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Os saloios da Murgeira, seus patricios, consideravam-n'o um Orpheu, um Amphion da guitarra. D'aqui o sentimento geral pela morte d'esse excellente rapaz, que deixava a perder de vista os harmonios da saloiada patusca. Todos, rapazes e raparigas, queriam velar o seu cadaver. Tinha funeraes de principe, o Ratinho.

Fui um dia a vila, Gil, E logo, ó sair da casa, Mais verde que um perrexil Cuidei que matava a brasa De galante e de gentil. Bem passei cos viandantes Mas despois la, quando cheas Vi ruas de outros galantes, Se eu viera ufano de antes, Não tornei tal ás aldeas. Dezia um vendo me assi: Bom vai o do barretinho! Outros dar os olhos vi, Outros chamar me ratinho, Tanto que me escondi.

Mas pensei que elles não tivessem ouvido... Jura que isso é verdade? O tenente olhou para mim: Juro. Então, decididamente, não era a alma do Ratinho. Ainda bem! porque eu me sentia disposto a acreditar... Tambem eu, se isso tivesse acontecido comigo! observou ingenuamente o brazileiro.

N'isto chegava, com um certo ar dominador, o tenente Silverio. O taverneiro commentava: na Murgeira não é o senhor capaz de tirar da cabeça a ninguem que foi a alma do Ratinho que na propria noite em que elle morreu, por volta das duas horas, esteve tocando guitarra. Venha d'ahi, dizia-me o tenente, vamos almoçar. Subimos para a charrette.

Estava elle pensando na triste sorte do Ratinho, e na orphandade irreparavel da sua guitarra, quando de repente principiou a guitarra a tocar um fado muito triste e soluçado. Ora pelos modos, acrescentou o taverneiro, era a alma de Ratinho que estava tocando guitarra pela ultima vez. Então o Joaquim Prado ouviu isso? Adormeceria elle, e estaria sonhando?... Essa é boa!

Não ha homem nenhum, por mais afoito que seja, capaz de dormir ao de um morto. O Joaquim ouviu mesmo tocar a guitarra, bem acordado que elle estava, e com dez réis de aguardente que tinha bebido ahi n'esse mesmo logar em que vocemecê se assentou. Poz-se em , logo que a guitarra começou a tocar, e não viu ninguem. O Ratinho estava morto e bem morto: não se mexia.

Uma rapariga, que diziam fóra sua namorada, havia entalado nas cordas da guitarra uma dhalia branca. O tenente Silverio conheceu que tinha mallogrado o passeio. O luto geral abrangia a Libania, cujos olhos chorosos contrastavam com os peitos foliões, saltitantes. Deixamos a Murgeira a prantear o seu Orpheu. O tenente foi almoçar comigo. Investindo com o linguado frito, falamos do Ratinho.

Falava-se muito, e não se chorava menos. Soubemos então o que se tinha passado; morrera o Ratinho. Quem era? perguntei. Deram-nos informações. Ratinho era um rapaz da Murgeira, que se fizera cocheiro dos Gatos. Andára doze annos em Lisboa, batendo, e aprendêra a tocar guitarra. Por esta prenda foi que elle se tornou celebre desde Lisboa até Mafra, desde Mafra até á Murgeira.

Ouvi-lhe ainda muitas historias do Ratinho. Uma d'ellas, principalmente, tinha o seu quê de phantastica. Durante a noite haviam ficado a velar o cadaver os rapazes mais afoitos da Murgeira. Ás duas horas da noite, coube a vez ao Joaquim Prado, um latagão forte como um Castello.

com as rédeas na mão, o tenente, muito chalaceador, perguntou-me: Então os saloios ouviram a alma do Ratinho tocar guitarra, na noite em que elle morreu?! Ouviram. Pois... quem tocava guitarra era eu. Você?! Eu, sim. A Libania estava muito triste, e eu vim de Mafra dizer-lhe coisas. Ficou mais alegre. Quando vinha embora, dei as rédeas ao impedido, e vim tocando guitarra.

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