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O temor prende os nautas ante o formidavel cabo a que chamam Bojador, pelo muito que boja para o mar. As correntes parecem-lhes tão impetuosas e difficeis de vencer, que receiam ser arrebatados e envolvidos por ellas. Nem por isso deixam de continuar as tentativas.

Era a primeira causa ignorar-se ao certo quaes paizes e quaes habitantes existiam para além do cabo Bojador, visto que nada de verdadeiro se podéra averiguar da fallada viagem de S. Brandão, no seculo VI; e porque nenhum outro principe trabalhava n'isto, se decidíra a fazel-o o sr. D. Henrique, por honra de Deus e del-rei.

Outrosi que o senhorio de Guiné, que é dos cabos de Não e do Bojador até os Indios inclusivamente, com todos seus mares ajacentes, ilhas, costas descobertas e por descobrir com seus tratos, pescarias e resgates, e assi as ilhas da Madeira, e dos Açores, e das Flôres, e do Cabo Verde, e assi a conquista do reino de Fez ficasse insollido, e para sempre ao dito Rei e Principe de Portugal, e a todos seus herdeiros e sobcessores para sempre, e que as ilhas das Canarias logo nomeadas, com a conquista do reino de Grada ficassem outrosi insollido aos Reis de Castella, e a seus sobcessores para sempre.

E foram aquelles valentes, que fizeram tão grande no mundo este paiz tão pequeno, e partiram por esses mares fóra, sem saber o que por havia, e sempre a tremer da perdição da vida e da perdição da alma, e foram, e encontraram a Madeira e encontraram os Açores, e Gil Eanes dobrou o cabo Bojador, que era onde diziam que estavam as taes estatuas encantadas, e, como não encontrou estatuas nenhumas, foi tudo atraz d'elle, e, de repente, Portugal poude desenrolar diante do mundo um outro mundo ignorado, a costa da Africa toda, com os seus grandes rios, os seus bosques verdes, o seu povo de pretos, como eu vi, n'um theatro de Lisboa, desenrolar-se diante da platéa pasmada um panno pintado com cidades e quintas e ilhas e rios, que era de uma pessoa ficar de boca aberta.

O cabo Bojador era um ninho de serpentes e na ilha de Ceylão estava o tumulo de Adão!

Julgam profundos historiadores que os descobrimentos além do cabo Bojador, posto que encetassem para o reino uma grande epocha de gloria e prosperidade, foram talvez a causa capital da rapida e angustiosa decadencia a que chegámos nos fins do seculo XVI. Entretanto não seremos nós que condemnaremos esse espirito aventuroso e intrepido, que levou os nossos marinheiros e soldados a practicarem tantos feitos assombrosos de ousadia, de abnegação, de patriotismo.

Após o Cabo Bojador, descobriu Nuno Tristão, em 1443, o Cabo Branco, e em 1449, Cadamosto, o Cabo Verde e o Senegal, onde encontrou marfim, ouro e hordas de pretos, que conduziu para os Algarves, começando então o trafico de escravos Africanos na Europa. Dous papas mandam bullas de concessão de todas as terras além do Cabo Bojador, elogiando e preconisando de heroe o Principe.

Ainda em 1375 a costa africana era conhecida de Ceuta até ao Cabo Bojador, e ainda em 1436, em pleno seculo XV, o mappa de André Bianco, um mixto de christianismo e de paganismo, reproduz as lendas e figuras da edade média, collocando Jerusalém no centro do mundo e determinando o local do paraiso terrestre!... Toda a terra conhecida resumia-se num unico continente.

Quando, pois, o infante dava principio á serie de viagens de exploração que determinára fazer á costa d'Africa, mandando todos os annos duas ou tres caravellas, commandadas por alguns dos seus mais zelosos criados, com o encargo de passarem o cabo Bojador, e irem o mais longe que podessem; succedeu que dous fidalgos de sua casa, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, que com o infante tambem se haviam achado no soccorro da praça de Ceuta, se lhe offereceram para irem passar o mencionado cabo e descobrirem a terra da Guiné.

E assi o dito Infante como aconselhado e esforçado, por divina inspiração movido a isso, com respeitos de magnanimo Principe e mui catolico christão, e como mui leal vassallo dos Reis e da corôa de Portugal, desejoso do acrescentamento, gloria, e louvor d'elles, suspirando pela santa, honrada e proveitosa conquista de Guiné, mandou logo pedir e suplicar ao Papa Martinho quinto, na Egreja de Roma presidente, que em nome de Deus cujo poder tinha, concedesse e fizesse á dita corôa e herdeiros d'ella para sempre, como com acordo e approvação do Sagrado Collegio dos Cardeaes fez e concedeu solemne e perpetua doação, e lhe deu o senhorio proprio de todo o que na costa do dito mar Occeano, nos mares a ella ajacentes dos marcos e cabos de Nam e do Bojador contra o meio dia e oriente por elles e por seus sobcessores, e por suas gentes pelos tempos em diante se achasse e descobrisse até os Indios inclusivamente.