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Alvaro de Sousa seria um habil redactor do jornal dos sapateiros. Estás zombando! Palavra de honra, que não zombo! Tu sabes porque horisontes vai ampliar-se o espirito da arte? Sabes se a tripeça terá uma plastica e uma esthetica! Sabes se a bota de canhão terá um bello ideal? Sabes se a tomba e a intercospia terão uma philosophia?

Ao arremesso momentaneo, o homem esguio e grelado, por ser mais leve, subiu mais alto, e veiu caír por elevação sobre as costas de um massiço prebendado, com os olhos escudados de oculos e palla verde, o qual estava explicando a duas sobrinhas boqui-abertas a lenda aurea de S. Crispim, pintado na bandeira dos sapateiros.

«Obriga-me a escrever a v. exc d'est'outro mundo de verdades e desenganos, sobre este negocio de tanta monta, e materia tão importante á honra, vida e estado vosso, e de todos estes reinos de Portugal, a memoria de um avô que tivestes muito conhecido no mundo , a quem em tempo tão necessitado de homens, qual elle foi na vida, por nossos e vossos peccados, succedestes no casco da illustrissima casa, sómente, que não na lealdade portugueza, no coração real, no zelo da conservação do reino que houvereis de herdar afamado no mundo todo. Os oleiros, sapateiros, alfaiates, e os mesteres do paço vos furtaram a benção, e o lugar, mostrando-se tão inteiros, generosos e leaes n'este derradeiro termo, que Portugal fez, e com que acabou por alguns annos, como se os privilegios honrosos, ou os titulos illustres, e os morgados e reguengos foram seus d'elles, e não vossos. E como se de rei natural (que podiam ter e dar-vos) não fôra sempre o melhor quinhão o vosso, e dos mais senhores fidalgos a quem favorecia, conversava, e sabia o nome, e com quem distribuia a maior parte dos bens da sua corôa, ficando elle sómente com o estado, e titulo real, com as obrigações, e trabalhos de nos defender a todos, e governar. Porque quem vir com curiosidade as rendas da corôa, e bens patrimoniaes dos reis nas alfandegas, nos contos, e nas sizas da cidade de Lisboa, do Porto, e das mais, achará esta verdade clara, a saber: que todo o bom, e grosso estava repartido, e derramado em juros, tenças, morgados, reguengos, jurisdicções de vassallas, e vassallos, tudo desmembrado da corôa real nos senhores, e fidalgos do reino, de maneira que mais parecia o rei seu pai, ou almoxarife d'elles, que rei, nem senhor. Oh! mal afortunados tempos! Hora infeliz, e desaventurada, e lastima para sentir! Quem de todo não perdeu o juizo com as razões castelhanas de portuguezes elches!

Em novella, criada para as folgas de grandes damas, e galans mancebos, enfastiados d'outros gosos, qual romancista baixa das alturas da sua imaginação a historiar quadros sociaes de sapateiros? Se em Portugal os sapateiros lessem, tal livro seria comprado por uma classe e pagaria as fadigas do popular escriptor.

Eu lhes asseguro que, em suppostos casos, levo mais em vista nobilital-os que envilecêl-os pelo honrado trabalho de seus avoengos. Ainda assim, não está no meu animo diga-se verdade comparar ss. exc.as aos condes da Castanheira, nem confrontar-me a mim com Damião de Goes. Todos nós somos mais ou menos sapateiros nos baronatos e nas sciencias. Principia a desancar o valído. Palavra inintelligivel.

Pois não leu na sagrada escriptura, que é mais facil entrar um camello pelo buraco d'uma agulha do que um rico no ceu?... Não, senhor, não sabia isso. Pois póde acreditar que é a pura verdade. Sapateiros, ferreiros, lavradores, mendigos, gente, em summa, farta de trabalhar e de padecer, chega aqui a todo o instante, e não temos que estranhar a sua chegada.

Sem dinheiro, e sem avós, Alvaro achava-se aos vinte annos n'este mundo sem saber o fim para que viera, nem a fileira social em que devia perfilar-se. Pois não ha tantos officios? interrompi eu. Essa pergunta não me parece tua! Pois tu querias sentar n'uma tripeça um homem de intelligencia? Que duvida! Os sapateiros de Lisboa não tem um jornal?

D'onde se conclue que e más fadas ha. Mas Lisboa, com franqueza, não é de todo : as suas ruas estão povoadas de bellos e formosissimos edificios; os seus jantares, embora sem dinheiro, são abundantes; os seus hospedes vestem-se bem, não obstante faltar-lhes para isso o corpo e o sangue; as suas filhas de aguarella sabem calçar uma bota á Benoiton; Aline, a sua modista, tem algum gosto; Stellpflug e Manuel Lourenço, os seus sapateiros predilectos, contentam os seus freguezes; Barral tem bons remedios; o café, em geral, não é mau; os charutos satisfazem; os assassinos não tem sido demais; quem quizer tambem póde deixar de se suicidar; emfim, ella não é despiciente, acreditem: unicamente o que lhe falta é o espirito, isto é, o tic nervoso, que o bom senso; o enthusiasmo, que eleva as gerações; o fanatismo scientifico, que torna os homens celebres e audazes; o que lhe falta verdadeiramente é isso essa primeira parte da humanidade a que Shakespeare chamaria, talvez, o to be da humana existencia o caracter.

Trinta annos rodaram sobre esse facto de ridiculas convenções, e o filho do sapateiro é ainda hoje, e o mesmo será d'aqui a cem annos, um conviva chamado pela lei a sentar-se á mesa universal; mas a lei é uma tola: está o fiscal d'estas universaes communhões, que tranca os cancêllos do banquete, e diz ao filho do sapateiro o que Horacio lhe dizia: ne sutor ultra crepidam; ou tractent fabrilia fabri, que tudo quer dizer: «não se admittem sapateiros

Por que não hei de eu escrever historias de principes e de princezas, e deixar os sapateiros subir algum tanto na escala d'umas qualificações modernas que elles se vão inventando para seu uso, que a isso os obriga o menos-preço d'esta luminosissima e fraternal civilisação? O nome de sapateiro está a sumir-se. muitos do menoscabado officio se denominam artistas d'artes correlativas... dos pés.

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