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Mas um anno, em Espinho, fez-se uma terrivel conspiração contra D. Serafina: meninas e meninos de vinte annos combinaram entre si empregar esforços para que a cigana da Mealhada não tornasse a dançar; um rapaz do Porto, a quem ella disse uma vez Sempre mostra que é tripeiro! foi o chefe da conspiração.

Durante oito annos consecutivos, a D. Serafina Barros, da Mealhada, foi com o marido tomar banhos do mar em Espinho. Aquillo era sabido: no dia 15 de agosto partiam; a 15 de outubro recolhiam á Mealhada.

Mas na Figueira havia grande numero de hespanholas e de portuguezas novas, que dançavam sempre. Serafina estava fula, e um dia fez com que o marido se entendesse com um dos directores do Club, o Peres, de Leiria. V. ex.ª, disse-lhe o Barros, na sua qualidade do director deve zelar igualmente os direitos de todos os socios.

O Barros procurava acalmal-a: Que o snr. D. Antonio não era homem a quem se pedissem commendas. Ria-se d'isso. Mas Serafina não se calava nunca por falta de argumentos: Ah! o snr. D. Antonio ria-se d'isso! mas elle proprio quizera ser bispo, que era uma especie de commendador da egreja ou mais ainda!

Agora, que orçava pelos quarenta e dois annos, era preciso que D. Serafina fosse procurar a dança aonde quer que a houvesse, visto que espontaneamente a dança não vinha procural-a a ella.

A coisa chegou a ponto de que n'uma noite de menor concorrencia, n'uma quadrilha franceza, dançaram com perna de pau, indo o par marcante fazer coté, tendo Serafina ficado sentada e estando disponivel um caloiro de Coimbra. Serafina jurou aos seus deuses não voltar mais a Espinho; e no anno seguinte o Barros levou-a á Figueira da Foz.

O cavalheiro, fulminado por esta perfidia amavel, inclinava a cabeça ao sacrificio, offerecia o braço a D. Serafina, e ia dançar com ella. O Barros ficava contentissimo com o bom resultado da sua diplomacia, porque não podia aturar a mulher quando ella não conseguia dançar.

O Barros desculpava-se: que o Lemos era um trunfo politico, por ter em Lisboa um genro que fôra ministro tres vezes, e que se lhe dançavam com a mulher era para fazer a bôca doce a elle e a ella, por causa do genro; quanto á mulher do Barradas, «bem sabes tu, Fininha, o motivo porque ella dança sempre... á custa da reputação do marido.» D. Serafina não se dava por convencida.

Se o cavalheiro respondia que estava compromettido, como então se dizia, para as tres primeiras quadrilhas, se nenhum pequeno de treze annos havia convidado D. Serafina para dançar, o Barros, tendo lido um jornal ou dado uma volta pela sala da roleta, vinha espreitar da porta a mulher dizendo com os seus botões: Está como uma bicha! E estava.

Fôra providencial aquella corneta tocando a recolher. E D. Serafina, durante quinze dias, perguntava com um sorriso de agradecimento ao Peres de Leiria: Quando volta o seu amigo capitão? Na Ericeira N'esta bella Ericeira, á beira mar plantada, faltam principalmente duas cousas... além de outras muitas: não ha flores nem passeios.