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E porque o conde D. Sancho todavia se fazia prestes para o ir cercar, esses cavalleiros que com o Condestabre eram vendo-o com alguma fantesia de resistencia, a que a nobreza e esforço de seu coração o inclinava, consirando que não sómente á sua honra não cumpria faze-lo, mas que nos feitos do Infante seu padre podia muito danar, lhe disseram: «Senhor, estas maginações de defensão em que vos vemos, ou de esperardes no campo esta gente que vem, são por agora escusadas; porque a defesa d'armas e homens que tendes é nada em comparação dos que vem sobre vós, se cuidaes dar-lhe praça, e tambem para quem soes, e para o sangue de que descendeis, sabei que seria grande abatimento vosso esperardes cerco, quanto mais tão desesperado de socorro como sabeis que este seria, principalmente cercando-vos pessoa de menos condição que vós e com tanto poder a que não podesseis resistir, em especial vindo com nome d'El-Rei nosso Senhor, a que seria feio desobedecer, e mais se o assim fizesseis seria em todo desacatar ao Infante vosso padre, e não cumprir sua vontade nem mandado, pois vos deve lembrar que a voz e nome, e o serviço d'El-Rei nosso Senhor, sobre tudo vos encommendou e encommenda cada dia, pelo qual nosso conselho é, que logo vos passeis aqui a Valença, que é do Mestre d'Alcantara, em que ha esperança d'achardes melhor acolhimento, e leixae em vossas fortalezas vossos alcaides com a gente que as guardem e tenham por vós, com mandado vosso, que se El-Rei lh'as pedir ou enviar pedir, que descarregando-os de vosso preito e menagem, lh'as entreguem.

E El-Rei porque de sua real condição era para honrosos feitos mui inclinado, consirando a obrigação em que estava pela offerta e aparelho que para isso fizera que não cumprira, vendo-se em melhor disposição e com menos pejos, por razão d'estar sem mulher, e que para segurança de sua direita sobcessão tinha filhos ligitimos, elle com grande alegria e muita devoção, e com todalas pessoas principaes do reino acceitou a dita Cruzada.

E depois desto consirando El-Rei como o seu Moesteiro de S. Vicente de Fóra houvesse de ser milhor servido prepoz de poer em elle Capellães Clerigos onestos, e estando neste seu preposito, aconteceo chegar a Lisboa um Frade Flamengo de boa, e onesta vida, chamado Gualterio, e com elle quatro Frades seus companheiros, que vinham a buscar onde fizessem um Moesteiro da Ordem de que elles eram, para nelle viverem.

E consirando o Regente, como para o Janeiro do anno que logo entrava de mil e quatrocentos e quarenta e seis, El-Rei D. Affonso cumpria idade de XIV annos, em que, segundo fôro d'Espanha, qualquer Principe Real deve haver inteira posse e administração de seu reino e senhorio, e lembrando-se isso mesmo da obrigação em que por sua e juramento ficara de a este tempo livremente lhe entregar o reino, querendo inteiramente assi cumprir, fez para isso côrtes geraes e solemnes em Lisboa, e na salla grande dos paços, sendo El-Rei com os Infantes e senhores, e seus officiaes e procuradores, em sua costumada e antiga ordenança, o doutor Diogo Affonso Mangancha, em nome do Infante D. Pedro, fez uma louvada oração, cuja sustancia se concludio em quatro cousas.

Especialmente o moveu a isso com maior cuidado e diligencia levar esperança que o Infante D. Fernando havia de casar com uma de suas filhas, de que estando em Fez lhe enviara sua certidão, consirando que seu conselho e auctoridade lhe podia por isso em sua deliberação muito aproveitar, e D. Fernando para o mais obrigar havendo sua soltura por certa, lhe levava feitos á sua custa todolos corregimentos que para a pessôa, cama e mesa de um tal Princepe eram pertencentes.

Depois que o Principe D. Affonso Anriques tornou de ganhar Leiria, e Torres Novas, esteve em Coimbra alguns dias, e vendo que tinha suas terras, e Fortalezas mui providas, e postas em ordem do que lhe compria, e tambem que de Castella estava seguro de guerra por algumas rezões que a Estoria não declara, consirando elle, que não devia, nem podia milhor empregar o bem, e honra que seu pai, e elle ganháram, que em serviço de nosso Senhor de cuja mão a tinham récebido, e como não havia então nhum serviço de Deos mais necessario em Espanha occupada de Mouros, que serem guerreados, e lançados fóra della, segundo fora sempre seu proposito, e vontade, houve conselho com os seus de fazer guerra nas terras de Alentejo especialmente na Comarca do Campo Dourique, e esto por duas rezões, a primeira, porque a terra era mui povoada, e de poucas Fortalezas, em que os seus haveriam assaz mantimentos, e prezas; a segunda, e principal porque se El-Rei Ismar, que regia em Espanha toda a maior parte dos Mouros contra Ponente, viesse a peleijar com elle, e dando-lhe Deos delle o vencimento que esperava, toda a terra que se chama Estremadura, que era sob seu senhorio, não haveria poder de se lhe defender, e o Princepe D. Affonso tinha que iria acompanhado de tão boa gente, que era bastante para peleijar com elle.

