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Cedia levado pela convicção de que era seu dever dar tranquillidade á esposa proxima a ser mãe, sacrificando-se n'esta abdicação ao culto da maternidade, mas intimamente contando os dias que o separavam da hora da redempção. Nem poderia esquecer os propositos com que se casára: estavam a lembrar-lh'os as visitas a Villalva, que Laura supportava com mal dissimulado aborrecimento.

Pela manhã, desde que fallecera a mãe de Claudio, a casa de Villalva era invariavelmente visitada pelos devedores, pelos rendeiros, pelos muitos que a serviam ou d'ella dependiam. Vinham regular as suas contas, pedir perdão das dividas em atrazo ou que lhes esperassem pelo pagamento das rendas caidas, saber se poderiam contar com as terras, o que seria de futuro, a quem pertenceriam.

Cunha, um fidalgo que lhes mandara dar pão dôce e licores. Claudio estava contente, tudo aquillo era para elle; a singela vaidade infantil alegrava-se com as parcas riquezas que aos seus olhos tamanhas pareciam. O movimento foi baixando, as camisas juntaram-se dobradas sobre uma cadeira, a costureira não voltou, varreu-se a sala e o pequeno casal de Villalva caiu no seu habitual silencio.

Carvalho, tinha resolvido D. Maria Francisca, porque o marido estava para a Beira, pedir a Jorge que viesse vêr o amigo. Ainda se lembrou de aconselhar á filha que fosse a Villalva. Parecia-lhe elegante, de bom effeito no publico, esta reconciliação á hora da morte. Mas a filha revoltou-se.

Em casa ficaram os velhos e as creanças fazendo o pouco trabalho de que eram capazes. Talvez alli estivesse a suprema sabedoria. Que andava elle a fatigar-se com vãos estudos? O mais sensato seria voltar a Villalva, casar-se e trabalhar; fazer como aquelles que alli via.

Lembrava-se da noite em que Laura o fizera ir a correr procurar-lhe remedio para uma passageira dôr de dentes e comparava a com a serenidade que sua mãe mostrava nas dores physicas e moraes; lembrava-se da simplicidade de Villalva e comparava-a com a vida de infinitas necessidades a que entre gente fina se deixava arrastar.

Que o digam os seus primeiros amores que foram d'esse tempo. Á tarde, Claudio descia de Villalva; vinha á botica da villa, em frente da praça, ouvir os ociosos que por alli paravam e ensinar-lhes politica. Que eram o Fontes e o Braamcamp? Idiotas! Sabiam porventura alguma cousa?! Nem sequer conheciam os grandes livros modernos em que se aprendia a sciencia social.

Agora penetrava-o o desengano e abandonava Laura ao proprio desespero, que era apenas o castigo da ruindade dos seus sentimentos. Foi n'esta situação que uma manhã o vieram encontrar as peiores noticias de Villalva. A mãe mandava-o chamar; tivéra um novo ataque de paralysia e queria vêl-o. Claudio não se surprehendeu; ha muito esperava essa nova.

Na confusão do seu espirito perpassou a esperança d'um milagre. A mãe havia de converter a esposa; dos tristes despojos d'aquella que fôra uma santa emanaria, a transformar a alma ingrata, a humildade e o amor. Todo o dia se passou recebendo as visitas da gente de Albergaria que correu a Villalva. O enterro foi á tarde. Quando chegou a noite, voltou a paz. Tudo parecia dormir.

A verdade era que queria vêr-se sósinho com a mãe e affastar de si, nos seus ultimos momentos, tudo aquillo que podesse perturbar-lhe a concentração na saudade d'aquella que fôra a maior affeição da sua vida. Em Villalva, esperava-o o dr. Carvalho. Não saira d'alli toda a noite, dizia, nem sairia emquanto Claudio não viesse. Escusava dizer-lhe, acrescentava, que o estado da doente era muito grave.

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