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Pouco depois apparecia á porta o sapateiro com o ar petulante de quem está resolvido a dizer tudo sem rodeios, e a assumir inteira responsabilidade dos seus actos. O sr. Julinho, chamou? Chamei, mestre. Venha cá... Prompto! E o sapateiro avançou dois passos na sala, de cabeça erguida e olhar firme. Então como é isto? ia Julio a dizer. Mas o sapateiro interrompeu-o, sem o deixar concluir.
E fui eu que dei co'ella na estrada, como morta, sem dar por burro nem por albarda... E depois, n'um movimento de duvida: Mas olhe lá, ó sr. Julinho, a carta diz isso? Sem duvida, mestre, a carta é de Helena... Diz que está doente e pede a madre Paula que venha vêl-a... Agora... agora!
Julinho, mas faça favor de ter cautela, que m'o não estraguem, que é o meu ganha-pão... Vá descançado, mestre Tomba. O santo fica a meu cuidado... Ninguem cá lhe bulirá n'elle... Atão quando quer o sr. Julinho que eu vá? O mais depressa que possa... Eu vou já hoje, se fôr preciso...
O Cavalleiro, rindo, amansou aquelle fervor faustoso: Não, meu caro Barrôlo, não! Nós preparamos uma eleição muito sobria, muito socegada. Villa Clara elege Gonçalo Mendes Ramires deputado, naturalmente, como o seu melhor homem. Não ha combate, o Julinho é uma sombra. Portanto... O Barrôlo persistia, radiante, gingando: Perdão, André, perdão!
Julinho diz que a carta foi escrevida pela snr.^a D. Helenia, atão a coisa está bem clara: a doente que lá está e que eu topei na estrada é ella! Julio ouvira com extraordinaria commoção a narrativa do sapateiro. Ah! meu Deus! exclamou até que emfim a encontro! E voltando-se para madre Paula: Minha senhora, pois que foi chamada por Helena, cumpre-me conduzil-a á casa onde ella se encontra.
Essa suspeita, porém, em breve se lhe desvaneceu, em presença da attitude lhana e amavel do secerdote. Este parece que é vinho d'outra pipa! commentou comsigo o sapateiro Mas támem se o não fôr, o que eu quero é lá pilhal-o, porque, depois, quem manda é o sr. Julinho e mais eu... E se se fizer fino, lá ainda ha de haver quem lhe troque a corôa em mindos p'ra lhe metter juizo á força na cachola...
Como arranjou você esta carta? São d'ella!? disse por sua vez o Tomba muito admirado. Se esta carta não é escripta por Helena tornou Julio de Montarroyo então alguem lhe imitou a lettra e a assignatura. O mestre dirá quem foi... E a carta o que diz, ó sr. Julinho? interrogou o sapateiro com grande interesse. Pois você não o sabe, mestre? Eu não, senhor!
Conte-me cá, mestre Tomba, o que é feito de você? O que foi feito de D. Carlota, do padre Anselmo e d'aquelle doidivanas do Alvaro de Noronha? Pois vossa incellencia não sabe? disse o sapateiro admirado. Nada! Não sei nada. Pois já tudo isso lá vae! Tudo? Tudo ou acaijo tudo... Inté é de inorar o sr. Julinho não saber as desgracias todas que se déram logo assim que o sr.
Julinho támem não dava rumor de si... tratei mas foi de governar a minha vida... Os freguezes, como eu andei por lá todo aquelle tempo, sem dar nova nem recado, foram ó aprendiz buscar os sapatos e levaram-n'os a oitro... O senhorio, como eu não paguei o aluguer, tomou-me conta da farramenta do officio e poz-me o rapaz na rua! Veja lá o alma do diabo, que inté co'a tripeça me ficou!
Diga-me uma coisa, mestre: você seria capaz de dar conta de uma incumbencia que eu desejo fazer-lhe? Ó sr. Julinho! que me pedirá vossa incellencia que lhe eu não faça?! Bem! Desejava eu que você fosse ao Porto e indagasse nas Sereias ou no Sardão, se ainda lá está como abbadessa uma senhora chamada madre Paula... Madre Paula... disse o sapateiro procurando reter na memoria este nome.
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