Vietnam or Thailand ? Vote for the TOP Country of the Week !
Atualizado: 3 de novembro de 2025
Que lhe importavam a linda Inez de rojo a seus pés, as iras do filho apaixonado, a politica do reino, as Hespanhas, os Castros? Uma trapeira, que, toda envolta em arroz de telhado, era como um ramalhete, n'uma rua estreita, escura, tortuosa, para lá lhe tugia o pensamento.
Na trapeira passava as horas a scismar n'essa rapariga quasi tisica, com um ar de mascara que vae gritar d'afflicção. A Mouca foi amada como as princesas lendarias, e esses amores entre um philosopho esfaimado e uma mulher da vida, tinham não sei que enternecido interesse.
De que me vale preparal-o, consummindo a vida, se me foge antes de o gosar? Viver obscuro! embora n'uma trapeira, mas ter um dia, ao menos, a mais pequena realidade de tantos sonhos! Ter que apalpar entre as visões brilhantes, sem corpo, e que nos mentem sempre. Viver obscuro!
N'uma trapeira o gato pingado quer dizer: Amo-te! mas foi sempre tão nú que não sabe exprimir o que sente. Na alma d'aquella creatura humilde, despida e escarnecida, que tinha medo de sonhar e até de chorar, fizera se um clarão. Tal o espanto enternecido d'uma pedra, a que uma raiz se apega e que a olha deitar flôr na primeira primavera.
N'este casarão onde móro a toda a hora se ouve o ruido da levada; corre sempre como as torrentes desordenadas e esplendidas. Escutae!... Préga o inverno bravio, o vento e os aguaceiros passam, mas escutae, escutae!... São meus visinhos, lá em baixo mulheres perdidas, ao pé de mim dois casados, e na trapeira um gato pingado, a quem chamam S. José.
Toda a noute o sineiro tem secretos Desejos de espreitar como é que eu passo!... Imita o som dos sinos indescretos... E canta, n'uma voz que abala os tectos, Ao som das cambalhotas do palhaço! E assim eu vivo só n'uma trapeira... Onde as pennas das pombas deixam rastros... Exposta todo o dia á soalheira, E onde passo dormindo a vida inteira, Nas visinhanças limpidas dos astros!
Eu reconstituia o grupo dos trez: a mesa encostada á parede na trapeira muito baixa, o velho aspirando os perfumes da sopa, a terrina sobre a toalha muito branca, o pequeno defronte do avô, e a mulher a sorrir-lhes, ouvindo-lhes as historias, o throno, o presepio, a missa, o canto das freiras, a vinda por ali abaixo a horas mortas, a minha perseguição. E o pae do pequeno?
O padre Theodoro d'Almeida, que escreveu muito sobre os astros, diz-me meu pae que o vira muitas noites na trapeira dos Congregados a contemplar a natureza. Vmc.e é que sabe responder, senhor Fernandes... E, de mais d'isso, eu estou muito contente com minha mulher.
Eu ter entre as mãos uma vida e vel-a finar-se!... E eu que tinha pena de ti!... O Gabiru reflecte. A noite é espantosa. Toda a lua se desfaz em luar e, no silencio branco, vem-se da trapeira, os montes, o mar e as arvores, com fórmas de sonho. Pobre de ti! diz por fim o philosopho Tu és a terra, tu és a terra a falar... Tu és só terra. Eu não vivi?
A esta hora da noite em que o universo parece deshabitado e em que até o rumor da penna no papel me faz medo, fecho-me sobre mim mesmo e escuto-me: alguma coisa, que não sou eu proprio, se põe então a murmurar baixinho. E eis-me perdido, no canto d'uma negra trapeira, encolhido e esguio, a sonhar em quê? N'esta belleza infinita, o universo igneo... Deshabituei-me de falar, mas sonho.
Palavra Do Dia
Outros Procurando