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Atualizado: 6 de junho de 2025
E a filha do arcediago achava que a sua amiga tinha razão, porque as historias de amores, que ella lhe contava, eram cousa mais sublime, mais deslumbrantes, que os seus miseraveis dialogos com o filho do retrozeiro, a quem Elisa denominava patego, parrano, gebo, e outras amabilidades, como lapardão.
Que mal fizera elle a Deus e aos outros, para assim ser castigado sem tregoas, com a fome e o frio e a sua filha desgraçada? E nem na propria casa o Gebo descansava. Eram infindaveis os ralhos e os gritos. Só Sofia, linda e triste, pela sua resignação lhe dava animo. Se não fosse ella, seria tão bom morrer!... Os seus amigos estavam ricos e seccos como as fragas.
Tinham-lhe posto essa alcunha o Gebo, e perguntavam-lhe coisas obscenas para se rirem: Hein, dize lá, ó Gebo, então tu não tens uma filha? E elle logo com um riso no olhar: Tenho, sim, uma filha, a minha filha... E que tal, hein, boas pernas, dize, boas pernas?
Ó Gebo! ó Gebo! gritavam-lhe. E elle meio tonto: Anh? anh?.... Se eu não tivesse sido honrado... Ella era uma creaturinha triste, resignada e pallida. Falava pouco. Scismava. Da vida tudo ignorava, a não ser a historia dos seus: o lar apagado, a afflicção da mãe, o choro do pae ao voltar para casa sem pão. A velha dizia ás vezes más palavras ao Gebo, quando lhe perguntava anciosa: Arranjaste?
Ia a mãe deitar-se e Sofia, até ahi silenciosa, dizia erguendo-se: Pae não se afflija. Eu não, filha, eu não. Aquillo é genio, coitada. Ella tem razão, tem soffrido muito. Vae tu tambem p'ra cama. Dá cá um beijo... Assim. Eu cá fico com a escripta. Muito boa noite. Sósinho o Gebo scismava muito tempo, olhando a luz.
Este velho que pára nos patamares das escadas, gordo e molle, de cabellos brancos estacados, é o Gebo. Todo curvo, olha-vos com um olhar aguado e tonto. Ó Gebo! E elle, erguendo o carão afflicto: Anh?... E como este, outros assim. A toda a hora vae o enxurro humano polindo as pedras. A ventania açouta o casarão e passa, levando poeira de scisma, ais, para outro mundo ignoto.
Enganavam-se uns aos outros, não por mentirem, mas para tornarem mais visivel a sua aspiração, o sonho que traziam escondido. Discutiam imaginarias emprezas, negocios impossiveis. Oh como eu sou feliz!... dizia o Gebo Agora tenho ahi um logar... Nem sequer o escutavam e, se um sahia, diziam os outros: Cuido que está cada vez peor. Um homem que teve um credito na praça! Tem a fome á porta.
Cheia de tristeza dizia lhe ainda a mulher: Homem, vê se te dão um emprego... Anh? Eu vejo! eu vejo!... Não te afflijas, mulher. Um emprego! quem dá ahi pão ao Gebo, amachucado e ridiculo, envelhecido e tropego, e que já mal sabe escrever, de cego e tonto? Aguilhoado, todos os dias se levantava para a humilhação e para a correria atraz d'uns miseros cobres.
Mouca, Luiza, Gebo, Golim, pseudonimos. O nome real, o nome verdadeiro de todos elles é um só: a Dôr.
Ó mulher, a gente tambem perde as forças... Sempre a desgraça! sempre a desgraça!... Tudo nos corre torto! Mas... Tudo! Deixa-me!... E desatava a chorar. Então o Gebo, afflicto, a mão curta e gorda ronronando no papel, mentia para lhe dar animo. Qualquer dia entro ahi n'um negocio, tu verás... Não te afflijas. E vão cinco... Tambem ha-de chegar o nosso S. Miguel.
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