Vietnam or Thailand ? Vote for the TOP Country of the Week !
Atualizado: 20 de setembro de 2025
O Peres teve um pensamento machiavelico: impingir-lhe D. Serafina. Estava-se já organisando uma quadrilha. De pé, alguns pares esperavam. Um amador de salsifrés, Justino Soares, por vocação, andarilhava, combinando vis-á-vis.
Serafina acceitára com muito gosto: que sim, que tinha muita honra. O Peres disse ao capitão Lamprêa que lhe ia arranjar vis-á-vis. Mas n'isto ouviu-se tocar uma corneta, e o capitão Lamprêa, voltando-se rapidamente para D. Serafina: Ora esta! exclamou. Chama-me o dever. Já não tenho tempo de dançar! Que contrariedade! Mas á volta, minha senhora, terei a honra e o prazer de dançar com v. ex.ª
Sim, que visse, que reparasse, continuava Serafina. Ao passo que ella passava noites inteiras sem dançar, tendo a consciencia de ser uma esposa virtuosa, a Barradas andava sempre n'uma roda viva, e a filha do Saraiva de Mogofores, que fugira com um quintanista de direito para o Bussaco, e estivera lá dois dias com elle, não chegava para as encommendas na assembléa de Espinho.
Elle Barros bem sabia que a sua Fina, quando casou, tanto podia ir para o ceu como para o leito conjugal, porque não se podia ser mais donzella; e depois que casou, nunca ninguem se atrevera com ella, nem mesmo o escrivão de fazenda, que era baboso por mulheres. E isto era exacto. A honradez de Serafina tinha duas muralhas que a defendiam: a virtude e a fealdade.
O Peres, poisando o braço direito sobre os hombros do capitão Lamprêa, avançou na sala, e aproximando-se de Serafina solicitou para o seu velho amigo e condiscipulo a honra de uma quadrilha. O capitão Lamprêa recuou instinctivamente. Mas o Peres, ao ouvido, dizia-lhe com um sorriso de malicia. O que?! Um militar portuguez não recua nunca!
Que elle não dançava, mas que havia de fallar aos rapazes, e de os apresentar á snr.ª D. Serafina. Mas o Peres nada poude conseguir dos rapazes: que não, que lá esse sacrificio não faziam elles. Que a D. Serafina era um monstro indançavel.
D. Serafina pensava durante o resto do anno n'esse gaudio balnear, esperava-o com uma certa anciedade, porque a Mealhada era, a respeito de salsifrés, uma terra morta, e D. Serafina tinha pela dança uma paixão feroz.
O proprio Barros algumas vezes ouvia estes remoques, e em casa, timidamente, com um grande medo da Serafina e da logica, dizia-lh'o. Ella replicava: Deixa-as rir: é inveja. Muitas vezes me disse o papá que eu, se não fosse tão alta, era tal e qual a snr.ª D. Carlota Joaquina. Salvo seja!... acudia o Barros. Nas feições, homem de Deus.
N'estas discussões domesticas sobre a eterna questão da dança, era sempre Serafina que ficava victoriosa. O Barros reconhecia n'ella superioridade de raciocinio, força de logica. Cada pessoa, pensava elle, tem pelo menos um defeito. Ora as mulheres, quando são espertas, ainda que tenham o seu defeito, sabem sempre desculpal-o. O homem tem a força do pulso; a mulher tem a força do argumento.
Palavra Do Dia
Outros Procurando