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Kobe, março de 1902. A Joaquim Costa Viveu em remotos tempos, n'um logarejo da costa do Japão, Urashima, um moço pescador. D'este simples, pouco ia tagarelando a visinhança: que tinha um coração propenso ao bem, e que em destreza ninguem o igualava, tratando-se de artes de linhas e de anzoes; nada mais, mas não era pequeno o elogio. Ora, um bello dia, saiu elle a pescar, sósinho no seu barco.

seguem os dois pelo mar fóra. Urashima empunha a esparrela da pôpa, maneja-a com denodo, dá-lhe podera não! forças herculeas a ancia de chegar; a princeza poisa no outro remo as mãos franzinas, e vae sorrindo ao companheiro.

Tres annos decorridos. Um dia porém Urashima acerca-se da esposa e diz-lhe pouco mais ou menos o seguinte: que a adora e se sente ditoso, mas cresce-lhe o desejo de ir vêr a sua aldeia, o velho pae, a doce mãe, os irmãos, os antigos companheiros de trabalho; e promette voltar após curta visita.

E partiu, e abordou o solo patrio... O que quer que era de bem estranho se passára durante a ausencia de Urashima. Aonde estava a sua aldeia? aonde se erguia a cabana de seus paes?

Talvez leviandade, talvez mofino séstro, que tantas vezes guia o homem a seguir pelo caminho prohibido... Do cofre aberto, que continha nada menos do que a essencia dos longos annos corridos, e ao mesmo tempo descontados na existencia de Urashima, escapou-se e pairou no espaço uma ligeira nuvem esbranquiçada.

E Urashima, no seu barco, vencido tambem pelos ardores d'aquella hora, largou das mãos os remos e as linhas, encostou-se á bancada e adormeceu. No entretanto, eis que surge das aguas um vulto feminino, encantador. O episodio, que a tradição do povo foi retendo até aos nossos dias, póde agora reconstituir-se em pensamento.

Então, como um relampago que acode subitamente pela noite, a illuminar a estrada, uma idéa acudiu de subito ao pensamento de Urashima, a allumiar-lhe o espirito. Elle alli estava, volvido á patria, poisando os pés descalços no areal da sua querida aldeia, relanceando as curvas da paizagem em que por tantos annos a vista se poisara, e a recordação lhe gravára para sempre na memoria.

Sobre o convez do esquife, poisa esse vulto, essa fada adoravel de feitiços, envolta em roupas carmezins, solto o cabello ás brisas e corôada a fronte com o diadema de oiro, que é apanagio das princezas; estende o braço de neve para o adormecido, toca-lhe na fronte com as pontas dos dedos delicados, e diz-lhe de manso estas palavras: «Acorda, Urashima, escuta-me; eu vou contar-te quem eu sou; sou a filha do deus do oceano immenso, habito com meu pae o palacio do dragão, no seio das ondas; a tartaruga, que ainda ha pouco colheste e restituiste á liberdade, era eu propria; meu pae impoz-me um tal disfarce, para que assim podesse estudar-te bem os sentimentos; por sua ordem e meu aprazimento pessoal, serei a tua esposa, se me queres; mil annos viveremos sempre juntos, sempre jovens, sempre felizes, no palacio do dragão, sob o azul das aguas...»

E que pescou Urashima d'essa feita? Oh! a sorte sorria-lhe em tal hora... pescou uma enorme tartaruga, com a casca espessa e dura, a cabecita rugosa, denunciando assim a grande vetustez; é notorio que as tartarugas vivem muito; vivem mil annos, no Japão.

O palacio do deus do mar, no abysmo das ondas, com as suas paredes de renda de coral, com os seus pomares de folhas de esmeraldas e fructos de perolas e rubis, e os seus peixes de escamas prateadas e olhos de brilhantes, e os seus dragões de caudas de oiro fino, não pertencia á terra, era do mundo dos prodigios, regia-se pelas leis do encantamento; um dia, dos seus dias, valia por muitos annos, dos nossos annos; e assim, sem que Urashima o suppozesse, seculos sobre seculos haviam passado sobre a terra, matando, destruindo, transformando, arrastando as coisas e os individuos á fatalidade dos destinos, ao aniquilamento, ao , ao nada, surgindo das ruinas outros aspectos e outros seres...

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