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Atualizado: 20 de julho de 2025
Não se pudera conter em cima, na cozinha, tomada d'um phrenesi agudo de curiosidade; descera na ponta das chinelas e collára o ouvido á fechadura do escriptorio; mas o grosso reposteiro de baetão estava cerrado por dentro, um ruido de lenha que se descarregava na rua abafava as vozes. A boa senhora então decidiu-se a entrar, «a dar os bons dias ao senhor parocho».
Amelia mesmo, perante esta confiança tão larga na sua virtude, propuzera um dia a Amaro, como muito habil dizer ás amigas que o senhor parocho ás vezes vinha assistir á pratica piedosa que ella fazia á Tótó... Assim, se alguem te surprehendesse a entrar para a casa do tio Esguelhas, já não havia suspeitas. Não me parece necessario, disse elle. Deus está comnosco, filha, é claro.
Ella ergueu as mãos para elle, n'uma supplicação anciosa, fallando toda tremula: Não, senhor parocho, deixe-me! Isso acabou. Bem basta o que peccamos... Quero morrer na graça de Deus... Que nunca mais se falle em semelhante coisa!... Foi uma desgraça... Acabou-se... Agora o que quero é o socego de minha alma... Tu estás tola! Quem te metteu isso na cabeça? Ouve cá...
Ao sahir, beijando muito a S. Joanneira, felicitaram-na porque adquirira, hospedando o parocho, uma auctoridade quasi ecclesiastica. Vossês apparecem á noite, disse ella do alto da escada. Pudera!... gritou D. Maria da Assumpção, já á porta da rua, traçando o seu mantelete. Pudera!... Para o vermos á vontade!
E batendo no hombro do parocho, olhando para a S. Joanneira: Então como vai cá o seu menino? Riam; vinham as historias do dia. O conego costumava trazer no bolso o Diario Popular; Amelia interessava-se pelo romance, a S. Joanneira pelas correspondencias amorosas nos annuncios. Ora vejam que pouca vergonha!... dizia ella, deliciando-se.
Como christão, como parocho, como amigo da S. Joanneira o seu dever era procurar Amelia, e, com simplicidade, sem paixão interessada, contar-lhe que fôra João Eduardo, o seu noivo, que escrevera o Communicado. Foi elle!
Aquella paixão, em que estava abysmada e que a saturava, tornára-a estupida e obtusa a tudo o que não respeitava ao senhor parocho ou ao seu amor. Amaro de resto não lhe consentia interesses, curiosidades alheias á sua pessoa. Prohibia-lhe até que lêsse romances e poesias. Para que se havia de fazer doutora? Que lhe importava o que ia no mundo?
Vou a Lisboa, tenho minha irmã a morrer... E acrescentou com os beiços tremulos d'um chôro que ia romper: Todas as desgraças vêm juntas. Sabe, a pobre Ameliasinha lá morreu de repente... O sineiro emmudeceu, assombrado. Adeus, tio Esguelhas. Dê cá a mão, tio Esguelhas. Adeus... Adeus, senhor parocho, adeus! disse o velho com os olhos arrazados d'agua.
Que temos lá o senhor parocho hoje... Vossês sabem que adoeceu a criada... Ah, já me esquecia, o mano quer que tu lá vás jantar tambem, Amelia. Diz que é para haverem duas damas e dois cavalheiros... Amelia riu d'alegria. E tu vai depois buscal-a, S. Joanneira, á noitinha... Credo, vesti-me tanto á pressa, que até parece que me está a cahir o saiote!
E então o seu amor pelo parocho, que até ahi, n'aquella reunião de saias e batinas da rua da Misericordia se lhe afigurára natural, agora, julgando-o reprovado pelas pessoas que desde pequena fora acostumada a respeitar os Guedes, os Marques, os Vazes, apparecia-lhe já monstruoso: assim as côres d'um retrato pintado á luz d'azeite, e que á luz d'azeite parecem justas, tomam tons falsos e disformes quando lhes cae em cima a luz do sol.
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