United States or North Korea ? Vote for the TOP Country of the Week !


Escreveu então ao filho, contando-lhe em poucas palavras o que se passava e encarregando-o de procurar o amigo, e prometendo um bom dote a Manoela fazer com que casassem imediatamente. Essa carta, mandada pela Ama-Rita para Manoela vêr, deixou-lhe no coração um vislumbre de esperança, naquelle desejo que todos nós temos de nos agarrar ao menor luzeiro que prediga felicidade.

Madre Angelica, prevenida pela Ama-Rita que vigiava sempre a sua menina, veiu têr com ella, arrastando-se vagarosamente ao longo do dormitorio, como uma sombra que o luar fazia destacar. «Soror Manoela, o que tem, o que lhe fizeram para estar assim agoniada?!... «Ai, Madre Angelica!... Estava ahi? Ainda bem, ainda bem que a tenho junto de mim neste momento.

Veiu por fim a hora da chegada; abriu-se a portaria, e Manoela poude vêr pela grade entreaberta a Ama-Rita, muito vélhita e trôpega, acompanhada por uma mulher, uma verdadeira mulher forte e desempenada, que olhava com visivel curiosidade essas paredes enegrecidas que iam sêr o seu novo abrigo sahida dum convento, onde a mãe pagara para a educarem, para entrar naquelle como recolhida.

«Sim, iriam concordava Manoela mas não , a primavera começara apenas, e a Ama-Rita bem sabia como eram ainda invernosos e frios esses mêses de primavera na terra. Oh, se sabia! Quantas noites enregeladas passara acalentando nos braços a sua menina; quantos dias fechada em casa porque a neve e o frio não dava licença, até maio, de se sahir da lareira...

Era com um profundo desdem que atirava essa fortuna, que lhe era indiferente, para o poder da filha que não a soubera amar nem reconhecera o presente inestimavel que lhe dera antes, tendo-lhe dado o seu amôr. Partiu, acompanhada de Ama-Rita, que apenas levava o encargo de a entregar ao tio e voltar logo, pois essa é que, decididamente, não abandonaria mais a sua menina.

Alguns dias depois chegava Christina, acompanhada pela Ama-Rita, que chorava de comoção com o pensamento de revêr a sua querida menina. Manoela foi esperá-las á portaria, escondendo a custo a ansiedade da sua alma que tumultuava em desejos loucos de tomar a filha nos braços e gritar bem alto a sua paixão.

Libertada, porfim, foi acabar de viver para uma pequena casa de campo que a Ama-Rita descobriu escondida entre tufos de verdura tenra e uma dôce paz idilica a rodeá-la. Sentia-se de mal a peor, e sem esforço deixava-se morrer, desligada da vida, sem afeições ou deveres que a prendessem.

Ama-Rita, a bôa mulher que nunca a esquecêra, escrevia-lhe uma longa carta, de letra tortuosa, quasi ininteligivel, que ella decifrava a custo. « passados sete anos lhe escrevia, porque a senhora lho tinha prohibido e, não sabendo escrever, não confiava em ninguem da terra para fazer uma coisa contra a sua ordem. Agora era a sobrinha, a Luisa da Roda, que o fazia.

A filha!... Quasi a tinha esquecido, naquelle viver sem consciencia de si propria, que fôra a sua existencia ali. Como podera resignar-se durante tanto tempo com a certeza de que esse pequenino anjo, que era a carne da sua propria carne, vivia, nessa terra longinqua e áspera, sob os cuidados da velha Ama-Rita?

Ao princípio, quando chegou, a noticia da morte repentina da mãe, não se compenetrou bem do que essa morte representava para a sua existencia e apenas se sentiu surpreendida não tendo a pretensão de querer sofrer, por costume, o que de facto não sentia, por aféto. Mas, relendo melhor as cartas do irmão e da Ama-Rita, compreendeu por fim que era rica e senhora absoluta da sua pessôa.