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Contavam prodigios do seu poder! Alguns chegaram a asseverar até, que ella e a serpente encantada tinham nascido irmans, e se juntavam em colloquio á meia noute. Quando a donzella appareceu, Aldonça, sentada em um penedo diante da porta, acabava de espiar a roca; viu-a e sorriu-se.

Quando chegaram não viram senão uma serpente, fugindo por cima dos penhascos, e uma corsa branca pulando por entre as arvores. A velha Aldonça appareceu de repente ao da fonte, e acenou-lhes. Recebendo das mãos da donzella as tres regaçadas de ortigas, banhou-as outras tantas vezes na agua encantada, pronunciando algumas palavras a meia voz.

Fernão Ximenez comprehendeu estas palavras. Foram como um clarão subito, que lampeja e cega. Os olhos arrasaram-se-lhe de agua, sem as lagrimas poderem rebentar. Era incrivel o que se passava em sua alma. A colera, a alegria, a contrariedade das aspirações mais ardentes da vida, o desinteresse sublime de um coração generoso debatendo-se tudo n'aquella alma deserta de esperança! Gaspar Ximenez continuou, como delirando: Amas tambem Aldonça? Como ella é meiga e docil!

Lembrou-se da tela alvissima e transparente, que vira na choupana de Aldonça, e tremeu pela primeira vez da sua vida. Depressa se recobrou e medindo o mancebo com indizivel escarneo, replicou: Pedi-te duas camisas fiadas e tecidas com os fios das ortigas da sepultura de Garcia, uma para o teu noivado, outra para a minha mortalha. Palavra de cavalleiro não quebra! Se cumpriste, não hei de faltar.

Dito isto o monteiro sumiu-se por entre as arvores, e Tello estava aos pés da noiva, que Aldonça animava, annunciando-lhe proximo o termo de seus pezares. Quando Tello, ao cair da tarde do outro dia, trepava a a ladeira do castello de Algoço, vinha descendo o mordomo, seguido dos homens d'armas escolhidos.

Era tão grande n'elle a tranquillidade de animo, como se a noiva adorada estivesse debaixo da protecção d'aquelle que duas vezes chamára pae. A velha Aldonça, apenas divisara o hospede, exclamou como rejuvenescida de repente: Filha! Não t'o affirmei? A aguia real saiu do ninho. A hora vem perto. Ouve o que te disser, obedece ao que te mandar, succeda o que succeder.

Quando chegou á choupana, achou a casa êrma e a porta arrombada, e acabou de crer que os pressagios não mentem. Bastava olhar para dentro para adivinhar uma scena violenta. A lampada ardia ainda junto do lar, e luz mortiça deixava ver os escanhos partidos, os vasos de barro pisados, as arcas espedaçadas. O pobre catre de Aldonça, despido de roupas, jazia em um feixe.

Videirinha, enthusiasmado, entoou logo outra nova, trabalhada n'essa semana a do sahimento de Aldonça Ramires, Santa Aldonça, trazida do mosteiro d'Arouca ao solar de Treixedo, sobre o almadraque em que morrera, aos hombros de quatro Reis! Bravo! gritou o Fidalgo pendurado da varanda. Essa é famosa, oh Videirinha! Mas ahi ha Reis de mais... Quatro Reis!

Sei atalhar os rodeios á corsa. Sei aonde o golpe fere seguro! Deus do ceu compadecei-vos de Silvana! Ella mal o escutou. Tremula e soffocada não suspendeu a carreira senão á porta da cabana aonde morava a velha Aldonça, conselho e consolação de toda a aldeia. As linguas maldizentes affirmavam, que a velha não era decrepita, nem mendiga, mas fada, e que sabia ler nos astros e adivinhar nas aguas.

O ruido dos pés, o borburinho e os alaridos das creanças, saltando pelo adro, animam de ar festivo a scena popular. Em quanto o Reitor, curvo e triste, se encaminha de vagar para a sua morada, estendendo a benção pelos aldeãos, Silvana, sempre pallida, ampara no braço delicado o corpo de Aldonça.

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