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Atualizado: 19 de junho de 2025


Entre Voltaire e os homens da Revolução a affinidade é vizivel para o espirito, mas o pobre Béranger é que não vem aqui ao caso para cousa alguma, de modo que a intenção philosophica que eu á primeira vista attribui aos conservadores do museu ficou prejudicada pela segunda idéa que elles tiveram de collocar a cadeira de Béranger em symetria com a de Voltaire.

Por debaixo da fileira de retratos em que figuram Mirabeau, Robespierre e Marat, está a cadeira em que expirou Voltaire. A collocação pareceria propositadamente feita, senão fosse antes uma necessidade de symetria, pois que, encostada á mesma parede na outra extremidade da sala, está tambem a cadeira em que expirou Béranger.

Certo d'isto, experiente e feito nestas dissecações na alma, zango-me quando as meninas-velhas se picam nos espinhos da verdade e mais se doem do pungir do espinho que se lhes não esconde em flores... Lembram-me então aquelles versos de Béranger: Prudes, qui ne criez plus

E de taes canções vendem-se tantos exemplares como dos Canticos de S. Sulpicio: antiquissima impiedade, de que ha vestigios, não na Grecia pagã, mas tambem nas fabulas da edade média, e até nas paredes das vetustas cathedraes onde os artistas zombeteiros esculpiram, ha mais de seiscentos annos, o Inferno de Béranger.

Lisboa, que foi o berço de Camões e de Vieira, de Diogo de Couto e de D. Francisco Manuel de Mello, tambem possue a gloria de ser a terra onde nasceu um escriptor em cuja alma se achavam, por assim dizer, conglobados muitos dos predicados que adornavam os espiritos d'aquelles grandes homens; um escriptor que chegou a adquirir na litteratura universal um dos nomes mais illustres; um grande lyrico, cujo sentimento religioso é profundo como o de Lamartine, cujo amor da liberdade é vehemente como o de Victor Hugo, cujo patriotismo é ardente como o de Béranger; um romancista que, alem de rivalizar com Walter Scott na erudição e no estylo, revela, na pintura das grandes paixões, a energia de Shakspeare e Byron, e nas descripções de batalhas se parece com Homero; um historiador eloquente como Tito Livio, vigoroso como Tacito, conciso como Sallustio, elegante como Xenophonte, claro como Taine, consciencioso e erudito como Thierry, imparcial como Maccaulay, philosophico como Guizot e poetico como Michelet; um epistolographo sentimental como Rousseau e sobrio como Voltaire; um polemista cujo estylo não é menos grandioso que o de Lamennais e que na vehemencia da indignação rivaliza com Juvenal.

Uma conclusão apenas me atrevo a tirar: é que em França quem sahe do vulgar morre de cadeira. Incommodissima maneira de dar a alma ao Creador! Ainda bem que nem a Béranger posso aspirar, quanto mais a Voltaire; isto augmenta as minhas probabilidades de morrer deitada na propria cama, unica maneira pela qual me appetece sujeitar-me á sorte commum de todos os mortaes.

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