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Depois que o Conde D. Anrique foi cazado com a Rainha D. Tareja, filha del-Rei de Castella como dito é, vindo ella a emprenhar, D. Egas Moniz mui esforçado e nobre Fidalgo, grande seu privado, que com elle viera da sua terra, e a quem tinha feito muita mercê, chegou ao Conde pedindo-lhe que qualquer filho, ou filha, que a Rainha parisse lho quizesse dar para o elle criar, e o Conde lho outrogou.

E era então naquelle tempo costume, que todos os filhos dos Reis se chamavam Reis, e as filhas Rainhas, posto que fossem bastardos, e como quer que El-Rei D. Affonso de Castella, desse este Condado de Portugal, ao Conde D. Anrique, e a sua filha, e ella se chamasse Rainha; porém elle nunca se chamou Rei em sua vida, nem seu filho o Principe D. Affonso, até que houve uma grande batalha, e vencimento no Campo de Ourique, contra cinco Reis Mouros, onde foi alevantado por Rei de Portugal, cuja geração veio de Reis, assi da parte do pai, como da mãi, que segundo dissemos este Rei D. Affonso Anriques primeiro Rei que foi de Portugal, era neto de El-Rei Dungria da parte do pai o Conde D. Anrique, que foi filho legitimo dEl-Rei Dungria, e da parte de sua mãi, era neto dEl-Rei D Affonso acima dito, filho de sua filha Dona Tareja, por onde se mais manifesta a esclarecida gloria dos Reis de Portugal, pela nosso Senhor de todolos cabos tanto a exalçar, que de Nobreza, e Realeza de sangue não menos, que de excellentes virtudes, fossem em tanto gráo illustrados.

Era a consequencia necessaria da existencia da nação, e dos costumes e tradições d'aquelle tempo. D. Affonso Henriques, filho primogenito do conde, era de menor idade á morte do pae. D. Tareja teve pois de tomar o governo, e com elle o difficil encargo de continuar a obra politica do marido, de quem ella fôra talvez o conselheiro mais intimo.

A historia não levou em conta a D. Tareja nem a fragilidade da natureza humana, nem os costumes do seculo em que ella viveu, nem a expiação infligida por seu proprio filho, privando-a do governo e prendendo-a, nem o abandono em que morreu, malquista d'aquelles, a cujas vantagens consagrára a vida, e em favor de quem soubera tirar partido até dos proprios erros.

O marido de D. Tareja possuia tambem todos os bens pertencentes á corôa de Leão, que estavam situados dentro dos limites designados. Devia ser concessão de Affonso VI. O territorio portucalense coube a Henrique de Borgonha como dote de sua mulher? Foi-lhe dado como governo ou como estado expressamente separado da corôa de Leão em favor dos noivos?

A ausencia dos barões portuguezes; a falta de menção de que Tareja os representava n'aquella assembléa, e por elles fazia preito á irmã, indicam qual era então o espirito dos portuguezes, e quão graves as circumstancias a que D. Tareja se via forçada a obedecer. Esta submissão pessoal não durou muito.

D'este conjuncto de circumstancias, e talvez de outras que ignorâmos, nasceu a paz, na qual D. Tareja conservou as terras de Galliza, cuja posse havia dado causa á guerra, e obteve varias terras e aldeias nos districtos de Samora, Toro, Salamanca, Avila, Valhadolid e Toledo, como tenencia da irmã.

Antonio Brandão citam uma doação feita ao mosteiro de Arouca, Por D. Tareja Soares, mulher de D. Gonçalo Mendes de Souza, que sendo accusada pelo marido d'adulterio, recorreu, em sua defeza, á prova do ferro em braza, e saindo illesa, se recolheu ao convento d'Arouca, ao qual fez uma doação, onde se menciona este successo, que seria em verdade extraordinario, se não fosse mais facil e razoavel crêr na supposição do documento do que na realidade do milagre.

Não chegaram ao nosso tempo documentos ácerca das condições com que se concluiu o casamento de Henrique de Borgonha com D. Tareja, porém sabe-se que em 1097 o territorio que se estende desde o rio Minho até ao Tejo era governado por D. Henrique, sem opposição alguma do conde Raymundo de Galliza.

A nacionalidade portugueza era então tão vigorosamente distincta que os gallegos do exercito de D. Tareja eram chamados nas chronicas contemporaneas indignos estrangeiros, apesar de que a identidade de linguagem, de costumes, de religião e de raça entre os habitantes de Galliza e os de Entre Douro e Minho, devesse contribuir para que portuguezes e gallegos se reputassem mutuamente irmãos.

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