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Antonio Feijó tinha o habito supersticioso de escrever aos seus amigos em papel de carta de formato e côr sempre differentes. A sua ultima carta despreocupada e alegre é de 28 de fevereiro de 1914 e está escripta, como que por estranho presentimento, em papel côr de rosa. Nunca mais tive outra do mesmo humor ou da mesma côr. A carta seguinte, datada de 20 de abril, é amarella, côr de outomno e de morte, e traz as primeiras apprehensões duradouras sobre o estado de saude de sua mulher, que, mezes antes, já lhe dera alguns passageiros cuidados. Mas desde essa data nunca mais houve paz na sua vida. Folheemos devagar essa amarga correspondencia: 18 de julho de 1914: «Tenho tardado em dar-lhe noticias minhas, porque, no estado de espirito em que ando, não queria affligir as suas primeiras horas do Rio de Janeiro com lamentações e amarguras, a que o seu coração amigo não póde dar remedio. A minha querida doente vai melhor, já póde sair, já quasi póde fazer a sua vida habitual. Mas... este mas é que é a minha tortura de todos os instantes. Qualquer que seja a natureza e gravidade da doença, as recaidas anteriores não me dão a menor garantia para o futuro.
Entre outras cousas era preciso que esta menina fosse duas vezes por dia buscar, a uma meia legua grande de sua casa, um grande cantaro cheio de agua. Um dia, que a infeliz creança estava n'esta fonte, chegou-se a ella uma pobre mulher, e lhe pediu que a deixasse beber. Pois não! minha senhora, disse esta bella menina; e dizendo estas palavras, tomou agua no melhor sitio da fonte, e lh'a apresentou, sustendo o seu cantaro, para que ella podesse beber mais facilmente. A boa mulher, tendo bebido, lhe disse: A menina é tão bonita, tão boa, é tão bem creiada, que não posso deixar de lhe fazer um dom. (Era uma Fada, que tinha tomado figura de uma pobre aldeã, para ver até onde iria a boa educação d'esta menina.) Eu dou-lhe por dom, continuou a fada, que a cada palavra que disser, sair-lhe-ha da bôca uma flor e uma pedra preciosa. Quando esta boa menina chegou a casa, a mãe ralhou-lhe por haver tardado tanto tempo. Perdoe-me, minha mãe, por ter tardado. E dizendo estas palavras, deitou pela bôca duas rosas, duas perolas, e tres bons diamantes. Que é isto? disse a mãe, admirada. Quem te deu isto, minha filha? (Era a primeira vez que a tratava por sua filha.) A pobre menina contou-lhe tudo o que lhe tinha acontecido, não sem deitar pela bôca uma infinidade de diamantes. Realmente, disse a mãe, vou mandar lá tua irmã. Vem cá, Mariquinhas, vem ver o que sáe da bôca de tua irmã quando ella falla; queres tu ter o mesmo dom? Vae buscar agua á fonte, e quando uma pobre mulher te pedir de beber, dá-lh'a com muita civilidade. Pois não! respondeu a mal-creada; eu ir á fonte! Quero que lá vás, disse a mãe, e já. Maria foi, mas resmungando. Pegou no mais bonito jarro de prata que havia na casa, e chegou á fonte. Viu logo sair da floresta uma dama magnificamente vestida, que lhe pediu agua para beber. Era a mesma Fada que tinha apparecido a sua irmã, mas que tinha tomado a figura e os vestidos de uma princeza, para ver até onde iria a má creação d'esta rapariga. Porventura eu vim cá para lhe dar de beber? disse a mal-creada orgulhosa. Era o que me faltava trazer eu um jarro de prata para dar de beber á senhora: ora beba na fonte, se quizer. Sois bem pouco politica! replicou a Fada, sem se encolerisar. Pois bem, já que é tão mal-creada dou-lhe por dom, que a cada palavra que disser, sair-lhe-ha da bôca uma serpente e um sapo. Voltou a casa, e sua mãe gritou: Minha filha! minha filha! então que ha? Nada, minha mãe! respondeu ella, deitando pela bôca duas serpentes e um sapo. Oh céos! exclamou a mãe; que vejo!
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