraça é ella amar-me, e ser uma santa em dedicação e sacrificios.

E o senhor, Pavel Alexandrovitch, que se vingou de mim de modo tão cruel, como é que pôde combinar-se com semelhante gente para me esfacelar desacreditando-me? Allegava amar-me!... Mas para que estarei eu para aqui a prégar-lhe moral!... Sou mais culpada que o senhor, offendi-o; tambem para com o senhor me vali de hyprocrisia, de mentira!

Não dou importancia ao que se diz, ao que se suppõe, ou ao que se inventou, mas senti, de longe, nas suas acções, no seu silencio, na sua fuga, e depois, quando o vi e lhe fallei, nas suas mais insignificantes palavras, no seu aspecto, no seu metal de voz, senti... que o senhor não estava longe de amar-me. O visconde fez um movimento, e quiz fallar.

Sondei com muita delicadeza a sua alma, e achei-a fria. Reconheci que era meu amigo, porque eu lhe fallava muito de Helena. Um homem assim não podia amar-me... « Porque não lhe revelou a sua alma? « Uma mulher, se não está gasta pela libertinagem, ou não é prodigiosamente estupida, nunca faz semelhantes revelações.

Por um phenomeno de impressionismo, sem o querer, sem o sentir fui-me enlevando das graças d'ella, até chegar ao ponto de pensar que tua bôa mãe tornára á vida e volvêra a amar-me como d'antes! Quando eu ia á villa, hospedava-me em casa d'esse antigo companheiro. Tal convivencia maior augmento deu ao meu amor, que transformou-se em grande paixão, toda enthusiasmos e vehemencia.

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