United States or Belgium ? Vote for the TOP Country of the Week !


Vêm uns, vêm outros para a fazerem gritar, e ella um dia põe se a rir e ri-se até da desgraça. Julgarieis que na sombra, sob a arvore, o luar constroe e tece, á medida que o Gabiru vae tecendo.

Mas um d'elles d'essa noite repara no Gabiru, perdido a um canto sem vêr nem ouvir, ridiculo, esguio, alheado. Aponta-o e logo a turba emmudece, tragica. O Morto, pondo-lhe a larga mão no peito: Ó tu! Anh? Tu que andas aqui a fazer, ó Gabiru? Logo o Velho escancara as fauces e todos os outros de repellão se erguem. Esperem... Tu não ouves? Anh? diz elle, acordando estonteado. Anh?

Porque notem bem: tinha o pequename todo, estava-se todo a crear para mim!... E como o Pythagoras fosse a sahir: Espera. Para onde é a ida, philosopho? Prégo a revolução. Ando a prégal a... E curvou-se sobre o ouvido do Pitta, que exclamou sobresaltado: Ao pequename! Rica idêa! E philosophica! Um grande elemento. Pois é atiçar-lhe!... E sahiram ambos. Então o Gabiru ficou sósinho com os pobres.

E ninguem se importa com o Gabiru, que tece, vae tecendo a sua teia, toda de emoção e de nuvens, encolhido a um canto, absorto, sem vêr nem ouvir: «Não sei bem o que sinto, que nunca me vi assim. Do meu coração sahe uma bica que rega as coisas mais seccas. E ouço! o que eu ouço!... Ao luar, em cima, ouço as montanhas em dialogo e falarem arvores e pedras!...»

Eu ter entre as mãos uma vida e vel-a finar-se!... E eu que tinha pena de ti!... O Gabiru reflecte. A noite é espantosa. Toda a lua se desfaz em luar e, no silencio branco, vem-se da trapeira, os montes, o mar e as arvores, com fórmas de sonho. Pobre de ti! diz por fim o philosopho Tu és a terra, tu és a terra a falar... Tu és terra. Eu não vivi?

Todos os dias o Gabiru vae sentar-se olhando a Mouca entre os ladrões e os soldados, que á noite surgem para se rirem das lagrimas e dos gritos. Entre a turba sinistra vem sempre o Velho, callado e feroz, que ri com uma bocca disforme, e o Morto, que fala com desprezo do soffrimento, das mulheres, da morte.

As fontes deitam oiro, as plantas têm fios d'oiro e no chão ha toalhas e caminhos d'oiro e sombras. Senhor Pitta, eu quero ser isto... Isto quê? resmunga o outro concentrado. Quero ser isto!... Mas o Pitta, enfronhado nos calculos resmoneia: Maquinações philosophicas. Deixa-me... Eis a differença 22$000 réis... Eis!... O Gabiru caminha.

O Gabiru, encolhido e triste, põe-se ao seu lado a olhar para a Mouca e vae tecendo o seu sonho. Toda a noite é uma mistura de gritos, de lagrimas e risos. Espancam as mulheres e quando ellas choram, cahidas, tornadas em escarneo, infimas como a terra, todos elles riem, com um anh! de satisfação por as fazerem soffrer.

Vão-se rir, vão espesinhar. Logo o côro de gargalhadas e de gritos esturge. Olhae p'ra elle... Sabeis como lhe chamam? chamam-lhe o Gabiru.

O Gabiru scisma. Os olhos abertos, todo elle dolorido, deita-se ainda a scismar. Vivera sempre tão transido e pobre, tão sosinho que lhe não fugisse o seu sonho e nada lhe ficara entre as mãos. escarneo! escarneo!... Bate o luar em cheio n'aquella figura exotica e transforma-a. Não é ridiculo. Corre-lhe o luar nos olhos, nas mãos estendidas, e cheio de luar sorri extasiado...

Palavra Do Dia

sevar

Outros Procurando