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Contam as Estorias dos Arabigos, que andando a era dos Mouros, em cento e trinta e cinco annos, se levantou nas Espanhas um poderoso homem, a que chamavam Abdenamer, o qual começou a conquistar, e sobgigar por Espanha assi Mouros, como Christãos, não achando Santuario de Christãos, que não destruisse, nem ossos de Martyres, que não queimasse, e andando nesta conquista foi ter a Aragão, e a Valença, e os homens que tinham o Corpo do Martyre S. Vicente, quando souberam de sua vinda, e do que fazia ás Reliquias, e Corpos dos Santos, houveram seu acordo de fogirem com elle, para terra onde fosse guardado; aprouve a N. Senhor de os guiar áquelle Cabo chamado ora de S. Vicente, como acima se diz, para o seu Corpo alli ser enterrado, e escondido, e aquelles homens bons que o trouxeram, estiveram continuadamente com elle até que por alli chegou um Cavalleiro Mouro, que morava naquella terra dos Algarves, natural do Reino de Fês a que chamavam Albofacem, e contam as Estorias em como elle disse, que andando por alli de noite achára certos homens guardando aquelle Corpo, os quaes matara, e leixara o Corpo.

E por estes lugares, que dos Mouros se tomaram se acabou de conquistar toda a terra, que nós os Portuguezes chamamos Algarve, mas para deste nome não virem duvidas, e confuzão aos que as Estorias antigas Dafrica, e Despanha lerem, é de saber, que Algarve é nome Arabico, e o Reino, e Senhorio, que os Mouros chamavam do Algarve era mui grande, e de grandes potencias, porque começava no Cabo de São Vicente, e seguia pela costa Despacha até Almiria, e pela banda Dafrica se estendia até Tremecem, em que entravam Fez, e Cepta, e Tangere, que diziam de Benamarim, porque os Lugares, que os Reis de Portugal até agora tem na parte do Algarve daquem már, que é em Hespanha são estes, a saber, Estombar, Alvor, Villa nova de Portimão, Cacella, Paderne, Tavilla, Farão, Loulé, Silves, e Albufeira, Aljazur, e Alcoutim, e Castro Marim, e Lagos, e destes alguns são Lugares novos, que em tempo dos Reis de Portugal novamente depois se fizeram, e reformaram.

Ali começou a fazer-se entre as «escripturas» dos velhos e modernos tempos, o grande historiador, a quem Dom Duarte por carta de 19 de março de 1434, isto é por uma das suas primeiras iniciativas de Rei, dava «carrego de poer em caronyca as estorias dos reys que antigamente em Portugal foram», com 6$000 reis de tença annual, uns escassos 60$000 de hoje.

Foi, com effeito, Fernão Lopes o primeiro que poz em caronyca, isto é, em ordem, as estorias da primeira dynastia dos reis portuguezes, e fez a bella Chronica de D. João I. Até ahi havia apenas algumas memorias espalhadas, alguns breves compendios dos successos publicos.

N'este numero deve entrar um manuscripto que existia em Sancta Cruz de Coimbra, feito, segundo parece, nos fins do seculo XIV, em que mui de leve se mencionam os acontecimentos mais notaveis dos tres primeiros reinados, e d'elle talvez se houvessem de contar as antigas chronicas, que Duarte Nunes reformou, ou estragou, e que muito desconfiamos sejam as mesmas que colligiu Acenheiro no principio do seculo XVI, e que serviram de fundamento a Ruy de Pina e Galvão: sobre tudo o que pesam ainda muitas sombras, ao menos para nós, parecendo-nos, todavia, indubitavel que alguma cousa havia escripta antes de Fernão Lopes; porque a alguma cousa eram essas estorias dos antigos reis, mencionadas na carta de nomeação de Fernão Lopes, e que n'esse documento se distinguem claramente dos feitos de D. João I.

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