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Tu que andas aqui a fazer, ó Gabiru? Elle espantado accorda: Anh? Olha-os tonto, magro, esfaimado. Atravez da nevoa do sonho a realidade, e entre o circulo dos ladrões e das mulheres acha-se transido, timido e torto. Em redor os outros sentem que vão fazer mal. Vão-se rir do que é pobre e desageitado; vão-se rir do que não comprehendem do sonho. Acho que é poeta!... E os ladroes ululam.

Uma força desconhecida d'essa corrente a que estamos sujeitos toda a vida impellia-o para o mal. A sua maneira de falar era curiosa, como a de todas as pessoas que vivem sós e a quem o tempo sobra para reflectir. Quem és tu? disse-lhe o Gabiru. Sou filho do crime. Que te importa o meu nome? O meu nome ao certo ninguem o saberá. Não tenho familia. Quem te creou? Os ladrões.

Ideio n'uma cova, n'um sepulchro fechado, ou vivo da verdadeira existencia? E os pobres? porque é que os pobres soffrem sem gritos, revolvidos como a terra por este arado ferreo a dôr? se vem a este mundo para gritar? O Gabirù via-os cheios de resignação seguirem o caminho da vida, cada um com sua cruz, feridos nas pedras asperrimas, sem pão, escarnecidos, tombando sem gritos? Porquê tudo isto?

Põe-se o Gebo a contar a sua historia, surge o Corsario, uma velha tragica, com o caio dos palhaços, o Astronomo, um sabio hirsuto, o Gabirú, philosopho esguio e hirto como uma taboa, que tem descoberto mundos e ignora as coisas mais simples d'esta vida. Remexe n'um brazido de idéas e nunca olhou cara a cara a existencia.

O Gabiru, desenroscando as pernas, ergue-se e murmura de si para si: «Que tempo este em que estamos. Parece feito de emoção... E tudo vae sonhando o seu sonho, que eu bem sei, bem n'o sinto nas arvores, nas pedras e na terra, até na terra mirrada... E eu tanto te queria dizer! tanto!... Olha, sempre te chamas Maria

Fugi. Isolei-me. Não quiz amigos, quiz isto: ser . Para que me chamam o Gabiru? Mettido no ultimo andar do Predio, ponho-me a escutar tudo que dentro em mim fala. Esqueci a realidade, para conhecer a realidade. Deitei fóra o que aprendêra, combati commigo mesmo... Agora vejo a desgraça! agora encontro a desgraça!...

Se não tens onde dormir, deita-te em cima. E emquanto o ladrão dormia aos solavancos, acordando d'estacão, para de novo mergulhar n'um somno profundo, o Gabiru scismava, olhando-o. Ás vezes o ladrão tornava e o philosopho repartia com elle o seu pão. Depois dizia-lhe: Dorme. Mas n'essa noite o Morto não quiz dormir. Sentados á beira um do outro falam durante largo tempo.

Ah o oiro, sim, o oiro filhos, o oiro respeitavel Corsario, o oiro Gabiru!... O dinheiro!... exclamou o Corsario e quedou-se a meditar. Podesse eu ir á terra arrancar-lhe as entranhas d'oiro até a fazer gritar! exclamou o Pitta. O oiro é a vida. Tivesse-o eu! Gargalharia do alto d'uma montanha d'oiro da humanidade e dos sonhos que ella cria.

Descobre torrentes impetuosas de odio, torrentes d'escarneo, a Arvore, as estrellas, um eterno redemoinho, gritos, levadas de sonho. Para onde? para onde corre tudo isto? A Morte ao lado d'uma arvore cheia de flor. Um cahos. Treva e sol, oiro em borbotões, e o homem indifferente... Ao dar de cara com a existencia, transido, ao vêr-se escarnecido entre a Vida, o Gabiru gritou.

No ultimo andar do predio móra o Gabiru, um solitario philosopho, esguio e triste como um enterro, armado da mais formidavel penca e da mais estranha sabedoria que Deus tem creado. Nunca viveu. Tudo que existe para do Hospital é para elle um grande mar ignorado e verde.

Palavra Do Dia

doiro

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