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Porque choras tu? Não é nada, não é nada... Não, isso has de dizer. Ella deitou-se-lhe aos joelhos, e n'uma anciedade: Oh não me deixe! Não me deixe! Se elle soubesse! Era tão desgraçada, tão maldita! Todos na casa queriam perdel-a; Ezequiel antes de todos, lhe infundia um pavor funebre e desgrenhado. Que mal fazia ella? Porque insistiam em lhe fazer sentir a sua falsa posição n'aquella casa?

E o beijo que lhe déra, tão sapido de delicias inéditas, bocca a bocca, Luiza tinha-o sempre no fremito dos seus labios, e guardava-lhe o perfume no halito, como se o embalsamára uma pastilha de harem. Além de que, tenho que a menina vai d'aqui a pouco mudar de tenção. Olá se vai! Que está a rosnar, Ezequiel?

Tu matas-me, diabo! tu estás deitando a minha alma no inferno. Um beijo n'essas carninhas. Deixa dar. Que mal te faz? E vergado á tremura senil dos debochados, Ezequiel cambaleava, crispava-se, indo para ella de rastros, assim como um cão leproso conquistando a codea que lhe negam, sob golfões de chicotadas. Não tenho herdeiros. Um pobre velho! De hoje p'r ámanhã posso morrer.

Apenas nos quartos da fidalga cochichavam tres ou quatro velhas damas das quintas perto, que tinham vindo de visita, aproveitando a aberta do dia santo; e na casa de jantar, logo depois do café, o jogo começára entre os convidados do marquez. Sósinha no terraço, Luiza seguia a curva dos foguetes no céo primaveril, esmagada pela espantosa scena com Ezequiel.

Todos vêem como a senhora marqueza trata comsigo. Zús d'aqui, zús d'alli, está-lhe sempre a chamar minha filha. Olhe que é muita amizade, é amizade de mais para uma servente. Eu sei que isto enfurece os invejosos. Não faça caso, menina Luiza, não faça caso. Ah, não tenha medo, Ezequiel. E o menino Ruy então, não fallemos. Esse gosta, e gosta muito. Até cartas lhe manda.

Renovou o azeite da lampada do oratorio, desceu á cozinha onde sua irmã pela centesima vez insistia em lhe aconselhar o casamento com Ezequiel, como mastro de cocagne para a familia inteira: e de joelhos, na capella, para as rezas da noite, por mais que fizesse, o seu espirito perdia-se em oceanos de magua: até que afogueada, estupida de scismar no seu destino, veio ao terraço banhar a cabeça nas brisas da noite.

Por sua morte, talvez sejas rica; em vida d'elle por força has-de ser feliz. Ezequiel não retrucou, mas poz-se a contar historias de raptos, vergonhosos amores, coisas cynicas e patuscas, sem apparente colligação de sentido. A voz fizera-se-lhe surda, d'uma firmeza espaçada que lhe espargia na face aspectos graves de prégador e de magistrado.

A cada momento, Luiza tinha que voltal-a, trazer-lhe um livro, executar uma ordem, aconchegar uma cortina, vêr o tempo. E pelo meio dia pôde tirar um bocado para se ir vestir. O quarto d'ella era junto aos aposentos da senhora, com uma porta sobre o grande corredor que levava aos quartos de Ruy, não longe dos quaes demorava Ezequiel. E Luiza começou um toilette minucioso e cuidado.

Luiza fez um salto, esquecida da morte, e deitou a correr para d'onde o barulho partia. Quando entrou no quarto da marqueza, cahira pelas escadas, derribára Ezequiel que vinha pelo corredor, rasgára as saias nas portas, tropeçando nos moveis umas poucas de vezes. Viu a cama vazia e toda cheia de sangue nos travesseiros.

Ezequiel d'uma epoca indigna de historia, começou a rugir, não por mando de Jehovah, mas depois de conhecer os homens e de se ter entediado d'elles.

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