United States or Jersey ? Vote for the TOP Country of the Week !


Sou o filho de Ayres Vasques, o de Miranda, e a vós buscava! A firmesa do tom e a concisão da resposta desagradaram ao cavalleiro. Brilharam os olhos mais sombrios, e um sorriso mau encrespou-lhe os beiços. O que vem pedir o filho de Ayres Vasques ao senhor de Algoço, fóra do seu castello, n'este logar deserto? A ironia salpicava de escarneo as palavras pronunciadas com desprezo.

Sem retirar, ou entregar a mão, que o mancebo prendia nas suas, a neta de Garcia do Marnel, esquecido o conselho de Aldonça, respondeu singelamente: Tello, não vos darei o sim; não quero arrepender-me. O filho de Ayres Vasques, do mais abastado morador da terra de Miranda, não deve escolher a sua noiva entre as donzellas mais pobres e desvalidas de Algoço. Amo! Porque hei de negal-o?

Os noivos sem ella não podiam receber-se na igreja de Algoço, e Silvana desejava tanto que seus amores fossem abençoados, aonde o tinham sido os de seu pai e seu avô, que o besteiro não ousou contrarial-a. Altos juizos de Deus!

Fallou-se muito no besteiro de Miranda, mas o que não esqueceu nunca foi a justiça que fizera em Algoço a severidade do monarcha. O castello devolveu-se á corôa, e parece que fôra doado depois ao primogenito de Tello e de Silvana. Pelo menos assim se disse, e se foi verdade ou fabula, não sei. El-rei D. Pedro era tão capaz de fazer cavalleiro um villão, como de justiçar como villão um cavalleiro.

Contra o seu costume, a trompa de prata pendia muda, e nem o ardor da carreira, nem as iras do javali, varado pelo seu venabulo, lhe arrancavam os sons festivos, que era sempre o primeiro a levantar. Que magoa, ou que remorso entristecia o senhor de Algoço?

Dito isto o monteiro sumiu-se por entre as arvores, e Tello estava aos pés da noiva, que Aldonça animava, annunciando-lhe proximo o termo de seus pezares. Quando Tello, ao cair da tarde do outro dia, trepava a a ladeira do castello de Algoço, vinha descendo o mordomo, seguido dos homens d'armas escolhidos.

Verdadeira, ou fabulosa, a alliança dos altivos barões com os demonios tinha sido fertil em crimes. N'uma epocha, em que a lança e a espada cortavam as contendas, calando as leis, e calcando os direitos, os cavalleiros de Algoço excediam os mais ferozes na braveza, e na crueldade ferina. Vêr correr prantos, e derramar sangue, para elles era um deleite. D. Sueiro foi o ultimo d'esta familia impia.

Houve tempo em que o monte hoje esquecido de Algoço, na provincia de Traz-os-Montes, erguia a cabeça soberba acima dos outros logares. As muralhas de cantaria grossa e as torres quadrangulares do antigo castello, debruçadas sobre um precipicio despenhado, concordavam com a melancolia do sitio e com as sombrias tradições, de que as memorias do povo o entristeciam.

O besteiro seguiu-o sem proferir palavra. Os cavalleiros montavam, e uns apoz outros galoparam para o alcançar. El-rei ia deixando atraz do cavallo o proprio Tello Vasques, e cego de ira mettia-se pelas terras de Algoço. Por cima d'esta vertiginosa carreira a chuva cahia em torrentes. A procella abria os ceus em clarões lividos, desarraigando as arvores annosas. Quando D. Pedro assomava diante da porta do castello, um vulto surgiu, que tomou-lhe as redeas, convidando-o a apeiar-se. De um salto estava em terra e levantando a cabeça via as frestas da torre illuminadas. O vulto travou-lhe do braço, e disse:

Sete annos eram passados desde a tarde em que os moradores de Algoço tinham lançado sobre o corpo de Garcia do Marnel os ultimos punhados de terra. Sueiro Lopes, n'esse intervallo, tres vezes casado, e outras tantas viuvo, cada vez se havia feito mais aspero e cruel. Mal raiava a manhã as buzinas acordavam logo as solidões.

Palavra Do Dia

alindada

Outros Procurando