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Volto para traz, deixando o ruido dos guindastes e das sereias, a bulha dos catraeiros e descarregadores, para entrar n'outro bulicio tão grande, o zumbido dos milhares de boccas que cruzam a Rambla, as campainhadas dos tranvias, a buzina dos automoveis, com gritos diversos, pragas, pregões, injurias guturaes dos catalães furiosos.

E el-rei houve d'isto grande melancolia, e não sem razão, mas a vingança foi desarrazoada; porque assim como de pequena faisca se accende grande fogo, achando coisa disposta em que obre, assim el-rei Dom Pedro com destemperada sanha, por tomar d'aquillo vingança, moveu crua guerra contra Aragão, de sangue e fogo, por muitos annos, como ora brevemente ouvireis; elle mandou logo prender em Sevilha todos os mercadores catalães que ahi eram, e escrever lhes todos seus bens, e outro dia partiu-se á pressa por terra, e fel-os todos pôr em cadeias, e vender quanto lhes acharam.

«Permittiu os desafôros que os castelhanos fizeram em Catalunha para se atarantarem os catalães e se entregarem aos francezes, para que el-rei de Castella ficasse opprimido com outra guerra mais perigosa, o que lhe não deu lugar para acudir á de Portugal, estando principalmente com a opinião das grandes forças d'este reino; porque, se de Evora sómente lhe disseram que tinha dez mil homens contra elle, quando não tinha comsigo a nobreza, quanto maior poder seria agora o do reino todo junto!...

Até o fim do seculo XVI artistas portuguezes, leonezes, castelhanos, valencianos, aragonezes, catalães, asturianos, tivemos um ideal commum nas letras, na architectura, na esculptura, na pintura, nas artes sumptuarias e nas artes industriaes, celebrando identicos feitos de guerra, de religião e de amor, servindo reis do mesmo sangue, heroes das mesmas aventuras, santos e santas da mesma invocação popular.

Demais todos estes argumentos caem perante os documentos citados nas paginas precedentes, que escaparam ás investigações do douto academico , e provam ser conhecido o nome de melegeta desde o começo do seculo XIII, isto é, mais de dois seculos antes das nossas viagens, e muitos annos antes das datas marcadas aos suppostos descobrimentos dos genovezes, dos catalães e dos normandos.

E elle respondeu que aquellas gentes eram inimigos d'el-rei d'Aragão, e que os podia tomar de boa guerra. E el-rei lhe mandou dizer, outra vez, que fosse certo, se os deixar não quizesse, que mandaria prender em Sevilha todos os mercadores catalães que ahi eram, e tomar-lhes todos seus bens.

E querem dizer talvez na sua os catalães, que Satanaz ergue as creaturas que quer tentar e, firmando-as nos cimos d'este monte, oferece-lhes a cidade, imagem brilhante dos esplendores mundanos. Sob o toldo do restaurante deserto me acolhi, a sentir a brisa preguiçosa. Espalmava-se em baixo a cidade.

O que diz Camões a quem, depois de o ter lido com olhos de homem de gosto, o relê com olhos de philosopho? Camões, responde o snr. Oliveira Martins, diz-nos o segredo da nacionalidade portugueza. Houve, com effeito, uma nacionalidade portugueza por mais estranha que esta affirmação nos pareça, a nós portuguezes do seculo XIX, que não atinamos a encontrar no presente uma causa vivendi: houve uma razão de ser tanto para as instituições como para os individuos, e uma idéa nacional, espalhada como a alma collectiva por todo este corpo, então vivo e agil. E não houve uma nacionalidade portugueza, mas essa nacionalidade, superior aos impulsos cegos da raça e á fatalidade da geographia, produziu-se como uma obra do esforço e da vontade, não resultado de obscuros instinctos primitivos, como um facto politico e moral, não como um facto ethnologico. Quando em Hespanha não havia ainda senão catalães, castelhanos, leonezes e navarros; em França provençaes, gascões, borguinhões, bretões; em Allemanha suabos, austriacos, saxões, hanoverianos; em Italia tantos pequenos estados rivaes quantas cidades, e não se fazia bem idéa do que fosse ser hespanhol, francez, allemão, italiano, porque estas palavras França, Hespanha, Allemanha, Italia designavam apenas vagas agrupações naturaes e não grupos organisados em Portugal havia portuguezes, e ser portuguez tinha uma significação definida e precisa. Este é o grande facto, diz o sr. Oliveira Martins, que faz delle o seu ponto de partida: daqui, a cohesão politica da nação; daqui a sua physionomia moral. Essa cohesão é a unidade; essa physionomia é o patriotismo. O patriotismo, pondera acertadamente o sr. Oliveira Martins, é cousa muito distincta do amor da terra: e o patriotismo, como os portuguezes dos seculos XV e XVI o conceberam, foi um phenomeno moral quasi unico na Europa de então, e que os tornou muito mais parecidos com os romanos antigos do que com os povos seus contemporaneos. O patriotismo é uma idéa abstracta, que excede a capacidade toda sentimental da raça; o instincto naturalista da raça o amor da terra; não vai mais além: a idéa nacional póde dar o patriotismo, comprehendido á romana e á portugueza. O Cid batalha mais de uma vez contra os castelhanos, ao lado dos arabes; o condestavel de Bourbon vira a sua espada aventureira contra a França que o viu nascer; nem por isso deixa o Cid de ser um typo de bravura idealisado pelos hespanhoes, e o condestavel de Bourbon um leal cavalleiro para todos os cavalleiros de França; mas os Pereiras, combatendo ao lado dos castelhanos em Aljubarrota, são malditos, arrenegados; e, mais tarde o Magalhães será portuguez no feito, porém não na lealdade: apostataram da idéa nacional. Eis a grande differença. Esta noção do patriotismo cria uma ordem de sentimentos particulares dos individuos para com a nação, um modo de ser moral peculiar.

El-rei soube isto em Valhadolid, e pôz logo fronteiros contra Aragão, e veiu-se a Sevilha, e fez armar á pressa doze galés; e em as armando, chegaram seis galés de genovezes, que então haviam guerra com os catalães, e prouve muito a el-rei com ellas, e tomou-as a soldo, dando por mez a cada uma mil dobras cruzadas.

Foram principalmente os Catalães e os Malhorquinos que a esse, como a muitos outros ramos das sciencias navaes, deram impulso; ácerca d'este assumpto póde dizer-se que o nosso visconde de Santarem, nos seus grandiosos trabalhos sobre a prioridade dos descobrimentos dos Portuguezes, quasi esgotou a materia.