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DURIANO. Levaste-me o meu bem n'hum momento; Levaste-me com elle juntamente De cobrá-lo jamais a confiança: Deixaste-me em lugar delle sómente Huma contínua dor, hum grão tormento, Hum mal, de que não póde haver mudança. Tu, qu'eras a esperança Dos males que, cruel, tu me causaste, De todo te trocaste, Com Amor conjurada em minha morte.

A mi não me fizeste Alguma sem razão; que bem conheço Que tanto não mereço: Fizeste-a áquelle bem firme e sincero Que sabes que te quero, Em lhe tirar a gloria merecida. Perca, quem te perdeo, tambem a vida. DURIANO. Cresce cad'hora em mi mais o cuidado, E vejo qu'em ti cresce juntamente Cad'hora mais de mi o esquecimento.

DURIANO. Veja-t'eu, crua, amar quem te desame, Porque saibas que cousa he ser amada De quem tanto aborreces e desprezas. Veja-t'eu ser ainda desprezada De quem tu mais desejas que te ame, Porque sintas em ti tuas cruezas, Sintas tuas durezas, E quanto póde o seu cruel effeito N'hum coração sujeito.

DURIANO. Regendo em outro tempo o manso gado, Tangendo a minha frauta nestes vales, Passava a doce vida alegremente: Não sentia o tormento destes males; Menos sentia o mal deste cuidado; Que tudo então em mi era contente. Agora não somente Desta vida suave m'apartaste. FRONDOSO. Juntamente viver compridos anos, Os fados te concedão, que quizerão Ajuntar-te com tal contentamento.

Perca, quem te perdeo, tambem a vida. DURIANO. Nenhum bem vejo, que a meu mal espere, Se não fosse esperar que morte dura Me venha emfim a dar a saudade. Vejo faltar-me a tua formosura; A vontade me diz que desespere, Contradiz-me a razão esta vontade.

E no tronco de huma árvore estara, N'huma rude cortiça pendurado Escripto co'huma fouce, e assi dirá: Almeno fui, pastor de manso gado, Em quanto o consentio minha ventura, De Nymphas e pastores celebrado. Se algum dia, por caso, na 'spessura Se perder o amor e a affeição, Tirem a pedra desta sepultura, E em figura de cinza os acharão. FRONDOSO e DURIANO.

Logo se faz tão Senhora, Logo lhe ameaça a vida, Logo se mostra nessa hora Muito segura de fóra, E de dentro está sentida. Bofé, segundo vou vendo, Se esta postema vier, Como eu suspeito, a crescer, Muito ha que della entendo O fim que póde vir ter. Duriano e Filodemo.

E attentae isto por me fazer mercê: cuidareis que este caso era solus peregrinus: sabei que os não a fortuna senão aos pares, como quédas. Duriano e o Monteiro. DURIANO, como cantando. Ti ri ri, ti ri rão. Que he isso, Senhor Duriano? Que descuidos são esses? Onde he a ida agora? Vou assi como parvo, porque o melhor he não saber homem nada de si.

De siso não, porque o siso Me tẽe tirado o amor. Porque o amor, se attentais, N'hum tão verdadeiro amante Não deixa siso bastante; Senão se siso chamais A doudice tão galante. Como Deos está nos Ceos, Que se he verdade o que temo, Que fez isto Filodemo. Mas fê-lo o démo; que Deos Não faz mal tanto em extremo. Bem. Vós, Senhor Duriano, Porque zombareis de mim? Eu zombo? Eu não m' engano.

DURIANO. Então, cruel, verás se te merece Com tamanho desprêzo ser tratada Hum'alma, que d'amar-te se preza. Mas como poderás ser desprezada, Se o menos qu'em ti fóra se parece, Póde abrandar dos montes a aspereza? Porque se a natureza Em ti o remate poz da formosura, Qual será a pedra dura, Qu'a teu valor resista brandamente?

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