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Seria um orador, um jornalista de primeira ordem, se não tomasse apenas a sério a sua missão de poeta, ou antes de philosopho. Depois de tudo isto dirão pessoas pouco dadas ao estudo do animal homem que Anthero de Quental é um assombro. Longe d'isso. A sua força e a prodigalidade com que a natureza dotou o seu espirito; mas essa força é uma fraqueza.

Ali fomos como cultores do Bello e do Justo em perigrinação sagrada muitas e muitas vezes, umas em companhia d'amigos como Anthero do Quental, José Julio Rodrigues, Philomeno da Camara, e outras vezes, e estas em maior numero, sosinhos, fazendo a todo o longo percurso desde Coimbra, mas encontrando larga e generosa compensação nas suas sombras impenetraveis e profundas, na sua solidão e paz absolutas, tão propicias á contemplação e ao estudo!

Nenhum interesse material me açula n'este meu proposito, que nem um dos exemplares de qualquer dos opusculos, que vou fazendo sahir a lume, é exposto á venda, mas apenas e n'elle me anima o vehemente desejo de reunir e facilitar materiaes para uma edição completa da obra de Anthero do Quental, edição em que não ficarião, creio eu, na sombra e nem sequer na penumbra, alguns dos seus trabalhos ainda não reunidos em volume, e alguns até incompletos, tão radiosa a luz que d'elles resalta.

Dorme o teu somno, coração liberto, Dorme na mão de Deus eternamente! Um monge christão escreveria isto. E Anthero de Quental nem é christão, nem crê em Deus, nem na Virgem, segundo o sentido ordinario da palavra crer. Blasphemar era bom n'outros tempos; para a ironia tambem a idade passou; finalmente para o exercicio litterario nunca se inclinou a penna que o poeta molhou sempre no seu sangue.

O poeta allemão tem a impressão directa das coisas, e é n'ellas, e não nas idéas, que elle distingue a linha comica, a contradicção irreductivel, a impassibilidade perfeita diante das velhas theorias que decahem e agonisam; Anthero do Quental eleva essas dôres á abstracção suprema do seu espirito, a uma especie de metaphysica imaginosa e vaga, que pareceria impossivel a um temperamento peninsular aquecido pelo nosso sol, vivificado pelo nosso clima, cingido no circulo, impressionador e ardente, dos seus horisontes de ouro e de fogo.

Manda o dever moral que se reconheça a cooperação do activo e intelligente livreiro-editor Manuel Gomes, que ligou a sua iniciativa á publicação das poesias ignoradas do excelso poeta. Incorporando-as n'este volume, aqui ficam reunidas a primeira e a ultima maneira artistica de Anthero de Quental, podendo agora ser julgada de um modo definitivo a sua obra poetica completa.

O primeiro comeu uma azeitona e despejou o copo, o segundo cheirou uma azeitona e enxugou o sino grande. Entre os selvagens, uns vestem-se com tres quartas de panno crú, outros com um bracelete, alguns com um simples búsio, o sr. Anthero do Quental, sublime como o homem que cheirou a azeitona, veste com um olhar a geração futura.

E, no entanto, maldizendo as dôres de que a razão lhe foi origem, Anthero de Quental não pode amaldiçoar essa faculdade superior, comprada á custa de taes agonias, mas que lhe tem dado goso contradictorio e extranho! o austero orgulho dos que sabem!... Razão, velha de olhar agudo e frio E de halito mortal, mais do que a peste! Pelo beijo de gello que me deste, Fada negra, bemdita sejas tu!

A proposito do suicidio de Anthero, falou-se muito de tres suicidios tambem famosos que o precederam; mas realmente, a não ser pela notoriedade que os assignala, eu não sei que elles tenham comparação com o d'este poeta. Nem Camillo, nem Julio Cesar Machado nem Soares dos Reis se mataram pelos motivos transcendentes que actuáram no animo de Anthero de Quental.

Não ha, talvez, em toda a litteratura portugueza uma individualidade mais distincta, mais original, mais á parte, que a d'este homem. Não é simplesmente como escriptor, como litterato, como auctor de livros, que Anthero de Quental tem de ser considerado.

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