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Até o fim do seculo XVI artistas portuguezes, leonezes, castelhanos, valencianos, aragonezes, catalães, asturianos, tivemos um ideal commum nas letras, na architectura, na esculptura, na pintura, nas artes sumptuarias e nas artes industriaes, celebrando identicos feitos de guerra, de religião e de amor, servindo reis do mesmo sangue, heroes das mesmas aventuras, santos e santas da mesma invocação popular.

A viuva de D. Henrique teria talvez em vista crear, por meio de multiplicados combates, sentimentos de invencivel hostilidade contra os leonezes no animo dos seus vassallos. Preparava-os assim para a grande luta da completa independencia de Portugal.

Quanto á segunda tambem me parece indubitavel que o conde saccudiu o jugo de Leão; mas o que não posso admittir é que os leonezes legalisassem este facto com o seu reconhecimento antes do tempo de D. Affonso Henrique. Bastaria dizer aqui que um argumento negativo bem pouco fôrça pode ter contra provas em contrario deduzidas da propria natureza, instituições, leis e costumes do paiz.

O que diz Camões a quem, depois de o ter lido com olhos de homem de gosto, o relê com olhos de philosopho? Camões, responde o snr. Oliveira Martins, diz-nos o segredo da nacionalidade portugueza. Houve, com effeito, uma nacionalidade portugueza por mais estranha que esta affirmação nos pareça, a nós, portuguezes do seculo XIX, que não atinamos a encontrar no presente uma causa vivendi: houve uma razão de ser tanto para as instituições como para os individuos, e uma idéa nacional, espalhada como a alma collectiva por todo este corpo, então vivo e agil. E não houve uma nacionalidade portugueza, mas essa nacionalidade, superior aos impulsos cegos da raça e á fatalidade da geographia, produziu-se como uma obra do esforço e da vontade, não resultado de obscuros instinctos primitivos, como um facto politico e moral, não como um facto etimologico. Quando em Hespanha não havia ainda senão catalães, castelhanos, leonezes e navarros; em França provençaes, gascões, bourguinhões, bretões; em Allemanha suabos, austriacos, saxões, hanoverianos; em Italia tantos pequenos estados rivaes quantas cidades, e não se fazia bem idéa do que fosse ser hespanhol, francez, allemão, italiano, porque estas palavras França, Hespanha, Allemanha, Italia designavam apenas vagas agrupações naturaes e não grupos organisados em Portugal havia portuguezes, e ser portuguez tinha uma significação definida e precisa. Este é o grande facto, diz o snr. Oliveira Martins, que faz d'elle o seu ponto de partida: daqui, a cohesão politica da nação; d'aqui, a sua physionomia moral. Essa cohesão é a unidade; essa physionomia é o patriotismo. O patriotismo, pondera acertadamente o snr. Oliveira Martins, é cousa muito distincta do amor da terra: e o patriotismo, como os portuguezes dos seculos XV e XVI o conceberam, foi um phenomeno moral quasi unico na Europa de então, e que os tornou muito mais parecidos com os romanos antigos do que com os povos seus contemporaneos. O patriotismo é uma idéa abstracta, que excede a capacidade toda sentimental da raça; o instincto naturalista da raça o amor da terra; não vai mais além: a idéa nacional póde dar o patriotismo, comprehendido á romana e á portugueza. O Cid batalha mais d'uma vez contra os castelhanos, ao lado dos arabes; o condestavel de Bourbon vira a sua espada aventureira contra a França que o viu nascer; nem por isso deixa o Cid de ser um typo de bravura idealisado pelos hespanhoes, e o condestavel de Bourbon um leal cavalleiro para todos os cavalleiros de França; mas os Pereiras, combatendo ao lado dos castelhanos em Aljubarrota, são malditos, arrenegados; e, mais tarde o Magalhães será portuguez no feito, porém não na lealdade: apostataram da idéa nacional. Eis a grande differença. Esta noção do patriotismo cria uma ordem de sentimentos particulares dos individuos para com a nação, um modo de ser moral peculiar.

A rapidez com que em menos de meio seculo surgiu a nacionalidade portugueza, dotada de attributos e qualidades que logo separaram, e distinguiram os portuguezes dos gallegos e dos leonezes, a dexteridade com que a viuva e o filho do conde borgonhez souberam vencer todos os obstaculos, e fazer com que insensivelmente fossem legitimadas pelos proprios adversarios as pretensões mais contrarias aos direitos da corôa de Leão, e finalmente a coragem com que lutaram nos campos de batalha contra a rainha D. Urraca e contra seu filho, são na verdade admiraveis, mesmo attribuindo ás discordias de Affonso de Aragão e de sua mulher a facilidade venturosa, com que tão ousados commettimentos se executaram!

Os escudeiros, colhidos, empurrados a pontoada de chuço para a boca d'uma barroca, sem resgate ou mercê, como alcateia immunda de roubadores de gado, acabaram, decepados a macheta pelos barbudos estafeiros leonezes. Todo o valle cheirava a sangue como um pateo de magarefes.

Do pacto de alliança de D. Henrique e D. Urraca resultou o engrandecimento do condado, para o norte na Galliza e para leste ao longo da bacia do Douro, abrangendo Tuy, Vigo, Santiago, por um lado, Zamora, Salamanca, Toro e até Valladolid pelo outro. A divisão e demarcação do novo Estado chegou a fazer-se com a possivel solemnidade, e com a concorrencia de barões leonezes e castelhanos.

Sou capaz de apostar que rei lhe chamavam ha muito tempo, como chamavam rainha á mãe; de mais a mais, esse titulo de rei, que affirmava mais a nossa independencia, onde se deveria dar era n'uma batalha contra os leonezes, mas n'uma batalha contra os mouros, que tanto se importavam que Portugal fosse independente, como que fosse vassallo de Leão, a quem tanto convinha que Affonso Henriques fosse rei como que fosse conde, não se percebe.

Os leonezes viviam todos da cultura do sólo. Sustentam com as suas pastagens tão afamadas os numerosos rebanhos que os seus pastores obrigam a emigrar, durante o inverno, para as grandes terras da Extremadura. Mostraram-se, por vezes, ciosos das liberdades publicas, e uniram-se aos castelhanos, quando estes se ergueram para defender os seus privilegios contra a invasão de Carlos V, no momento em que os aragonezes, os catalães e os valencianos, tão ciosos, não obstante, das suas liberdades, assistiam desinteressados á lucta. Succedeu o mesmo com a Extremadura. A indifferença é a grande palavra da hespanha. E como não haviam de ser indifferentes os extremeños? Não chegam a ser 60 por legua quadrada; teem poucas estradas, pouca industria e participam pouquissimo do movimento das outras partes do reino. O paiz pertence a grandes proprietarios, a communidades: não cultivam a terra e vivem da venda das suas pastagens.

Se as circumstancias, porém, são fabulosas, nem por isso foram pouco importantes os resultados moraes d'essa batalha, que, habituando os portuguezes a affrontar em campanha os agarenos, lhes deu animo e vigor para futuras conquistas. Terminada esta empreza, volveu o intrepido principe á lucta com os leonezes.