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Um dia, despertou quando as aves findavam o hino da alvorada, quando o orvalho escorria das árvores como chuva ligeira. Um ruído de ramagens chamou a sua atenção. Viu avançar então um vulto cor de freixo, de andadura oscilante, aos pulos, acocorado nas mãos posteriores; a sua estatura excedia a da pantera.
Com ella, como dous novos esposos, E a lua então contou-nos mil segredos! Ella vinha estreitada contra mim E atravez das veredas seculares, Dava a lua umas sombras singulares Á sua alva botinha de setim!... Não haviam estatuas nas veredas, As estatuas crueis entre as ramagens! E ouvia-se o ranger das suas sedas Sobre as folhas, segindo-a como uns pagens.
Elle faz alli um claro, suave remanso, a repousar da lenta, abrazada jornada que traz, através do deserto, desde o lago de Galilêa: e antes de mergulhar para sempre no amargor do Mar Morto alli preguiça, espraiado sobre a areia fina; canta baixo e cheio de transparencia, rolando os seixos lustrosos do seu leito; e dorme nos sitios mais frescos, immovel e verde, á sombra dos tamarindos... Por sobre nós rumorejavam as folhas dos altos choupos da Persia: entre as hervas balançavam-se flôres desconhecidas, das que toucavam outr'ora as tranças das virgens de Canaan em manhãs de vindima; e na escuridão fofa das ramagens, onde já as não vinha assustar a voz terrivel de Jehovah, gorgeavam pacificamente as toutinegras.
Estes outeiros, elevando-se garbosamente em ondulações suaves, eram tablados do mais colorido e pittoresco scenario o magnificente scenario pintado pela mão da natureza, ao ar livre, com ramagens reaes e pujantes de seiva e frescura, debaixo d'um ceu offuscante de belleza. Tudo era poesia, tudo era amôr.
Ah, mas agora, com que segurança e idyllico amor elle se movia através d'essa Natureza, d'onde andára tantos annos desviado por theoria e por habito! Já não arreceiava a humidade mortal das relvas; nem repellia como impertinente o roçar das ramagens; nem o silencio dos altos o inquietava como um despovoamento do Universo.
Augusto pouco se demorou n'esta sala; respeitando a alcova conjugal, que era vedada aos olhares profanos por uma colcha de chita de largas e folhudas ramagens, tomou pelo corredor, que conduzia á cozinha d'onde lhe continuava a chegar aos ouvidos o som de vozes, que primeiro o attrahira.
Eram guarnecidas por bambinellas brancas, com ramagens, cahidas, e com reposteiros de estôfo, apanhados por braçadeiras, e dos quaes se via sómente o fôrro de setineta crême e a franja, vermelha e azul, que os orlava.
Um dia, trabalhava no campo e, como o sol fosse já alto e a fadiga o prostrasse, procurando a sombra, sentou-se junto a uma oliveira, ao pé da cancella, enxugando o suor. Momentos depois, passava Maria, de volta do mercado, descalça, o pé comprido e magro, erguendo os braços a amparar o açafate que trazia á cabeça, cruzado no peito o lenço branco de ramagens vermelhas.
O quarto estava na mesma: o oratorio defronte da porta sobre a commoda de pau santo, á direita o bahu encoirado, tapado com uma chita de ramagens, ao fundo o leito antigo, muito alto, coberto com uma colcha escarlate e onde, uma ao lado da outra, muito chegadas, duas almofadas bordadas, pequeninas, alvejavam na penumbra. Havia cincoenta annos! Era em fins d'agosto, á hora do meio dia.
Se outro valor não tivesse para ti este pobre livro, que tu amas porque é meu, bem o sei, teria o valor de ter sido quasi todo escripto ao pé das grandes arvores que deram sombra aos jogos da tua infancia, e que tu decerto desejarias que emballassem, com a musica harmoniosa e calmante das suas ramagens murmuras, com o gorgeio alegre dos seus ninhos primaverís, o supremo somno que dormirás mais tarde, na serena beatitude das consciencias boas!...
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