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Aubry encobriu-se com o cortinado do leito; Lassagne atraz do vão da porta, e ambos aguardaram que os espectros acabassem de vencer os obstaculos. Queriam desenganar-se finalmente por seus olhos da verdadeira significação das mysteriosas apparições, que vinham visital-os. Não esperaram muito! Uma visão pouco sobrenatural

Teria passado uma hora, e jazia tudo em profundo socego, quando Aubry, que na realidade tinha o somno esperto de uma ave, accordou ao ruido lento dos gonzos enferrujados da porta falsa, que abria sobre o seu quarto, disfarçada com o velho espelho porta pela qual vimos verificada a evasão de Paulo de Azevedo mezes antes.

Vendo disperso pelo fogo das brigadas e pelo ferro dos dragões inglezes e da guarda da policia o bello regimento de Morancin, o general Margaron, emboscado desde o romper da manhã com toda a divisão de cavallaria franceza, deu por fim o signal do ataque, signal, que Armand de Aubry, Lassage, e muitos outros officiaes, não menos impacientes do que elles, aguardavam cheios de ira, e mordendo os beiços.

Apparencias! Verdades! E a prova é que se Manuel Coutinho, o coronel de milicias de Leiria, e muitos outros não gemem hoje em uma prisão, á generosidade de Aubry o devem. Ah! Conta-me essa historia. Quero sabel-a. Leonor expoz-lhe então os successos, que o leitor conhece, e terminou manifestando a sua confiança nas promessas do official francez.

A scena era para se ver no theatro francez! Enlouqueceste Armand?!... Não! redarguiu Aubry, cerrando os dentes e crescendo para elle indignado. Não enlouqueci! Mas ninguem até hoje me affrontou impunemente. Em tres dias o pae d'esta senhora ha de estar absolvido e solto...

Saíram logo, mas ainda Lagarde não tinha tido tempo de percorrer com os olhos um papel, que acabavam de lhe entregar, abriu-se uma porta particular, e entrou no escriptorio um mancebo, de rosto jovial, vinte oito annos de edade, e figura esbelta, realçada pelo uniforme de official de cavallaria, trajado com garbo. Era seu sobrinho Armand de Aubry. Dois parentes

Aonde está o outro francez?... Ahi! Segure-o sem bulha. Este fica por minha conta! Bem! Deram algumas passadas surdas, abriu o primeiro as cortinas da cama de Aubry, correu o segundo com a vista o leito deserto de Lassagne. Recuaram. Os officiaes, não não dormiam, como tinham desapparecido! Fugiram! exclamou o vulto mais alto, levantando a voz. Manuel Coutinho! Sr.

N'este momento ouviu-se um silvo forte e prolongado da banda da estrada, e dispararam-se dois, ou tres tiros quasi debaixo das janellas. Que é isto? bradou Manuel Coutinho. Estaremos vendidos? Não, meus senhores, não estão! accudiu Aubry, soltando-se de repente das cortinas, que o escondiam, e cortejando com extrema urbanidade os conspiradores.

Nada de imprudencias, por quem é!... atalhou Aubry, de repente serio, e apontando as suas, acção que Lassagne imitou serenamente. Não comecemos a narração pelo epilogo, erro crasso de rhetorica, segundo affirmava o padre Laly, sabio professor do meu collegio. Tambem trazemos com que responder, e menos mal. Deixemos, porém, as explicações de polvora e bala para o fim se não nos entendermos.

Das saudades, que leva d'aqui, e que nos deixa?! proseguiu a filha de Paulo de Azevedo no mesmo tom, mas fria e tremula por dentro da dôr e anciedade comprimida de Aubry. Não se envergonhe d'ellas! Tambem eu as sinto como irmã...

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