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Houve um momento de silêncio, em que o Gonçalo se pôs a escavar o chão com uma pedra, e a Rosária a torcer um fio saliente do seu vestido grosseiro. Ouviam-se as ovelhas chocalhando nas pastagens, ia a passar na rodeira, longe, um carro que chiava, com uvas para algum lagar. Não falas, Rosária? perguntou o pastor sem levantar os olhos para ela.

Aos seus pés tinham-se deitado os rafeiros, e os dois rebanhos, confundidos, andavam na pastagem. Olha as ovelhas juntas! notou o Gonçalo. Também nós nos quedámos juntos, volveu-lhe a pequena, sorrindo. As pobres dão-se bem, são amigas... continuou com júbilo. E nós também, ora também, Rosária? Também respondeu afoita a pastora.

Negras, de mais a mais, que era como ele gostava...» Promessa da mãe se eu melhorasse explicou a Rosária Lembranças... A gente quando está aflita... ...Quando está aflita... repetiu como um eco o pequeno. E depois, amuado: Se promete os olhos... A rapariga fitou-o, espantada. ...é porque tos tirava! concluiu convicto.

No mesmo instante, uma voz muito sonora gritou-lhe: Eh , Gonçalo, és? O pastor desatou a rir. Uh , Rosária, eu mesmo! Guarde-te Deus, pimpona! E logo a voz fresca da rapariga lembrou: Não te esqueceu a moda, rapaz! Isso esquece ela!... Ouviste, Rosária? Se outra fosse que ma tivesse ensinado... Neste meio tempo o Gonçalo retomara a manta e o marmeleiro para ir ter com a Rosária.

Daí a pouco, as duas crianças estavam perto uma da outra, cada qual seguida do seu rebanho. Ora viva a Rosária! disse o pastor muito alegre, parando defronte da cachopa. Bons dias, Gonçalo; então que ventos? Entre os dois travou-se então um longo diálogo em que se contaram tudo o que haviam feito desde aquele dia em que ambos tinham voltado juntos da feira dos Caniços.

A peste as mate! Febre que era mesmo lume desde manhã até ao escurecer... Uma assim! E na sua ingenuidade infantil, contou ao Gonçalo que muitas vezes, na febre, sonhara com ele, que se encontravam os dois por montes e prados, como agora tinha acontecido, «tal e qual». Assim te Deus salve, ó Rosária? atalhou rápido o pastor, a quem enchiam de orgulho os sonhos daquela pequena amiga.

Ante o seu espírito infantil perpassou, como um clarão de relâmpago, a imagem de uma rapariga, pastora como ele, com quem se havia encontrado mais vezes, mas que havia muito não vira. Ai, se fosse a Rosária!... dizia consigo. E impondo silêncio ao rebanho, que acabara de beber, pôs-se atentamente

E fitando fixamente os olhos negros da Rosária, disse-lhe assim: Mas olha o que prometeste... Inda vais feita no que disseste? «Ora que lhe custava a ela! que as ovelhas tinham andado juntas todo o santo dia, que mais era que dormissem no mesmo curral, essa noite?» E o mais, ó Rosária? perguntou de novo com interesse. A pequena ficou perplexa.

Quando ao repontar da manhã se levantaram, e saíram a ver o céu... Bonito dia, Gonçalo! Bonito dia, Rosária! Olha... ...na calma placidez do azul, bandos de pombas mansas iam voando... voando... Ao meu Henrique e a Beldemónio, seu amigo. Ao cair da tarde, o Tomé da Eira entrava em casa, cansado, esfalfado de andar um dia inteiro a mourejar no campo.

Por sinal que nem rês se vendeu! lembrou o Gonçalo. Por sinal! disse com pena a Rosária. Mas ele contou que viera por ali muitas vezes, muitas, sempre na que a encontrava. «Vê-la agora, por milagre de santo; quem o havia de sonhar! Nanja ele...» Mas se eu estive tão doente! volveu triste a Rosária. E como o outro acudiu a informar-se, ela explicou: Umas quartãs que me tiveram mondada!

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