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«Rasguem, bohemios, raça nomada! rasguem a lei, mas rasguem que o povo veja! rasguem, mas não mintam! rasguem, mas rasguem em publico, e toquem fogo nas tiras e com ella, vão por ahi além em busca de dinheiro, ou de vergonha!... Rasguem, que ella para nada serve, rolando sob vossos pés!... Rasguem, mas que o povo veja!... «A Tribuna é communista! «Está lavrada a sentença?
O senhor de Valneige, que não perdia occasião de instruir seus filhos, contou-lhes em poucas palavras a historia d'aquelle terreno elevado, que está como fechado por uma cinta de montanhas e cortado pelas ramificações das mesmas montanhas. Ensinou-lhes a não confundir os Ciganos com os Bohemios.
Estes são os habitantes do paiz, que vivem como todos nós; os Ciganos, aos quaes tambem algumas vezes se chama Bohemios, formam um povo á parte, que conserva os traços caracteristicos de uma nação errante, que no seculo quinze se espalhou pela Europa, e principalmente na Hungria, na Italia, em França, e em Hespanha. Ha d'estas tribus nomadas em todas as nações; o nome muda, mas os costumes não.
Um bello trovador, um d'aquelles gentis bohemios que percorriam o mundo de lyra no braço, deixando um rasto de paixões no caminho percorrido, chegou ao palacio, onde foi recebido com todo o carinho que então se dispensava ao seguro depositario das antigas tradicções guerreiras e das castas e bellas lendas d'amor.
De muitas maravilhas é sem duvida capaz a mão inspirada d'um artista!... Esses dois cavallos de Kanaoka, nascidos d'uma gotta de tinta e de algumas curvas humoristicas de pincel, mas em todo o caso ungidos do sopro sublime do eximio mestre, animavam-se por momentos, soltavam-se da tela, e ahi iam elles!... Felizes bohemios eram e felizes tempos eram.
Em França chamam-lhes Bohemios; em Hespanha Gitanos; em Italia Zingari; em Inglaterra Gypsies; em Portugal Ciganos. Este povo offerece um espectaculo muito singular no nosso velho mundo: desprezado, perseguido durante trezentos annos, e, apezar d'isso, sempre de pé, sempre errante, roubando por onde passa e lendo o futuro.
O talento!... Mas não ha nada verdadeiramente respeitavel senão o trabalho, a abnegação, a perseverança, o sacrificio e a virtude. O talento é uma simples fanfarronada. O talento é uma invenção dos bohemios para substituirem a toilette e a roupa branca. O talento é um falso titulo clandestino de apresentação, fabricado por aquelles que não teem titulos legitimos para que a sociedade os receba.
Jorge Miguel inspirára-lhe sempre mesmo nos dias de convivencia litterária no Martinho, uma especie de rancor desconfiado, com orlas de desprezo, e póde-se imaginar a surpreza do conselheiro, quando, avistados na aldeia os dois bohemios, Jorge Miguel lhe communicou as suas tenções de comprar o jornal e entrar de vez na politica militante.
O unico patrimonio de Marcial era a penna; a fortuna de André, os pinceis. Os dois amigos tinham passado a fatal epocha de bohemios e tanto Marcial com os seus dramas; como André com os seus quadros, ganhavam o sufficiente para viver bem e serem muitas vezes a Providencia de alguns companheiros. Mas continuemos na gare, que não tardará que visitemos a mansarda da rua do Prado.
Estamos fallando dos cinco intrepidos cavalheiros lisbonenses, que se propozeram fazer a pé, em verdadeiras condições de bohemios, uma insignificante jornada de Lisboa a Braga, resolução que importa o sacrificio de dar apenas alguns passos como quem vae da Praça Nova ao Palacio de Crystal para aproveitar a companhia de dois amigos que lembraram um duello a cerveja.
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