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Quem, n'esta vida de penas, Poderá mudar as scenas Que ninguem pôde mudar? Quem possue n'alma o segredo De salvar-me pelo amor? Quem me dará gotta de agua N'esta angustiosa fragua D'um deserto abrasador? Se alguem existe na terra Que tanto possa, és tu só! Tu só, mulher, que eu adoro, Quando a Deus piedade imploro, E a ti peço amor e dó.
As ideias que lhe obumbravam o espirito eram negras, inexprimiveis, e taes que elle fugia de as repetir a si mesmo, sendo que um demonio contumaz lh'as estava sempre a martelar na fragua da cabeça.
Estou com o nosso admiravel Castilho n'estas memorandas palavras: «Longe de mim negar puerilmente ás cidades suas vantagens sociaes; digo só que para a poesia se não fizeram ellas; e que, se n'essa fragua algum engenho poetico resiste, se ahi canta, nunca ha-de ser tanto, nem tão bom, nem tão innocente, nem tão perfumado, como seria sem duvida nos campos.» E a poesia que é? acudiu Affonso cortando-me o riso com que eu celebrava o desconchavo da citação o que é a poesia se não aquelle estado diáphano e sublimado da alma, que se está engolfando e gozando n'um envolucro sadio, depurado de ruins vapores, e puro de toda a exhalação crassa d'um estomago derrancado, azedo, e intumecido?
Diga-me V. Ex.ª minha senhora, como tão cedo se formou na alma do snr. conde de Baldaque a virtude que é costume retemperar-se na fragua das dores!... Teria elle, em annos tão verdes, experimentado desenganos, perdas de nobres affectos, dissabores grandes que antecipam a velhice moral e influem a precoce piedade dos anciãos como eu, e das familias angustiadas como esta minha?
De involta com vastissima lição entreluzem, nos seus livros mais grados, donaires feminis, e genio acendrado na fragua do coração. Ao proposito d'esta esteril peleja, que se renova cada vez que um marido se furta ás prezas da irrisão publica, atirando ás da morte a esposa adultera, Stael perpassou ligeiramente, como lhe cumpria, pela solução do divorcio, reprovando-o. No extremado livro chamado Da Allemanha, escreve a insigne pensadora: «
Que visão! que saudade! que escuridade ia dentro d'aquella alma, purificada na onda das lagrimas, na fragua da indigencia, no cadinho ardente do desesperar! O conde, embevecido no aspecto respeitavel e triste d'aquellas cans geadas dos invernos de vinte e oito annos, escutava-o tão admirado, quanto em Portugal a opinião da plebe das letras malsinava de ignorancia o principe.
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