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Se houvessemos de dar credito (respondeu o doutor) á experiencia, e tomar os successos do mundo por argumento, com poucas porfias se manifestará a verdade da vossa pergunta: mas tratando primeiro das razões, vejamos em que se parecem, e os poderes em que os antigos igualaram o amor, e a cubiça; que de ambos deixaram jeroglificos, e figuras. Pintaram pois ao amor menino, formoso, com os olhos tapados, despido, com azas nos hombros, e armado de arco e settas: menino, por facil e fagueiro; formoso, porque a belleza é o objecto dos amantes; despido, porque se não póde encobrir; cego, porque não , nem conhece a razão; com azas nos hombros, por ligeiro, e mudavel; armado, por forte, poderoso e cruel. A cubiça pintaram-a mulher, despida, com os olhos tapados, e azas nos hombros. Despida, pela facilidade com que por seus effeitos se descobre; cega, porque não nenhum respeito humano em rasão do que deseja: com azas pela velocidade com que segue aquelle objecto, que debaixo da especie de proveito se lhe representa. Assim que nas armas, e no sexo feminino achamos na pintura differença: porém se considerarmos os effeitos da cubiça, ou foi que na pintura de mulher as quizeram cifrar todas, ou que lhes faltou lugar para tantas armas; porque se amor é forte e poderoso, e vence a tudo, como disse o poeta; o mesmo confessa que a todos os extremos fórça, e obriga a sede do ouro aos humanos; se a amor como a poderoso o fingiram Deus cruel, como diz o poeta Seneca; não a cubiça é Deus do avarento e cubiçoso, mas o mesmo ouro que deseja, como d'elles disse um doutor santo; se lhe chamam cruel pelos damnos que no mundo fizeram seus poderes, mais reinos assolados, cidades destruidas, e damnos immortaes se fizeram no mundo por cubiça, que por amor: e antes de chegar aos exemplos, com que se póde provar esta verdade, vejamos em seu nascimento que coisa seja amor humano; e o que é cubiça. A elle chamaram muitos auctores furor; e este definio maravilhosamente um doutor grego, que disse que amor era um desejo irracional, que facilmente se emprega, e com grande difficuldade se perde. E da cubiça escreve outro mais moderno, que é um appetite fóra da medida certa, que ensina a razão; que não tem modo, nem fim.

Palavra Do Dia

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