O primeiro d'estes bem sinto que é um bom desejo da alma, a que por ventura consirando tudo sem paixão eu devia ser mais conforme. O segundo é apetito do corpo e da honra, em que sinto tamanhas forças, que me inclinam a elle de todo, e n'esta tamanha diferença e torvação a que meu juizo não abasta, quero saber de vós o que vos parece.».

Acordâmos em uma voz e acordo, todolos fidalgos, cidadãos, e homens bons da cidade de Lisboa, consirando o trabalho e grande destruição que em todo o reino ha por causa de ter diversos Regedores, entre os quaes sempre era divisão, em grande damno e perda de todo o reino, querendo a cidade remediar a serviço de Deus e d'El-Rei nosso Senhor, como aquella que sobre todas as cousas d'este mundo mui leal e verdadeiramente o ama, todos em uma voz acordamos, e determinamos que n'estas côrtes que ora prazendo a Deus serão feitas, conhecendo nós a grande lealdade e muita prudencia do muito alto e muito excellente Principe e Senhor o Infante D. Pedro, e como é filho legitimo do muito poderoso e virtuoso Rei D. João nosso Senhor, cuja alma Deus haja, e o mais ancião sangue chegado á mui alta e real corôa do muito excellente e poderoso Principe El-Rei D. Affonso nosso Senhor, que elle dito Senhor Infante D. Pedro seja Regedor livremente e in solido n'estes reinos, e até que prazendo a Deus, El-Rei nosso Senhor, que sobre todos mais lealmente amamos, seja em edade para os por si poder reger e deffensar, ao qual tempo o dito Senhor Infante D. Pedro seu leal sangue e vassalo leixará livremente a possessão de seus reinos e senhorio; e lhe entregará a ministração e Regimento d'elles pacificamente, para El-Rei nosso Senhor os governar e reger, como fizeram os mui virtuosos Reis d'onde elle descende; e vindo tal caso, que o Senhor Infante D. Pedro não possa ter o Regimento e governança dos ditos reinos, que por esta fórma e maneira seja dada e a haja o mui leal Principe e Senhor Infante D. Anrique seu irmão; e fallecendo elle, seja por o semelhante dada ao Senhor Infante D. João; e por esta guisa ao Senhor Infante D. Fernando, que Deus de terras de mouros traga com bem e liberdade a estes reinos; e fallecendo todos ante que El-Rei D. Affonso nosso Senhor seja em edade para reger, que então por esta fórma venha o dito Regimento ao conde de Barcellos, e aos condes d'Ourem e d'Arrayollos seus filhos, com todas as clausulas e condições suso escriptas.

Porque o Papa por ventura aconselhado n'isso catholicamente, consirando como El-Rei D. Fernando com a Rainha D. Izabel sua mulher eram pacificos Reis de Castella, e El-Rei D. Affonso era n'elles em forças e poder mui desigual, houve por grande mal e perjuizo da christandade conceder a dita despensação, em caso que parecesse razão por ser direito conceder-se, por não dar com ella causa e titulo de uns e outros se guerrearem com mortes de christãos, e guerras continuas que se não escusavam, o que o Papa devia evitar especialmente; que ajuda d'El-Rei de França para El-Rei D. Affonso sempre em Roma se houve por mui duvidosa.

O Infante D. Pedro por recados e cartas da Rainha e do Priol que foram tomados e trazidos a elle dos portos que se guardavam, foi certificado como procuravam metter gentes d'armas de Castella em Portugal, e bastecer as fortalezas que sustinham sua voz com armas e mantimentos de fóra, e assi se fazerem alguns alevantamentos no reino contrairos a seu Regimento, para que soube certo que em uma parte e na outra se faziam trigosos percebimentos, e consirando camanho dano se seguiria a dar-se logar a isso, e não se atalhar, determinou com accôrdo dos Infantes, com quanto era entrada de inverno, de logo se poer cêrco ao Crato e ás outras fortalezas do Priol, e cobra-las por força ou partido, como mais fôsse possivel.

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