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De novo isolado e absorvido nos seus pensamentos dolorosos, folheando outra vez a revista que o fatigava de tédio e que tinha aberta sôbre uma mesa de pau preto onde, em jarras de faiança antiga, brilhantes de esmaltes e de coloridos, morriam e se desfolhavam lentamente ramos de azáleas brancas, Frederico observava aquele mundo fútil de exterioridades encantadoras e recordava-se de Júlia. O ambiente era, na verdade, elegante. O salão estava decorado com gôsto. Um tapête de tons suaves, rosa e verde-malva, amortecia o som dos passos e tornava mais confortável o compartimento; os móveis, leves e bem lançados, destacavam-so pela forma e pelos estofos que os recobriam. Sôbre um fogão de mármore, que resplandecia de brancura na crueza da luz eléctrica, um relógio de bronze, estilo Luis XIV, marcava as horas que longos ponteiros dourados indicavam num mostrador esmaltado em que corria, no esplendor das tintas, uma scena idílica, evocando as telas de António Watteau, com pares de namorados enlaçando-se sob as árvores. Ao fundo, um piano Bechstein com velas ardendo em serpentinas de prata e acendendo fulgores de chama no verniz negro da madeira, tinha uma graça ornamental pesada e imóvel. Sòbre a alcatifa, encostados dum lado e doutro

Então, Frederico, penetrado pela quebreira que amolecia o ar, descia ao parque, escolhia um recanto de sombra e se demorava lendo um romance ou evocando as suas recordações e pensando no caso passional que o trazia inquieto. O calor, a irradiação crua do sol, faziam pesar mais o silêncio. A atmosfera resplandecia, tinha uma vibração especial no esplendor matutino da claridade. Até ao seu isolamento chegavam o chiar dos carros de bois, vergando sob a carga e atravessando os caminhos desertos, a cantiga idílica dum pastor distante, o sussurro das folhagens estremecendo ao vento, sôbre a sua cabeça. Em certos instantes, repousando das fadigas caseiras, Júlia, ao piano, tocava uma página musical que embalava suavemente a solitude. O sol saía em ondas pelas janelas abertas aos eflúvios do jardim e a música, nesta solidão inspiradora, adquiria maior sedução e beleza. Frederico, pousando o romance, analisava o estado particular dos seus nervos. Uma grande, inexplicável lassidão prostrava-o. Sentia-se incapaz dum mais vivo esfôrço de reflexão, dum metódico exame da sua sensibilidade. Parecia-lhe que estava fóra da sua personalidade psíquica: a realidade exterior produzia-lhe uma bizarra alucinação que o transtornava; mas, neste sobressalto intimo havia, alternadamente, certos fulgores de pensamento, relâmpagos de inteligência, que lhe aumentavam a angústia e a opressão interior. Um elemento estranho, tendo qualquer coisa de violento, de obscuro e de nítido, conjuntamente, invadia-o e perturbava-o. A imagem de Júlia acudia-lhe, sem repouso,

Libertada, porfim, foi acabar de viver para uma pequena casa de campo que a Ama-Rita descobriu escondida entre tufos de verdura tenra e uma dôce paz idilica a rodeá-la. Sentia-se de mal a peor, e sem esforço deixava-se morrer, desligada da vida, sem afeições ou deveres que a prendessem.

Anacreonte, o velho erotico divino, Contente encerraria alli o seu destino, Pobre, alegre, feliz, sem remorsos, sem dores, A calvicie jovial sob um chinó de flores, O copo sobre a meza, a musa sob os joelhos, Ao ar livre, a cantar os desejos vermelhos, A belleza, o prazer, a juventude e o sól, Com a graça d'um merlo e a voz d'um rouxinol. Vejamos essa estancia idilica e tranquilla.

Enquanto êles se detinham numa clareira, reencetando a conversa, Júlia adiantou-se alguns passos, indo sentar-se num banco rústico de cortiça que ficava por baixo dum docel formado por mosqueteiras ainda em flor. Ao vento brando que passava, arripiando as fôlhas, um colorido e perfumado orvalho de pétalas desprendia-se do alto, tremendo como asas de borboletas, caindo sôbre Júlia e o filho. Ela ria, com um riso mais contente, ditosa pela idílica oferta que as trepadeiras faziam

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dormitavam

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