Vietnam or Thailand ? Vote for the TOP Country of the Week !
Atualizado: 26 de outubro de 2025
Sabia de cor tôda a Comédia humana: viveu tôda a comédia humana. Pobre Suze! Tu ao menos, não precisaste de ser louca p'ra sêres santa: ergueste-te sempre corajosa e simples, sem um abatimento ou uma queixa; e através de insultos e torpezas, conservaste puríssima, apolínea, uma alma aberta ao sol como uma rosa!
Tu, Suze, sabias bem tôda a piedade humana e como ela é antes... e depois. Se algum principe Nekhuladoff tentasse redimir-te, como a tua palidez riria de alto ao pobre místico, a êle que te falava de perdão e arrependimento, quando os teus olhos de névoa viam claro, com um determinismo lúcido, fatal, que a tua vida era assim, irremediável, e nem tinhas ódios nem sêde de justiça, pois bem sabias que é inútil tê-la p'ra morrer
Harry contou-me ainda o processo, o julgamento, e como êle no tribunal acusou o Mar... A opinião dos médicos legistas, foi que êle estava doido irresponsável. Apesar disso, porêm, foi enforcado. A opinião pública, os jornais, eram contra êle. Harry estava lívido. Compreende agora porque odeio o mar. A Paulo Osório Suze Oh! dolce, della soglia del lupanare mirar le vergini stelle!
Vejo-te, digo-te adeus, Suze... O teu cadáver transe, empedra de martírio. Pareces mais alta, mais comprida. Não te souberam pentear; deixaram-te o cabelo em desalinho e, não sei porquê, está mais claro, de uma sêda mais pura, mais de infância... Cruzaram-te de certo as mãos no peito, mas escorregaram, descaíram, e amarelas, outonais, dizem ainda: «é um detalhe apenas, um detalhe...»
Ah! ter piedade, ter piedade... Mas isso é pouco, muito pouco: é um sentimento consolador só para eunucos. E eu queria amar-te ao sol, Suze, olhando as árvores irmãmente, todo o nosso desejo a escorrer luz... A noite vinha.
Quantos resistem íntegros ao regímen penitenciário que é a vida de hoje em sociedade? Alguns pelo isolamento; bem poucos dos que ficam. Não riam portanto ao ouvir que a Suze, a minha pobre Suze, foi nobre e foi cocotte. Cocotte, sim. Como nós todos. Porque, em summa, eu sou cocotte, tu és cocotte, êle é cocotte... Que horas serão? Deve ser quási madrugada.
Não posso eu, como quem empalha uma asa, amortalhar o génio da Suze em frases sabias, articular-lhe em sistema as formas tipicas, erguer emfim essa arquitectura metafísica, que ficaria na névoa das idades, como um farol p'ra sempre... Não, não posso. Sinto ainda correr-me o corpo todo, em ondas lentas, o afago dos seus cabelos, dos seus dedos, que eram vivos, enervantes como línguas...
Eu bem queria nestas palavras de febre, silhuetar a Suze, ter um pouco de método, monografá-la. Mas não posso, não posso. Tenho aqui na minha mesa de trabalho o seu retrato, e nem sei como tenho coragem p'ra escrever, como posso desviar os olhos da névoa abysmal dos seus, que me transem de irremediável e me enlouquecem de desejo.
E todo o meu trabalho de esta noite me parece o de um doido que quisesse com poeira reconstruir uma obra prima... Muitas vezes já, aludi ao seu cinismo. Mas entendam-me: cinismo, disse-o o forçado genial de Reading é a coragem de dizer as coisas como são e não como deviam ser. E a Suze era assim, quando falava a alguêm que a compreendia.
Minha pobre Suze, como tu eras justa, como tu adivinhavas, bruxa de vinte ânos, p'ralêm da hora que passa, o nada que virá. A tua desgraça era suprema, porque tu eras aquela que não se ilude nunca. Ainda assim, penso comigo: quem sabe! quem sabe!
Palavra Do Dia
Outros Procurando