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A ligeira neblina que se levanta do porto e envolve a estatua de Colombo, negra sobre a pedra branca da doca, parecia que envolvia tudo, que dava ás coisas a tristeza que estava n'elles. E Renée chorava, abraçava-se muito a André, obrigava-o a prometer-lhe longas e amiudadas cartas e uma viagem a Paris, quando voltasse, no anno seguinte, de Florença.

A principio a vida foi dura para André entre os professores indifferentes que tomavam as lições sonoleando, e mademoiselle Renée, hostil, que, pensava elle, tinha causado a partida da miss, linda como uma dessas santas serenas e indulgentes, que teem sempre, nos dedos em fuso, o gesto da benção.

Na manhã seguinte partiu para Genova n'um liner da Liguria. Com elle regressavam á Italia cantoras do Liceu. Notou uma comprimaria delgada de cabellos e olhos pretos, que trazia do mercado da Rambla um grande mólho de flôres. Olhou para ella com desejo e n'esse desejo se surpreendeu, quasi esquecido de Renée.

Perseguia-o a lembrança do perfume, a macieza e a côr do cabello d'um loiro palido como um sol convalescente, a frescura da pelle fina, todo o encanto e todo o Amôr da deliciosa Renée que o iniciára e que o amára e de quem sentia ainda as lagrimas amargas que se misturavam aos beijos tristes que ella lhe dera nos curtos dias da despedida. E André chorou.

Mas Renée Viardot tudo suportava com paciencia, lançava-lhe olhares enternecidos, queria afagal-o até, beijal-o num impeto em que brilhavam os seus olhos claros; mas André fugia logo, apesar dos quatorze annos, como uma creança indocil. No verão davam as lições na quinta, em baixo, junto aos tritões, numa rotunda assombreada.

Facilmente feito o conhecimento, os dois dias de viagem foram rapidos em inconsequentes flirts, alegrias de dança na tolda e leves concertos no salão. Em Genova se separaram e André partiu para Florença ligeiro e esquecido, com um certo prazer de se ter separado de Renée, que, agora o sentia, começava a pesar-lhe.

ante , Renée entrou e, curvando o corpo n'uma atitude provocante, agarrou-lhe na mão e segredou-lhe: Quer saber o meu perfume? A bocca vermelha e seca ria-se, contrafeita. Ha dias, não tive tempo para lhe dizer... Aproximou-se d'André, apertou-lhe as mãos, deitava-lhe, ao falar, um halito perfumado e quente. Quer saber? insistiu.

E assim, por uma tarde triste, conseguiu André leval-a, pelo passeio da Aduana fóra, entre as palmeiras, á estação. E os beijos cantaram, demorados e angustiosos, nas bocas dos amantes, até que uma voz rouca gritou: Viajeros, al tren! e o comboio silvou e partiu. André ficou a vêr o lenço de Renée e o comboio que se perdeu n'uma curva, fumegando. Dolorosa foi, para André, essa noite.

Numa tarde quieta e quente, como estivessem juntos e Renée tivesse ao cólo um livro que interessava André e de que lhe explicava uma passagem, elle inclinou-se mais sobre o seu braço, quasi a tocar-lhe na musselina transparente da blusa, poude sentir o perfume brando e sensual e, interrompendo mademoiselle, perguntou-lhe bruscamente: Que perfume usa?

Mas os annos passavam, André fez os seus estudos e o marquez mandou-o para Florença. Renée regressou a França. Partiram juntos, por mar, para Barcelona. Foi entre beijos, que sulcaram o Mediterraneo calmo e transparente, aqui azul-ferrete, além verde-claro, logo ensolado e doirado, sempre transparente.