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A vós pois recorro, ó Mãe de Misericordia. Eu tenho perdido o Pae, perdendo a sua graça com o meu peccado; mas nesta minha tão grande desgraça, vós que sois minha Mãe, vós é que me haveis de ajudar. Grande consolação me causa Innocencio III dizendo: Quem jámais vos invocou, e não foi por vós ouvido? Quem jámais se perdeo, que arrependido, e humilhado recorresse a vós!

O Monteiro, um pastor e um bobo. Perdeo-se por esta brenha Venadoro, meu Senhor, Sem que novas delle tenha: Queira Deos que inda não venha Desta perda outra maior. Contra esta parte daqui Des pos hum cervo correo, Logo desappareceo: Como da vista o perdi, O gosto se me perdeo.

Perca, quem te perdeo, tambem a vida. DURIANO. Nenhum bem vejo, que a meu mal espere, Se não fosse esperar que morte dura Me venha emfim a dar a saudade. Vejo faltar-me a tua formosura; A vontade me diz que desespere, Contradiz-me a razão esta vontade.

Vendose Almaçor com a tal presa, Como Aguia Real voou com ella, Logo que a furtou com ligereza Perdeo de vista os Reynos de Castella, E veo aqui portar nesta deveza Do Douro onde então estava aquella, Povoação, e paços, donde Gaya, A qual ahi está junto da praya.

Ólha em Lesbos aquella No seu salteiro insigne conhecida; Dos muitos que por ella Se perdêrão, perdeo a chara vida Na rocha que se infama Com ser remedio extremo de quem ama. Por o moço escolhido, Onde mais se mostrárão as tres Graças; Que Venus escondido Para si teve hum tempo entre as alfaças, Pagou co'a morte fria A vida que a muitos ja daria.

Esta a paixão, que he hoje dominante, E nisto he que a função se faz brilhante, Sendo do Alcorão que no outro dia Se murmure de quem nella perdia, Dizendo-se: Fulano perdeo munto! Cento e tantos mil reis tinha elle junto, Em menos de huma hora, mas virou, Perdeo o ganho, e a bolça despejou. Hum Fulano de tal, que appareceo, Esse quanto puxou tudo perdeo.

E porque vos não pareça, que foi mais acertar, que querê-lo fazer; vêdes, vai outra do mesmo jaez, com tanto que se não a pasmar. Perdigão perdeo a penna, Não ha mal, que lhe não venha. Em hum mal outro começa, Que nunca vem nenhum; E o triste que tẽe hum, A soffrer outro se offreça; E pelo ter conheça, Que basta hum que tenha, Para que outro lhe venha.

Vendo a sua figura peregrina Que a fonte dentro em si representava, Se perdeo por imagem tão divina. Como ja, d'enlevado, não cuidava Nos enganos que a sombra lhe fazia, Vendo o formoso rosto, suspirava. Por as avaras ágoas se metia; E quanto mais molhava os tenros braços, Então mais vivamente o fogo ardia.

Ora vierão huns embuçadetes, e quizerão entrar por fôrça; ei-lo arrancamento na mão: derão huma pedrada na cabeça ao Anjo, e rasgárão huma meia calça ao Ermitão; e agora diz o Anjo que não ha de entrar, até lhe não darem huma cabeça nova, nem o Ermitão até lhe não pôrem huma estopada na calça. Este pantufo se perdeo alli; mande-o v. m. Domingo apregoar nos pulpitos; que não quero nada do alheio.

Tanto emfim, por seu damno se perdeo, Que o longo imaginar em seu tormento, Em desatino Amor lh'o converteo. Oh forçoso vigor do pensamento, Que póde em outra cousa estar mudando A fórma, a vida, o siso, o entendimento! Está-se hum triste amante transformando Na vontade daquella, que tanto ama, De si a propria essencia transportando.