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Por isso muito acertadamente procedeu V. Ex.^a em correr pessoalmente ao Governo Civil, e propor a reconciliação, e abrir os braços generosos ao velho amigo, evitando assim que a primeira Auctoridade do Districto continuasse a esbanjar um tempo precioso n'aquelles passeios, de olhos pregados no Palacete dos fidalguissimos Barrôlos.

O palacete dos Barrôlos em Oliveira (conhecido desde o começo do seculo pela Casa dos Cunhaes) erguia a sua fidalga fachada de doze varandas no Largo d'El-Rei, entre uma solitaria viella que conduz ao Quartel e a rua das Tecedeiras, velha rua mal empedrada, ladeirenta, opprimida pelo comprido terraço do jardim, e pelo muro fronteiro da antiga cerca das Monicas. E n'essa manhã, justamente quando Gonçalo, na caleche da Torre puxada pela parelha do Torto, desembocava no Largo d'El-Rei, subia pela Tecedeiras, dobrando a esquina dos Cunhaes, n'um cavallo negro de fartas clinas, que feria as lages com soberba e garbo, o Governador Civil, o André Cavalleiro, de collete branco e chapeu de palha. N'um relance, do fundo da caleche, o Fidalgo ainda o surprehendeu levantando os pestanudos olhos negros para as varandas de ferro do palacete. E pulou, com um murro no joelho, rugindo surdamente «que biltreAo apear no portão (um portão baixo, como esmagado pelo immenso escudo de armas dos Sás) tão suffocada indignação o impellia que não reparou nas effusões do porteiro, o velho Joaquim da Porta, e esqueceu dentro da caleche os presentes para Gracinha, a caixa com o guardasolinho e um cesto de flores da Torre coberto de papel de sêda. Depois em cima, na sala d'espera, onde José Barrôlo correra, ao sentir nas lages do Largo silencioso o estrepito do calhambeque, desabafou logo, arrebatadamente, atirando o guarda para uma cadeira de couro: Oh senhores! Que eu não possa vir á cidade sem encontrar de cara este animal do Cavalleiro! E sempre no Largo, defronte da casa!

E dentro a assignatura, desenhada a tinta azul, era um coração chammejante. Gonçalo Ramires. O galante Governador civil do Districto, o nosso atiradiço André Cavalleiro, passeiava agora coastantemente por deante dos Cunhaes, olhando com ternura para as janellas e para o honrado brazão dos Barrôlos.

O brilho das pratas, a frescura das rosas n'uma floreira de Saxe, revelavam os desvelos da prima Jesuina que, com dôr d'entranhas n'essa manhã, não se vestira, almoçava no quarto... Gonçalo louvou aquella elegante ordem, tão rara n'uma casa de solteirão, lamentando a falta de uma prima Jesuina na Torre... E André sorria deliciadamente, desdobrando o guardanapo, com a esperança que Gonçalo contasse aos Barrôlos o confortavel luxo de Corinde.

Mas reflecti que n'esta grandiosa casa dos Barrôlos as bebidas são de mais confiança. Ainda bem! Você que quer? Orchata? Sangria? Limonada? Sangria. E, limpando o pescoço e a testa, amaldiçoou o indecente calor d'Oliveira: Mas ha gente que gosta! o meu chefe, o Snr. Governador Civil, escolhe sempre a hora do calor para passear a cavallo.

No meado de Janeiro, por uma agreste noite de chuva, Gonçalo partiu para Lisboa; e atravez do inverno, em Lisboa, andou sempre nos Carnet-Mondain e High-Life dos jornaes, nas noticias de jantares, do raouts, de tiros aos pombos, de Caçadas d'El-Rei, tão notado nos movimentos mais simples da sua elegancia, que os Barrôlos assignaram o Diario Illustrado para saber quando elle passeava na Avenida.

Eu por mim não caso, não tenho geito: e se vão d'esta feita Barrôlos e Ramires! A extincção dos Barrôlos é uma limpeza. Mas, acabados os Ramires, acaba Portugal. Portanto, Snr.^a D. Graça Ramires, depressa, em nome da nação, um morgado! Um morgado muito gordo, que eu pretendo que se chame Tructesindo! Barrôlo protestou, aterrado: O que? Turtesinho? Não! para tal sorte não o fabríco eu!

E, como se inclinára para Gracinha, com uma doçura infinita no simples mover da cabeça ella, perturbada, mais vermelha, balbuciou que não conhecia a Condessa de Chellas... D. Maria Mendonça accusou logo a inercia dos primos Barrôlos, sempre encafurnados nos Cunhaes, sem nunca se aventurarem a Lisboa no inverno, para conviver, para conhecer os parentes...

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