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Trez dias depois, o morgado chamava ao seu escriptorio o Felix Telles e perguntava-lhe: Onde foi que você despiu o dominó preto? No Hotel Alliance. E não viu no dominó preto alguma cousa branca? se fosse o forro... Mas não reparei. Pois eu lhe posso dar algumas explicações, que façam luz sobre o caso. Felix Telles esbugalhava os olhos attento, curioso.

Não viu um papel branco pregado nas costas do dominó preto? Não vi! Aqui o tem, pois dizia o morgado desdobrando cautelosamente uma tira de papel enrugado, rasgado, que o visconde mandára pedir ao Hotel Alliance e lhe tinha remettido pelo correio. E elevando-o á altura dos olhos de Felix Telles, mostrou-lh'o. Sou o Felix Telles de Estarreja! dizia o papel.

Entretanto o irmão do morgado, o visconde de *, recebia em Lisboa o telegramma, e chamava o escudeiro para dizer-lhe: Esta noite estarás em Santa Apolonia á chegada do comboio. N'uma carruagem, que segundo o costume será de primeira classe, hade vir o sr. Felix Telles, que tu conheces muito bem. Seguil-o-has, sem que te veja. Se tomar um trem, toma tu outro. Deve apeiar-se á porta do Hotel Alliance. Ahi, logo que chegue ou pouco depois, dará ordem ao criado para que lhe buscar ao guarda-roupa do Cruz, na rua Larga de S. Roque, um dominó preto. Esperarás os acontecimentos parado em frente do hotel. Certificar-te-has se effectivamente sae do Alliance um homem de dominó preto. Esse homem será o sr. Felix Telles. Logo que elle saia, tomar-lhe-has dianteira, correrás ao theatro da Trindade. Encostados á casa do bengaleiro estarão os meninos e, quando o sr. Felix Telles entrar, dir-lhes-has:

Entrando no Hotel Alliance, Felix Telles despiu de repellão o dominó, deixou-o ficar sobre o tapete do quarto, disse brutalmente ao criado que se fosse embora, que o deixasse em paz, que o chamasse a tempo de sair no comboio da manhã, e que se não esquecesse de mandar entregar depois o dominó ao Cruz, com mais dez tostões que elle deixaria sobre a banquinha.

Uma partida de carnaval, que passo a expôr a V. exÁmanhã de manhã tomo o comboio descendente. Chego a Lisboa das oito para as nove horas da noite. O mano de v. ex.ª é certo, com toda a sua familia, n'um camarote da Trindade, segundo o costume. Logo que eu chegar, vou hospedar-me no Hotel Alliance para me lavar e descançar. Á meia noite pouco mais ou menos, mando um criado do hotel alugar um dominó preto ao Cruz da rua Larga de S. Roque. Dirijo-me em seguida ao theatro da Trindade, vou direito ao camarote onde estiver a familia de v. ex.ª e proponho-me intrigal-a, com casos certos, durante uma boa hora. Quando eu lhe fallar de certas coisas, toda a familia arderá em curiosidade, dará tratos á imaginação para descobrir quem eu seja. Mas não poderão lembrar-se de mim por me supporem em Estarreja. Á saida do theatro tomarei as minhas precauções para não ser seguido nem conhecido. De manhã metto-me outra vez no comboio, e á noite estarei aqui a ceiar e a rir do caso com v. ex

Pyramidal! meu caro Felix Telles. Applaudo com enthusiasmo. deitar-se, visto que tem de fazer madrugada. Mas que boa partida! Eh! eh! ria o morgado, esfregando as mãos de contente. Foi dali o fidalgo para o seu escriptorio e, a rir comsigo mesmo, redigiu o seguinte telegramma: «Felix Telles chega ahi hoje noite para intrigar-te theatro Trindade. Dominó preto, alugado Cruz. Vai Hotel Alliance.

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