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Corre-se a aquecer-se ao fogo redemptor da simplicidade que a imaginação sobrexcitada lhe mostrava n'um quadro tentador. O seu regresso a Villalva ficava resolvido. Para que ir mais longe? Em vão! em vão!... Mais uma vez repetia estas palavras com que tão dolorosamente terminara tanta illusão da sua vida. Voltava a Villalva, depois de curtas semanas de ausencia, vencido pela saudade.

O padre Netto mandara dizer que o rapaz devia estar no primeiro d'outubro, ás tres horas da madrugada, na estação do caminho de ferro, em Coimbra, para seguir com elle. Precisavam sair de Villalva á meia noite. Depois da ceia começou a fazer-se a mala. estava tudo na sala, faltava arrumar a caixa. Claudio assistia e ajudava, allumiando com o candieiro na mão e ouvindo as recommendações da mãe.

Incapaz de uma bondade activa, conservava um constante pendor á indulgencia e tinha, como homem enfastiado do mundanismo, certa attracção para os caracteres que se desviavam dos typos consagrados. Por isso estimava o genro e o defendia. Levava o seu affecto até ao ponto de o visitar em Villalva, quando nas caçadas se encaminhava para esses lados.

Não lhe queria bem nem mal; ignorava-a. Por vicio de educação, por temperamento e inclinação hereditaria estava realmente destinada a ignoral-a perpetuamente. Em vão Claudio, saindo de Villalva, lhe mostraria o campo em que tantas horas tinha trabalhado, as arvores e as flôres que plantára por suas mãos.

Queria lançar a sua alma n'essa fornalha ardente d'amor e de , purifical-a no contacto das almas simples, mas sempre sentia o tumultuar d'um passado que o despertava dos sonhos bons para o torturar nas angustias da consciencia. Temia as noites tenebrosas do inverno e os dias pesados e humidos que o obrigavam a enclausurar-se na estreita sala de Villalva.

Voltava a Coimbra, pensaria o que tinha a fazer. Entregou a casa á irmã e partiu. Em Coimbra, sentiu-se ainda peior. Desde que tinha chegado, succediam-se sem interrupção as visitas de gente fina que vinha trazer-lhe consolações banaes, em palavras que no correr do dia ouvia innumeras vezes. Breve voltou a Villalva.

Foram a Villalva. Laura pouco disse á mãe de Claudio. A unica coisa que lhe permitiu uns momentos de conversação foram as imagens do oratorio e particularmente uma imagem da Senhora do Carmo. Havia uma outra egual no collegio, em Lisboa, e tinha com ella muita devoção. A velhita louvou intimamente os sentimentos religiosos da sua nova filha e repetia: Assim é bom, assim é bom...

A botica enfadava, era mesquinha com a sua baixa e insalubre curiosidade; o jogo era para velhas, um estupido brinquedo; em casa, o estomago pesado, frente a frente com a velhita, o tedio era extremo. De resto, ella gostava de fazer serão ao das creadas, na cosinha, com a sua velha rocca á cinta, fiando o linho de Villalva. Chegando áquella hora, Claudio não sabia onde se refugiasse.

Por andaram algumas horas, de loja em loja, desconfiados dos preços, abrazados de calor, regateando e comprando os pannos, o chapeu, os sapatos, a gravata e a caixa de folha que havia de ser dentro de dois mezes a magra bagagem do bisonho estudante. Á tarde voltaram a Villalva. Veio a costureira e o alfaiate.

Sempre era outra cousa, outra posição, para que servia ser padre sabia-o elle, por mal dos seus peccados. Isto tudo aqui para nós, concluia; não se lhe póde dizer nada. Se a gente vae a gabal-os, fazem-se tolos e ninguem os atura. O pae levou Claudio para Villalva.