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Atualizado: 7 de julho de 2025


Pois a Mariquinhas encarnou para a minha imaginação mortificada, o anjo meu companheiro e protétor. Pela sua mão seguiria por sobre a fragil ponte que representa o dificil caminho da virtude, nas imagens popularisadas pela oleografia barata, em que o guarda angelico guia uma criancinha, com a sua mala de viagem a tiracolo, pela áspera senda do bem...

Então não eramos como três irmãos, três companheiros de brincadeira?!... «Ninguem me disse nada. Eu hôje é que pensei, depois do que ouvi em casa, que podia sêr que o que se lembravam comigo fôsse com ella... Ás vezes a Mariquinhas parecia que me tinha raiva, e porfim não queria que brincassemos juntos... lembra-se? «Sim, é verdade. Não tinha pensado nisso.

Tambem, pouco me lembrava delle, triste como andava com a doença da Mariquinhas; mas, quando ás vezes perguntava noticias do nosso amigo, respondia-me tão sêcamente que cheguei a imaginar que estavam mal. A D. Emilia metia , e ella tambem olhava para mim fixamente e tinha uma frase de profundo desconsolo, de quasi inveja, que revelava o estado do seu espirito: «Como a Raquel tem saüde!...

Ora isto foi assim até que num dia veiu para o rez-do-chão visinho uma nova familia: pai, mãe, e filha, uma pequena encantadora, que começou a sorrir-me e a cumprimentar-me quando me via na minha faina de jardineira. A Mariquinhas, com a sua mobilidade graciosa, falou-me uma primeira vez, a proposito de nada, para encetar conversa.

Dizia-me que nessa ocasião passava elle as férias no campo, e que quando voltasse eu veria como era gentil e bom companheiro de brinquedos. E falava com tal entusiasmo do seu pequeno amigo, um belo estudante quasi a terminar o curso do liceu, que o meu aféto confesso se sobresaltou, e um dia perguntei-lhe ansiosa: «Ó Mariquinhas, tu gostas mais do Chico do que de mim, não gostas?!...

Então cahi-lhe nos braços, soluçando perdidamente todo o meu desespero desfeito em lagrimas. Á noite o meu tio veiu buscar-me. Deu-me conselhos, tratou-me com muita bondade, desculpou a mulher, pediu, ordenou... Nada conseguiu. Agarrei-me á mãe da Mariquinhas, e de tal maneira me impuz ao seu pobre coração de mãe tão dolorosamente experimentado que ella pediu a meu tio que não insistisse.

A Mariquinhas ao delle tornava-se mais senhora, mais cheia de gravidade e importancia, sorrindo-se para o Chico quando eu dizia alguma infantilidade, como uma mãe que acha encantadora a ingenuidade do seu filhinho. E bem criança que eu era, apesar dos meus quatorze anos, ao da Mariquinhas, reflétida, instruida e séria como o não são muitas mulheres feitas.

Era então a Mariquinhas doutro tempo, a bôa fada que transformara a minha dura existencia, o dôce e querido anjo da guarda dos meus sonhos. Uma tarde, em que estava melhor, olhou fixamente para mim, com um estranho olhar que nunca lhe vira, e disse-me, como quem faz uma descoberta: «Ó Raquel, tu és bonita, sabes? Eu ri-me francamente, como quem nunca ouvira tal nem se preocupara com o assunto.

Era a certeza de que a morte, que tantas vezes chamara para mim, andava perto, a bater á porta da Mariquinhas... Uma tremura convulsiva fazia-me bater os dentes como se estivesse a tiritar de frio era todo o frio da alma que me enregelava o sangue. A Eulalia consolava-me, apiedada, talvez que no fundo ella não fôsse verdadeiramente .

Porque não fizera ella como a Mariquinhas, que vinha á terra tão bem vestida, que era a inveja de todos?!... No baptisado do terceiro sobrinho foi ella ser madrinha, com incumbencia d'uma ama para Lisboa. O ordenado era bom e o Antonio Marques, muito avarento, lembrou a mulher. por saudavel e bonita não havia outra nos arredores.

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